ESTER, UMA RAINHA SÁBIA E ESTUDO SOBRE O LIVRO


Prof. Raymundo Cortizo Perez, (Th.D.)
A história de Ester é uma das mais conhecidas da Bíblia e está registrada no livro do Antigo Testamento que traz seu nome. Ester foi uma judia exilada na Pérsia e viveu durante o período de reinado de Assuero (Xerxes) entre 486 e 465 a.C. Neste estudo bíblico, conheceremos mais sobre quem foi Ester na Bíblia.
Quem foi Ester na Bíblia?

Ester era uma jovem órfã, filha de Abiail, e, como já dissemos, uma judia exilada na Pérsia. Ester foi criada por seu primo Mardoqueu. O nome Ester muito provavelmente vem do persa stara e significa “estrela”, mas alguns intérpretes sugerem que talvez seu nome tenha ligação com o nome de uma deusa babilônica, a Ishtar. Já seu nome hebraico era Hadassa, que significa “murta”, um tipo de arbusto.
No texto bíblico, Ester é descrita como uma mulher que possuía notável beleza, tanto que foi contada entre as mais formosas do reino. O texto bíblico também enfatiza a bravura e a lealdade de Ester para com o povo judeu.
A história de Ester: Ester se torna rainha

Certo dia, o rei da Pérsia realizou uma festividade para o povo na fortaleza de Susã. Enquanto ele dava um banquete para homens, sua esposa, a rainha Vasti, oferecia um banquete às mulheres na casa real.
Em um determinado momento, o rei Assuero mandou chamar Vasti, ordenando que ela entrasse em sua presença usando a coroa real. A rainha se recusou a cumprir tal ordem, porque, muito provavelmente, implicava em alguma situação desonrosa à ela.
Com a recusa da rainha, Assuero a destitui do posto. Mais tarde, ele foi aconselhado a convocar as moças virgens e de boa aparência que havia em seu reino, e Ester estava entre essas jovens. Ester então alcançou favor na corte de Assuero, isto é, ela conseguiu o agrado necessário para poder sobreviver na corte. Obviamente isso foi resultado da providência divina (cf. Et 2:17; 5:2).
Ester foi submetida a um tipo de tratamento de beleza durante doze meses. Passado esse período, Ester foi conduzida por um dos eunucos a presença do rei. As jovens eram levadas ao rei e depois não retornavam mais a ele, exceto se o rei gostasse de alguma e a chamasse pelo nome.
Isto foi o que aconteceu com Ester. “O rei amou a Ester mais do que todas as mulheres, e ela alcançou perante ele favor e benevolência mais do que todas as virgens” (Et 2:17). Assim, Ester foi coroada rainha no lugar de Vasti. Foi feito um banquete pela coroação de Ester. Após se tornar rainha, Ester passou a viver no palácio em Susã.
A rainha Ester é informada sobre o plano de Hamã

Hamã, um importante príncipe do império da pérsia, resolveu destruir todos os judeus que havia no reino de Assuero, por conta de que Mardoqueu não se inclinava perante ele. A descrição de Hamã como “o agatita” sugere uma possível origem amalequita, povo que era inimigo mortal de Israel.
Mardoqueu contou a Ester o terrível plano de genocídio que Hamã iria executar, e lhe pediu para interceder perante o rei. A rainha Ester não podia entrar na presença do rei sem que fosse chamada, pois isso significaria colocar sua própria vida em risco.
Então Mardoqueu fez com que ela se atentasse ao fato de que Deus, providencialmente, poderia ter determinado os acontecimentos em sua vida para que ela pudesse estar exatamente em uma posição em que pudesse agir em favor dos judeus (Et 4:14).
Vale dizer que até aquele momento o rei não sabia que Ester era de origem judaica, assim, ele não sabia que havia permitido o extermínio do povo de sua rainha. Diante da situação delicada, a rainha Ester conclamou todos os judeus a jejuarem durante três dias, pois ela agiria contra a lei e entraria na presença do rei.

