OS MÚLTIPLOS ASPECTOS DO TERMO FÉ EM LUTERO

 OS MÚLTIPLOS ASPECTOS DO TERMO FÉ EM LUTERO

Doutor Raymundo Cortizo Perez, (Th. D.)
Filosofia, Teologia, História da Igreja ,Reforma protestante, Martinho Lutero
A terminologia escolástica deu origem a certas confusões sobre o termo, algumas das quais ainda perduram. Fides significava uma deliberação preliminar do crente, um ato de adesão confiante à totalidade da doutrina da Igreja infalível. Tal fé era implícita, isto é, referia-se ao conjunto das doutrinas ainda mal conhecidas e compreendidas. Pressupunha, pois o sacrificium intellectus, a decisão de abster-se de todo o exame crítico das doutrinas, retroativamente, presente e futuro. 2 O termo "fé" era empregado pelos Reformadores de uma forma diferente, como será observado, o termo era usado para designar a consciência da presença dominadora de Deus.Os reformadores e a justificação pela fé Nos moldes do cristianismo medieval, os catecismos católicos atuais por vezes traduzem "ter fé" ou "ser crente" por "admitir como verdade o que a igreja ensina. Para os Reformadores, "fé" tinha um sentido mais rico, do mesmo modo como o termo grego correspondente pistis, nas epístolas paulinas, ao qual se reportavam os Reformadores. Ressaltaram que, "justificação pela fé e não pelas obras", jamais significa "sem obras", visto que fé, entendida como sinônimo de contato real e vivificante com Deus, produzia invariavelmente uma vida nova.
Os reformadores e a justificação pela fé

Nos moldes do cristianismo medieval, os catecismos católicos atuais por vezes traduzem "ter fé" ou "ser crente" por "admitir como verdade o que a igreja ensina. Para os Reformadores, "fé" tinha um sentido mais rico, do mesmo modo como o termo grego correspondente pistis, nas epístolas paulinas, ao qual se reportavam os Reformadores. Ressaltaram que, "justificação pela fé e não pelas obras", jamais significa "sem obras", visto que fé, entendida como sinônimo de contato real e vivificante com Deus, produzia invariavelmente uma vida nova
OS MÚLTIPLOS ASPECTOS DO TERMO FÉ EM LUTERO

“No que diz respeito a fé, perguntas já são respostas”
A terminologia escolástica deu origem a certas confusões sobre o termo, algumas das quais ainda perduram. Fides significava uma deliberação preliminar do crente, um ato de adesão confiante à totalidade da doutrina da Igreja infalível. Tal fé era implícita, isto é, referia-se ao conjunto das doutrinas ainda mal conhecidas e compreendidas. Pressupunha, pois o sacrificium intellectus, a decisão de abster-se de todo o exame crítico das doutrinas, retroativamente, presente e futuro.
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O termo “fé” era empregado pelos Reformadores de uma forma diferente, como será observado, o termo era usado para designar a consciência da presença dominadora de Deus.
Os reformadores e a justificação pela fé

Nos moldes do cristianismo medieval, os catecismos católicos atuais por vezes traduzem “ter fé” ou “ser crente” por “admitir como verdade o que a igreja ensina.
Para os Reformadores, “fé” tinha um sentido mais rico, do mesmo modo como o termo grego correspondente pistis, nas epístolas paulinas, ao qual se reportavam os Reformadores. Ressaltaram que, “justificação pela fé e não pelas obras”, jamais significa “sem obras”, visto que fé,entendida como sinônimo de contato real e vivificante com Deus, produzia invariavelmente uma vida nova.
Lutero e a intuição da realidade transcendente