A rainha Ester usa de sabedoria e intercede pelos judeus

Após os três dias, Ester se aprontou com seus trajes reais e entrou no pátio interior da casa do rei. Assuero, assentado em seu trono, viu Ester parada no pátio e estendeu o cetro de ouro que tinha na mão em favor de Ester, permitindo que ela se aproximasse.
O rei perguntou o que ela queria, e disse-lhe que daria a ela até mesmo metade de seu reino. Ester, agindo com muita sabedoria, apenas o convidou juntamente com Hamã para participar de um banquete que ela havia preparado. Na ocasião do banquete, Ester solicitou permissão para preparar um segundo banquete no dia seguinte.
No segundo banquete, Ester revelou para o rei que ela era uma judia, e que todo o seu povo estava sentenciado à morte. Ester também contou que Hamã era quem tinha tramado todo aquela maldade.
O rei ficou muito furioso e deixou o banquete indo para o jardim do palácio. Hamã, sabendo que a situação havia ficado extremamente complicada para ele, resolveu permanecer ali para suplicar pela própria vida à Ester.
Quando o rei retornou à casa do banquete, encontrou Hamã caído sobre o divã de Ester. Aquela foi uma violação de protocolo irreversível, pois o rei entendeu que Hamã havia tentado violentar a rainha: “Porventura quereria ele também forçar a rainha perante mim nesta casa?” (Et 7:8).
Quando o rei exclamou essas palavras, logo os servos da corte entenderam que aquele era o fim da linha para Hamã, e cobriram o seu rosto. Às vezes era costume entre os gregos e romanos cobrir o rosto de um sentenciado à morte, porém entre os persas essa é a única referência desse costume.
Hamã foi então enforcado na própria forca que ele havia preparado para Mardoqueu. Como o rei não podia revogar o decreto anterior, a rainha Ester conseguiu fazer com que um novo decreto autorizando os judeus a se defenderem fosse publicado. Assim, os judeus passaram a ter o direito a legitima defesa.
Como resultado disso, os judeus mataram seus inimigos e exterminaram a casa de Hamã. Talvez o pedido de Ester para que um segundo dia de matança ocorresse, demonstre que havia ali em Susã grande ódio contra os judeus (Et 9:13,14).
Ao todo foram mortos mais de 75 mil inimigos que odiavam o povo judeu, porém eles não tocaram nos despojos de seus inimigos. Talvez aqui possa ser visto um contraste com o episódio em que os despojos dos amalequitas foram tomados, fato que levou ao fim de Saul (1Sm 15:17-19).
Devido a todo aquele acontecimento, foi estabelecida a Festa de Purim como uma celebração permanente em Israel.
A história de Ester certamente nos leva a refletir sobre a soberania de Deus em cumprir os seus propósitos, bem como a importância de confiarmos em Deus, ainda que isto coloque em risco a nossa própria vida. Também devemos nos atentar para o fato de que devemos agir com sabedoria, sempre intercedendo a Deus para que Ele direcione as no as nossas ações.

O que nos ensina a história de Ester?
Ela nos ensina a não entrar em desespero por conta das adversidades e problemas, como também nos mostra que não devemos agir por impulso ou sem pensar nas consequências. Assim como Ester, tenha sabedoria e calma na hora de pensar, falar e tomar atitudes, busque ao Senhor e sua resposta divina antes de tomar decisões.

ESTUDO SOBRE O LIVRO
Prof. Raymundo Cortizo Perez, (Th.D.)

O livro de Ester é um dos livros que compõe o Antigo Testamento. Esse livro narra a história de Ester, Mardoqueu, Hamã e Assuero. Na Bíblia hebraica esse livro está organizado dentro do grupo chamado Megilote, cuja composição consiste em cinco livros. São eles: Rute, Cantares de Salomão, Eclesiastes, Lamentações e Ester. Neste estudo bíblico faremos um panorama do livro de Ester e conheceremos suas principais características.
Quem escreveu o livro de Ester?

O autor do livro de Ester é desconhecido. Alguns já sugeriram que tenha sido Mardoqueu, porém detalhes textuais tornam essa possibilidade bastante improvável. O que se sabe ao certo é que o autor do livro de Ester foi um judeu que possuía um grande conhecimento dos costumes persas, da geografia do império e da corte.
É bem provável que ele tenha vivido em Susã. Possivelmente ele também teve acesso aos escritos de Mardoqueu, às crônicas do governo persa e aos decretos reais. Devido a algumas semelhanças no estilo hebraico, Esdras e Neemias também já foram apontados como possíveis autores.
Data e ocasião em que o livro de Ester foi escrito

A data mais provável em que o livro de Ester foi escrito fica entre segunda metade do século 5 a.C e o início do século 4 a.C. Alguns tentam propor uma data mais recente, por volta do século 1 a.C. Entretanto, as evidencias praticamente descredenciam essa sugestão.
Já falamos que o autor do livro de Ester conhecia muito bem as dependências do palácio de Susã, e este palácio foi queimado em no máximo 30 anos após a morte do rei Assuero (465 a.C.). Também o autor demonstra uma postura favorável com relação ao rei persa.
Por último, a ausência da influência da linguística grega no texto, praticamente anula qualquer possibilidade do livro ter sido escrito após 331 a.C., quando Alexandre o Grande tomou o Império Persa. Considerando tudo isto, uma data entre 465 a.C. e o final do reinado de Artaxerxes I em 424 a.C. parece ser a melhor possibilidade.
Propósito e características do livro de Ester

O propósito principal do livro de Ester é explicar a origem da Festa de Purim e estabelecê-la como um memorial oficial do grande livramento que Deus concedeu ao povo judeu durante o período em que tiveram sob o domínio persa. Saiba mais sobre as festas judaicas.
O livro de Ester é um livro que possui uma riqueza literária muito grande. Seu autor dominava muito bem as técnicas para construção de uma narrativa envolvente, repleta de detalhes, tensão, contrastes e reviravoltas surpreendentes.
Um exemplo do nível de organização apresentado no texto é o contraste que autor estabelece de forma perfeita entre os planos de Hamã e o que de fato lhe aconteceu (Ester 6-7). O nível de sutileza nos detalhes empregados pelo autor pode ser notado no episódio em que Hamã suplica pela misericórdia de Ester e acaba sendo acusado de tentativa de estupro (Ester 7:7-9).
Mas toda essa forma impecável de escrita é utilizada pelo autor para apontar para a provisão de Deus na história da salvação do seu povo. O autor do livro de Ester conduziu muito bem uma narrativa de suspense que certamente prende a atenção do leitor.
Também é possível identificar algumas semelhanças entre a história contatada no livro de Ester e a história de José registrada no livro de Gênesis (cf. Ester 2:2-4; 3:10; 8:6; Gênesis 41:34-42; 44:34).
Contexto histórico descrito no livro de Ester

O livro de Ester se concentra no período de reinado do rei Assuero, conhecido na história como Xerxes I (486-465 a.C.). O livro relata alguns momentos da vida do povo judeu exilado sob o domínio do Império Persa. Os personagens principais do livro são: Ester, Vasti, Assuero, Mardoqueu e Hamã.
O Império Persa dominava 127 províncias, desde a Índia até a Etiópia (Ester 1:1,3; 10:1). Estima-se que naquela época o império possuía aproximadamente 100 milhões de habitantes. Destes, pelo menos 3 milhões eram judeus.
A história narrada no livro se passa em Susã, uma das três capitais persas. Essa cidade também servia como a residência real de inverno. Várias evidências arqueológicas e documentos históricos estão de acordo com os detalhes descritos no livro.
Existem indícios de que havia uma lei que limitava o governante persa a ter uma única esposa, porém o livro de Ester afirma que havia um harém no palácio de Assuero. Depois, achados arqueológicos confirmaram que de fato Dario e Xerxes tinham haréns.
Arqueólogos franceses descobriram nas ruínas de Susã os mesmos detalhes que são descritos pelo autor acerca do palácio (Ester 1:2-6; 2:11,14; 3:15; 5:1; 6:4; 7:7,8). Alguns questionam o motivo de Heródoto, historiador grego, não mencionar Vasti e Ester como esposas de Xerxes, enquanto destaca Amestris como sua mulher. Todavia, é conhecido que Heródoto por vezes omitiu em seus escritos personagens importantes.
Por outro lado, Heródoto registra que Xerxes convocou uma importante reunião em seu terceiro ano de reinado para discutir uma campanha contra os gregos. Isto está de acordo com o que é relatado no livro de Ester, onde uma assembleia de príncipes é descrita naquele mesmo ano (Ester 1:3).
A falta de menção ao nome de Deus no livro de Ester

É verdade que o nome de Deus não aparece diretamente mencionado no livro de Ester. Muitas especulações já foram feitas na tentativa de explicar o porquê do autor não ter citado explicitamente o nome de Deus, mas nenhuma delas é digna de nota. Apesar disto, o que se sabe é que o autor conseguiu transmitir perfeitamente a ênfase espiritual que pretendia.
No livro de Ester ele faz referência ao jejum e ao clamor dos judeus por ajuda. Obviamente eles estavam jejuando e pedindo ajuda a Deus. Mardoqueu também demonstra sua fé em Deus explicando que, se Ester falhasse, ele sabia que o socorro para os judeus aconteceria de alguma forma. Mardoqueu também expressa sua compreensão acerca da soberania de Deus quando enxerga a providencia divina na posição de honra que foi dada a Ester (Ester 4:13,14).
Aqui também vale mencionar o versículo que destaca a fala dos sábios e da esposa de Hamã, quando lhe disseram: “Se Mardoqueu, diante de quem já começaste a cair, é da descendência dos judeus, não prevalecerás contra ele, antes certamente cairás diante dele” (Ester 6:13).
Nesta frase está mais do que clara a referência ao poder e a glória do Deus de Israel diante do fracasso iminente do arrogante e vaidoso Hamã. Na verdade, a forma com que o autor do livro conduziu a narrativa, coloca Deus em evidência do começo ao fim do livro de Ester.
Princípios fundamentais do livro de Ester

O livro de Ester ensina alguns princípios fundamentais para nossa vida cristã. Nele aprendemos que em determinados momentos o povo de Deus sofre intensas perseguições de seus inimigos, porém Deus preserva o seu povo durante os períodos difíceis.
No livro de Ester também aprendemos que, como povo escolhido do Senhor, devemos exaltá-lo por todas as suas maravilhas. Devemos permanecer fieis a Deus esperando sua provisão a nosso favor, confiando que Ele derrotará definitivamente todos aqueles que se levantam contra sua obra.
Esboço do livro de Ester

Introdução, contexto e a escolha de uma nova rainha (Ester 1-2).
O conflito entre Hamã e Mardoqueu, a ameaça ao povo judeu e a ruína de Hamã (Ester 3-7).
A defesa e o livramento do povo judeu (Ester 8-9)
Epílogo (Ester 10).
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O que nos ensina a história de Ester?
Ela nos ensina a não entrar em desespero por conta das adversidades e problemas, como também nos mostra que não devemos agir por impulso ou sem pensar nas consequências. Assim como Ester, tenha sabedoria e calma na hora de pensar, falar e tomar atitudes, busque ao Senhor e sua resposta divina antes de tomar decisões.

NATÃ: A MISSÃO DE UM PROFETA - 2SAMUEL 12:1-30

 

Prof. Raymundo Cortizo Perez, (Th.D.)