Para Lutero, a fé era um mundo cuja riqueza, infinita como opróprio Deus, jamais poderia ser esgotada. Ele empregava frequentemente o termo ceder para caracterizar a fé. “Importaaceitar a palavra,
ceder-lhe e a ela sujeitar-se com humildade. É assim, e somente assim, que seremos justificados”.
“Importa ceder a Deus quando ele nos julga, ceder-lhe quando nos oferece ajuda, ceder-lhe quando nos coage”.
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Nesse sentido, a fé foi pensada como o momento do encontro com Deus. A intuição imediata de realidades transcendentes, e conhecimento dessas realidades. No Curso sobre a Epístola aos Hebreus, ministrada em 1517 e 1518, Lutero fez a seguinte
afirmação:
A fé é a vida em Deus, a vida da alma, a vida do cristão. Pela fé, Deus, Cristo e todas as forças benéficas do universo são conosco, ou antes, são em nós. De tal modo a fé exalta o homem etransporta-o para junto de Deus, que Deus e o coração humano tornam-se uma só realidade. É a fé que nos comunica a graça justificadora. Nada nos une a Deus, senão a fé; e nada nos pode separar, senão a falta de fé.
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Por conseguinte, a fé diz respeito ao homem total: ela é a experiência do Deus que nos humilha para agir em nós, a fim de que possamos viver em Deus. Pela fé o cristão é livre, senhor de todos as coisas, e a ninguém subordinado. Enquanto que, pelo amor (que deriva da fé) o cristão é o servo submisso a todos.
O dualismo da teologia protestante do século XIX

Na Alemanha no século XIX, com os teólogos liberais, foi defendida a ideia de que a vida cristã não passa de uma dimensão íntima da alma, quando muito da família, e que, quanto o mais, o cristão terá
de conformar-se com o Estado ou com a economia. Lutero não faz distinção entre “homem interior” e “homem exterior”. Ele pensa o“homem único”, total, o verdadeiro cristão no duplo aspecto de sua existência, a vida exterior é fruto do contato entre alma e Deus.
Para agir no mundo material, a alma necessita de um instrumento dócil. Daí ser necessário dominar o corpo e fazer dele um órgão de ação, a fim de poder dar-se integralmente, pois o cristão deve antes possuir-se totalmente, o que só consegue pela fé.
Ser cristão é voltar-se com Deus para o próximo. Devemos ir em socorro dos nossos irmãos com todos os meios de que dispomos, a fim de sermos, cada um de nós, um Cristo par o seu próximo. Pela fé o cristão supera-se a si mesmo, alcança a Deus, e de Deus desce em amor humilhando-se no encontro com o próximo, como sinal de comunhão com Deus.
Fé e amor como sinônimos

Em 1520, o capelão da corte Espalatino, solicitou a Lutero que refutasse a acusação que se lhe fazia de que, pregando a salvação pela fé, desinteressava-se das obras e da vida cristã. Foi então que Lutero escreveu o Sermão sobre as boas obras. Afirmando que, no fundo, amor e fé são mesma coisa: “Deus prova
o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.
Lutero tem a firme convicção de que a confiança em Deus e o amor para com ele desencadeiam todo o impulso indispensável para as boas obras. Sendo assim, não há necessidade, nem utilidade, em
prescrevê-las minuciosamente. “No movimento contínuo que é a vida, ela nos apresenta situações inéditas para honrar a Deus e servir ao próximo, que nenhuma regulamentação poderia prever”.
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A fé traz boas obras e é irresistível. Pois tal como um ser humano vivo não pode deixar de se mexer, de comer, beber e ter ocupação – e não é possível que tais obras não aconteçam; porquanto ele vive, nem é necessário mandá-lo ou pressioná-lo a fazer tais obras, pois basta estar vivo que ele as fará – da mesma forma também não se precisa nada mais para praticar boas obras do que dizer: “Crê somente, e farás tudo com naturalidade”.
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O cristão pratica o bem por amor ao bem

Em todo momento Deus está detrás da parede a observar pela janela, ou seja, ele esta sempre presente. “Estão longe da fé aqueles que só pensam em acumular suas pequenas boas obras a fim de
reivindicar recompensas”.
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Lendo a epístola aos Romanos, Lutero afirma que a fé é obra de Deus. Recebemo-la como dom.
Um de seus efeitos é a confiança viva e audaciosa na graça de Deus. O segundo efeito da fé, é transformação, as faculdades são totalmente mudadas pelo Espírito Santo. Essa realidade viva,atuante e criado que é a fé, não pode deixar de operar o bem. É impossível separar as obras da fé, como é impossível separar o calor da chama.
O teólogo alemão Gerhard Ebeling, diz que:
Através da fé, o ser humano é colocado entre Deus e seu próximo, como instrumento que recebe de cima e em baixo passa adiante, tornando-se cano, por assim dizer, através do qual a fonte dos bens divinos deve fluir incessantemente em direção a outras
pessoas.

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