Acabamos de ver o gigante Davi, pois tinha crescido muito e se engrandecido, juntamente com toda Israel, caindo por terra por causa de mais uma mulher. Por ela, se deixou levar pelo pecado a ponto de trair, adulterar, e assassinar.
b. Davi e Natã - 12.1 -25..
Agora está Davi tranquilo como se nada tivesse ocorrido recebendo uma visita especial. Era Natã, o profeta de Deus. Homem corajoso para entregar um recado desses a um rei que poderia matá-lo conforme fosse seu temperamento.
Não era nada fácil essa tarefa, mas quem tem a palavra de Deus somente quer uma coisa: entregar essa palavra ao seu destinatário. Assim, Natã foi de uma sabedoria impressionante.
Ao invés de ir até ele e acusá-lo dos crimes, o que certamente poderia provocar nele uma reação defensiva e perigosa para o profeta, este conta-lhe uma historinha muito interessante que denuncia todo pecado de Davi, mas o transferindo para outra pessoa pelo que a sentença de morte pronunciada por Davi contra o homem mau da historinha de Natã, era a sua própria sentença!
Digno de morte é este homem e ainda terá de devolver pela cordeirinha de forma quadruplicada! Essa foi a sentença que saiu dele, pois ficou irado contra tal homem maligno.
Natã, então conclui a sua história: - tu és tal homem! Davi, na mesma hora, percebe tudo e ao invés de endurecer o seu coração, reconhece o seu erro e Natã continua o seu discurso feito em nome de Deus.
Davi rejeitou e desprezou a Deus! Praticou todos os seus pecados em oculto, como se ninguém pudesse saber. Deus julga Davi e sobre ele cai a sentença pesada de Deus.
Davi fora mesmo um homem privilegiado por ter o seu pecado sido denunciado de forma tão rápida. Ai dos que obtêm sucesso na ocultação do mal praticado e levam toda a vida sem serem descobertos!
Ai dos que tem sucesso na vida do crime e nada acontece de imediato com eles. Ai dos que são espertos para o mal e permanecem no oculto das suas infrações.
É por que Deus já determinou sobre esses bem sucedidos no mal o seu terrível juízo e apenas os está preservando para o dia e a hora em que terão de enfrentar as consequências terríveis de seus atos.
O amor de Deus por Davi era muito grande – jamais injusto – por isso que logo lhe saiu a sentença contra ele. Significava que Deus o estaria perdoando, mesmo tendo sido tão maligno. Davi tinha um coração segundo o coração de Deus e nele brotou o arrependimento.
Arrependeu-se verdadeiramente e Deus o perdoou verdadeiramente. E quanto às consequências? Dessas, ele não pode se safar e foram terríveis. A espada jamais se apartaria de sua casa. Da sua própria casa, o mal se levantaria contra ele. Outro faria de forma pública o que ele fez de forma oculta.
Eu vejo duas fases na história de Davi. Uma antes da queda e outra depois da queda. São dois Davi diferentes, vivendo as suas vidas e buscando ao Senhor.
Até este momento, o primeiro Davi era o símbolo do sucesso, da prosperidade, do temor a Deus e o das vitórias sobre todos os seus inimigos. O segundo Davi, veremos a partir de agora.
Denunciado o seu pecado, ele reconhece que pecou e se arrepende e busca a Deus. Agora, teria de refazer a sua vida e começa por Bate-Seba. Antes, tenta em oração buscar a Deus pela vida do menino que nascera.
Lutou, jejuou, orou, mas Deus manteve a sua sentença de morte contra o menino. Davi, então se levanta, come e consola Bate-Seba. Nisso, houve a geração de outro menino, Salomão, o qual Deus amou, desde o seu nascimento.
Aquela criança que morrera, simbolicamente, era o primeiro Davi que estava sendo enterrado com ela, mas Davi, mesmo, não fora enterrado por que Deus o perdoou.
Depois de ter visto que ela de fato morrera e que não havia mais jeito, eis o que Davi fez: se levantou da terra, e se lavou, e se ungiu, e mudou de roupas, e entrou na casa do SENHOR, e adorou. Então foi à sua casa, e pediu pão; e lhe puseram pão, e comeu.
Isso daria uma tremenda pregação! Aqui, está a descrição, em detalhes, do que aconteceu com Davi, depois de sua morte pelo pecado, o que descreve a nossa própria vida quando saímos da morte para a vida!
Levantou-se da terra – Deus estava dando a ele uma nova chance de vida! Lavou-se – Deus o estava purificando de todo mal cometido! Ungiu-se – uma nova unção estaria agora sobre ele! Mudou de roupas – tirou aquelas velhas roupas do pecado e agora estava usando as novas roupas da justiça de Deus! Entrou na casa do Senhor – sim, de vestes novas, há novidade de vida, diante de Deus! Adorou – agora, devemos viver não mais para nós mesmos, mas para Deus que nos fez levantar da terra e nos lavou pelo seu sangue! Foi a sua casa e pediu pão e deram-lhe pão e ele comeu – o pão da vida que dá vida aos homens é Jesus Cristo e a sua palavra é o nosso alimento!
Ainda bem que Deus nos ama, apesar de nós e nos deu na pessoa de Jesus Cristo a chance de nos redimir de todo pecado e de todo mal.
II Sm 12:1 E o SENHOR enviou Natã a Davi;
e, apresentando-se ele a Davi, disse-lhe:
Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre.
II Sm 12:2 O rico possuía muitíssimas ovelhas e vacas.
II Sm 12:3 Mas o pobre não tinha coisa nenhuma,
senão uma pequena cordeira que comprara e criara;
e ela tinha crescido com ele e com seus filhos;
do seu bocado comia, e do seu copo bebia,
e dormia em seu regaço, e a tinha como filha.
II Sm 12:4 E, vindo um viajante ao homem rico,
deixou este de tomar das suas ovelhas e das suas vacas para
assar para o viajante que viera a ele;
e tomou a cordeira do homem pobre, e a preparou para o
homem que viera a ele.
II Sm 12:5 Então o furor de Davi se acendeu em grande maneira
contra aquele homem, e disse a Natã:
Vive o SENHOR, que digno de morte
é o homem que fez isso.
II Sm 12:6 E pela cordeira tornará a dar o quadruplicado,
porque fez tal coisa, e porque não se compadeceu.
II Sm 12:7 Então disse Natã a Davi:
Tu és este homem.
Assim diz o SENHOR Deus de Israel:
Eu te ungi rei sobre Israel, e eu te livrei das mãos de Saul;
II Sm 12:8 E te dei a casa de teu senhor,
e as mulheres de teu senhor em teu seio,
e também te dei a casa de Israel e de Judá,
e, se isto é pouco, mais te acrescentaria
tais e tais coisas.
II Sm 12:9 Porque, pois, desprezaste a palavra do
SENHOR, fazendo o mal diante de seus olhos?
A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por
tua mulher; e a ele mataste com a espada
dos filhos de Amom.
II Sm 12:10 Agora, pois, não se apartará a espada jamais
da tua casa, porquanto me desprezaste,
e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para
ser tua mulher.
II Sm 12:11 Assim diz o SENHOR:
Eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti,
e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos,
e as darei a teu próximo,
o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol.
II Sm 12:12 Porque tu o fizeste em oculto,
mas eu farei este negócio perante todo o Israel
e perante o sol.
II Sm 12:13 Então disse Davi a Natã:
Pequei contra o SENHOR.
E disse Natã a Davi:
Também o SENHOR perdoou o teu pecado; não morrerás.
II Sm 12:14 Todavia, porquanto com este feito deste lugar
sobremaneira a que os inimigos do SENHOR blasfemem,
também o filho que te nasceu certamente morrerá.
II Sm 12:15 Então Natã foi para sua casa;
e o SENHOR feriu a criança que a mulher de Urias dera
a Davi, e adoeceu gravemente.
II Sm 12:16 E buscou Davi a Deus pela criança;
e jejuou Davi, e entrou, e passou a noite
prostrado sobre a terra.
II Sm 12:17 Então os anciãos da sua casa se levantaram e foram a ele,
para o levantar da terra; porém ele não quis, e não comeu pão
com eles. II Sm 12:18 E sucedeu que ao sétimo dia
morreu a criança; e temiam os servos de Davi dizer-
lhe que a criança estava morta, porque diziam:
Eis que, sendo a criança ainda viva, lhe falávamos,
porém não dava ouvidos à nossa voz; como, pois, lhe
diremos que a criança está morta?
Porque mais lhe afligiria.
II Sm 12:19 Viu, porém, Davi que seus servos falavam
baixo, e entendeu Davi que a criança estava morta,
pelo que disse Davi a seus servos:
Está morta a criança?
E eles disseram:
Está morta.
II Sm 12:20 Então Davi se levantou da terra,
e se lavou,
e se ungiu,
e mudou de roupas,
e entrou na casa do SENHOR,
e adorou.
Então foi à sua casa,
e pediu pão; e lhe puseram pão,
e comeu.
II Sm 12:21 E disseram-lhe seus servos:
Que é isto que fizeste? Pela criança viva jejuaste e choraste;
porém depois que morreu a criança te levantaste e comeste pão.
II Sm 12:22 E disse ele:
Vivendo ainda a criança, jejuei e chorei, porque dizia:
Quem sabe se DEUS se compadecerá de mim,
e viverá a criança?
II Sm 12:23 Porém, agora que está morta, porque
jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar?
Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim.
II Sm 12:24 Então consolou Davi a Bate-Seba, sua mulher,
e entrou a ela, e se deitou com ela, e ela deu à luz um filho,
e deu-lhe o nome de Salomão;
e o SENHOR o amou.
II Sm 12:25 E enviou pela mão do profeta Natã,
dando-lhe o nome de Jedidias, por amor ao SENHOR.
II Sm 12:26 Ora pelejou Joabe contra Rabá, dos filhos de Amom,
e tomou a cidade real.
II Sm 12:27 Então mandou Joabe mensageiros a Davi, e disse:
Pelejei contra Rabá, e também tomei a cidade das águas.
II Sm 12:28 Ajunta, pois, agora o restante do povo, e cerca a
cidade, e toma-a, para que tomando eu a cidade,
não se aclame sobre ela o meu nome.
II Sm 12:29 Então ajuntou Davi a todo o povo, e marchou para
Rabá, e pelejou contra ela, e a tomou.
II Sm 12:30 E tirou a coroa da cabeça do seu rei,
cujo peso era de um talento de ouro,
e havia nela pedras preciosas, e foi posta sobre a
cabeça de Davi; e da cidade levou mui grande despojo.
II Sm 12:31 E, trazendo o povo que havia nela, o pôs às serras,
e às talhadeiras de ferro, e aos machados de ferro,
e os fez passar por forno de tijolos;
e assim fez a todas as cidades dos filhos de Amom;
e voltou Davi e todo o povo para Jerusalém.
Agora Jeditias – o amado do Senhor - ou Salomão tinha nascido e este consolou tanto a mãe como ao pai. Era ele também o filho da promessa, o escolhido para ser o transportador da semente messiânica.
Deus escolheu Davi, Bate-Seba e Salomão para fazerem parte da linhagem messiânica. Isso nos prova algo importante. Que o errar é do homem e que sendo pecador, peca, mas o perdão, a graça, a misericórdia e o renovar da vida pertencem a Deus!
O nascimento de Salomão, o filho da promessa, foi a prova do perdão e do amor de Deus para com Davi, apesar de Davi. No entanto, isso não o poupou de jeito algum das consequências terríveis de seu pecado.
2. As consequências do pecado de Davi - 12.26--20.26.
A fim de nos situarmos, I e II Samuel foi dividido em cinco grandes partes. Nós estamos na parte IV Davi: seu reinado pleno – 2:1 – 20:26. Dentro dela, na segunda e última subparte B. O reino de Davi sob a maldição divina - 11.1-20.26. Nessa subparte B, estamos na segunda e última seção 2. As consequências do pecado de Davi - 12.26 - 20.26.
Essa última seção 2, foi dividia em 4 subseções, das quais veremos a partir de agora, dentro deste capítulo a subseção “a”.
a. A fraqueza de Davi enquanto guerreiro - 12.26-31.
Depois disso uma peleja vitoriosa contra Amon e a obtenção de uma coroa com um talento de puro ouro, ou seja, cerca de 30 kg de ouro e a puseram sobre a cabeça de Davi. O perigo era ele ter um tremendo torcicolo, devido ao peso da coroa.
O interessante na sequência da narrativa que começou justamente com Joabe indo a guerra e deixando Davi no palácio, foi que, desta vez, depois de ter Davi caído, ele mesmo se levantou e não ficou no palácio, mas seguiu com os homens em guerra. Se ele tivesse feito isso, antes, talvez não tivesse caído em pecado com Bate-Seba!
No amor de Cristo, a santa paz de Deus, porque dEle e para Ele é toda a honra e toda a Glória. Amém.

A PREGAÇÃO EXPOSITIVA

A PREGAÇÃO EXPOSITIVA
Prof. Raymundo Cortizo Perez, (Th.D.)

 A pregação e o cristianismo são indissociáveis. Na verdade, a história do cristianismo confunde-se com a historia da pregação.

O culto no Antigo Testamento consistia basicamente de sacrifícios, mas um dos deveres dos sacerdotes era instruir o povo na Lei de Deus.
“O meu povo está sendo destruído, por que lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos” (Os 4:6)
“Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é mensageiro do Senhor dos Exércitos” (Ml 2:7)
Tampouco faltaram expositores da Bíblia sob a antiga aliança. O livro de Deuteronômio é uma série de sermões de Moisés e o exemplo mais notável de expositor no Antigo Testamento é Esdras (cf. Ne 8:1-8).
Mas, foi à medida que os judeus foram dispersos a partir do cativeiro babilônico, dando azo ao surgimento da sinagoga, que a pregação foi se tornando o elemento central da adoração, herança que o cristianismo não iria dispensar, razão pela qual o Novo Testamento está repleto de referências à pregação. Hernandes Dias Lopes, citando Larsen, aviva que “Estudos cuidadosos dos documentos indicam 221 referências à pregação no Novo Testamento. O vocabulário grego para descrever a pregação abrange 37 verbos diferentes”.
Nessa última grande parte das Escrituras, João Batista desponta como pregador poderoso, a quem os habitantes de Jerusalém e Judéia saíam para ouvir (Mt 3.5). Entretanto, “o Fundador do cristianismo foi o primeiro dos seus pregadores” (Stott). Lucas relata (Lc 4.17-21) como Jesus pregou expositivamente a passagem de Isaías 61.1,2, demonstrando que pregar é basicamente ler, explicar e aplicar as Escrituras ao auditório. A pregação do Senhor Jesus teve como base o alto respeito que Ele tinha pelas Escrituras (Mt 5.17-19; 22.29).
No ministério dos apóstolos, o exemplo do Mestre seria seguido. No dia de Pentecostes, o que Deus usou para converter três mil pessoas não foram as línguas de fogo nem as línguas humanas dadas aos discípulos (At 2.1-4). Com efeito, tais fenômenos causaram o preconceito de uns, o ceticismo de outros e o sarcasmo de outros mais (At 2.7,12,13). O que trouxe como resultado o grande número de convertidos foi a pregação de Pedro, que consistiu basicamente na explicação da Escritura – em como o Senhor Jesus cumpre textos do Antigo Testamento – e na sua aplicação aos ouvintes.
O outro exemplo neo-testamentário que não pode faltar em nossa brevíssima abordagem é o do apóstolo Paulo. Nele, se verifica tanto o reconhecimento da inerrância das Escrituras (2Tm 3.16,17) como o fato de que havia sido chamado, sobre todas as coisas, para anunciá-las (1Co 1.14-17). Sempre que pode, dedicou-se somente à pregacão (At 18.5). Reconhecia que a conversão dos ouvintes a partir da pura e simples pregacão, sem os excessos da retórica tão admirada pelos gregos, resultava na demonstração de poder do Espírito e não gerava novos crentes dependentes do pregador (1Co 2.4,5).
Ditas essas palavras iniciais, cumpre advertir ao leitor que a nossa pretensão com o presente artigo é defender a pregação expositiva como a forma homilética que melhor se ajusta à importância da pregação e suas finalidades, conforme esposadas pelo cristianismo, bem como à suficiência e inspiração das Escrituras. Senão, vejamos.
PREMISSAS DA PREGAÇÃO EXPOSITIVA
Vamos começar explorando a questão colocando as pressuposições básicas da pregação expositiva:
. A pregação expositiva pressupõe, mais que qualquer outra forma homilética, a inerrância das Escrituras, resultante da sua inspiração verbal e plenária. Conforme as palavras de J. MacArthur, citado por Lopes, “A pregação expositiva é um gênero declarativo no qual a inerrância encontra sua expressão lógica, e a igreja tem sua vida e poder. Afirma simplesmente que a inerrância exige a exposição como o único método de pregação que preserva a pureza das Escrituras e cumpre o propósito para o qual Deus nos deu a Sua Palavra”;
. A pregação expositiva pressupõe, mais que qualquer outra forma homilética, a suficiência das Escrituras e o fechamento do cânon. Isso indica que não há mais qualquer revelação a ser acrescida à Palavra de Deus, como também que não há mais qualquer necessidade de novas revelações. As Escrituras são completas e suficientes. John Sttot sugere que a raridade de uma pregação bíblica nas igrejas deve-se à falta de convicção quanto à sua importância;
. A pregação expositiva pressupõe, mais que qualquer outra forma homilética, a existência de verdades absolutas e de absolutos morais. Isso importa colocar, sobretudo face à tendência relativista dos nossos dias;
. A pregação expositiva pressupõe, mais que qualquer outra forma homilética, completa dependência de Deus por parte do pregador. O pregador expositivo está cônscio de que não tem uma mensagem própria. O pregador cristão não é um “apóstolo”, devendo tal designação ser reservada para os Doze e Paulo. A sua mensagem é a . Palavra de Deus. Ele se achega às Escrituras vazio e delas sai com uma mensagem ao povo de Deus.
OS INIMIGOS DA PREGAÇÃO EXPOSITIVA
Antes de adentrarmos no tema propriamente dito a que nos propomos, vale ainda advertir sobre quais são os grandes inimigos da pregação expositiva.
. O pragmatismo. Pregadores que desejam dar às massas o que elas buscam, e não o que precisam, tenderão a colocar ênfase nas demandas do homem e não na exigência divina de ser o centro da nossa vida e do nosso culto;
. O despreparo. É impossível expor as Escrituras com acuidade sem os necessários esforço e dedicação quanto ao estudo. Alguns não estudam porque lhes faltam recursos; outros, porque imaginam não precisar; outros ainda porque são preguiçosos e não têm gosto e disciplina pela e para a leitura;
. O ativismo. Alguns pastores estão ocupados demais com questões administrativas, assistenciais, com negócios da denominação etc., e se tornaram “executivos da fé”, indo na contramão da decisão apostólica de dedicação exclusiva à oração e ao ministério da Palavra (At 6.4);
. A sequidão espiritual. Muitos pastores já perderam completamente o entusiasmo, a paixão, pelo serviço de Deus, e toda a tarefa que cumprem, o fazem em nome de um mero profissionalismo e por terem o ministério simplesmente como um meio de sustento. Esses são os profissionais da fé. Muitos deles são descrentes completos e jamais experimentaram o verdadeiro novo nascimento;
. As liturgias inadequadas. Muito do tempo do culto é roubado da pregação e ocupado com outros elementos (alguns não autorizados pelas Escrituras), para satisfazer a intolerância pós-moderna a mensagens mais consistentes;
. O misticismo. Surgido na Frígia, em 155, com Montano, o montanismo foi uma reação ao formalismo e à excessiva institucionalização da igreja. Montano pôs ênfase nas doutrinas do Espírito Santo e na segunda vinda de Cristo e se considerava como um profeta através de quem o Espírito Santo falava à Igreja, como ocorria por meio dos profetas e apóstolos. Diversos “pastores” hodiernos reproduzem o erro de Montano, achando-se portadores de uma mensagem original e, por isso, passam a desprezar a sublime tarefa de expor as Escrituras.
OUTROS ESTILOS DE PREGAÇÃO
Nesse passo, comentaremos brevemente as alternativas à pregação expositiva que costumam ser ensinadas nos seminários e utilizadas pelos pregadores.
. Pregação Tópica. O sermão tópico é construído em torno da elaboração de um determinado assunto, que o pregador deseja apresentar de forma sistemática. Nesse sermão, o tópico que o pregador deseja apresentar não está relacionado com nenhuma passagem bíblica específica, mas com todas as (ou muitas das) passagens bíblicas que contribuem à sua elucidação. Nesse sermão, o pregador parte do assunto que deseja apresentar e depois vai à Bíblia.
Imaginemos um sermão em que o pregador deseja abordar a doutrina do novo nascimento. Ele poderia expô-la dividindo sua pregação do seguinte modo: (1) Sua absoluta necessidade (Jo 3.7); (2) Seu Autor: Deus o Pai (Tg 1.18; 1Pe 1.3); (3) Seu Agente: Deus o Espírito Santo (Tt 3.5); (4) Sua base: a morte e a ressurreição de Jesus Cristo (1Pe 1.3); (5) O Instrumento: a Palavra de Deus (Tg 1.18; 1Pe 1.23); (6) Seus efeitos: a santidade (1Jo 2.29; 3.9), a fé, o amor (1Jo 5.1,4), a esperança (1Pe 1.3).
Observe o leitor que mesmo no sermão tópico há indispensável necessidade de expor, ainda que sucintamente, o significado de cada passagem e como ela contribui à compreensão do tema. Advirta-se de haver possibilidade de textos-prova serem usados fora do contexto em que foram escritos e para finalidades não pretendidas pelo autor original.
. Pregação Textual. É mais próxima da pregação expositiva que o sermão tópico, com os seguintes destaques: (a) usa-se uma passagem bíblica mais curtas, em geram um versículo ou parte dele; (b) a passagem utilizada sugere o tema e as divisões principais do sermão; (c) o desenvolvimento de cada divisão inclui a abordagem de outras passagens. Hernandes Dias Lopes informa que Charles Spurgeon usou apenas um versículo ou parte de um versículo bíblico em quase 70% das suas mensagens.
Vejamos dois exemplos de sermões textuais. Ao primeiro, chamaremos de “Exortação ao mandamento da edificação mútua”, com base em 1Tessalonicenses 5.14. Exortar é exercer influência sobre a vontade e a decisão de outros; é encorajar a observar certos preceitos. Assim, Paulo propõe quatro tipos de pessoas que compõem a igreja, todos carentes de auxílio na edificação: (1) Admoestem os insubmissos; (2) Consolem os desanimados; (3) Amparem os fracos; (4) Sejam longânimo para com todos.
Vamos ao segundo exemplo, com base em Mateus 1.21, que denominaremos “O Salvador eficiente”. Por que “Jesus” se chama “Jesus” (gr. Iesous; heb. Jeshua): (1) O que Jesus fará: “Ele (certamente) salvará”; (2) Quem Ele salvará: “o Seu povo”; (3) Do que Ele salvará: “dos pecados deles”.
Fácil concluir que as divisões foram sugeridas pela passagem bíblica escolhida e carecem de desenvolvimento a partir de outras. Ademais, percebamos que esse sermão nada mais é que uma exposição de uma porção menor das Escrituras.
. PREGAÇÃO EXPOSITIVA: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS
A pregação expositiva é uma mensagem extraída de uma passagem bíblica mais longa que um ou dois versículos, consistente basicamente na sua leitura, explicação e aplicação, a partir de uma séria exegese que leva em consideração o estudo da linguagem, da história e do contexto do texto que será exposto, como também das implicações do seu significado ao auditório que o ouve. “O sermão expositivo é aquele que explica uma passagem da Escritura, organiza-a ao redor de um tema central e pontos principais e, em seguida, aplica decididamente sua mensagem aos ouvintes” (Vines, citado por Hernandes Dias Lopes). Na pregação expositiva, o texto dirige o sermão. O sermão é a explicação e a aplicação do texto. O conteúdo do sermão expositivo é o significado do texto e as suas implicações para os ouvintes.
Do conceito acima esboçado, extraem-se as seguintes características da pregação expositiva:
. A passagem bíblica é a única fonte da mensagem. O pregador não chega à Bíblia com uma mensagem sua, desejando um texto bíblico que a justifique ou a ilustre;
. A mensagem é extraída do texto mediante processo racional de interpretação histórico-gramatical, mas que não dispensa atitudes de oração e dependência do Espírito. O sermão expositivo exige grande esforço hermenêutico e humildade por parte do pregador;
. A preparação do sermão dá-se com base em uma interpretação correta do texto, que descobre o que ele realmente comunicou aos seus ouvintes originais. Parte-se da premissa que o texto tem apenas um significado pretendido por Deus, embora possua inúmeras aplicações práticas;
. A mensagem é aplicada ao auditório de hoje. A aplicação é o propósito da pregação expositiva. É nesse ponto que o pregador demonstrará aos seus ouvintes contemporâneos a relevância das Escrituras, sua atualidade e a necessidade que eles têm dela. A aplicação responde a seguinte questão: “O que Deus quer dizer a mim com esse texto?” É na aplicação que o auditório toma para si as exortações, advertências e consolações que desafiaram os crentes filipenses, efésios, tessalonicenses etc.
AS VANTAGENS DA PREGAÇÃO EXPOSITIVA
W. A. Criswel, grande pregador expositivo do século passado, pontuou que “o melhor de todos os sermões é um sermão expositivo … Há uma vantagem nesse tipo de pregação para o próprio pregador. Ele aprende, cresce em seu íntimo, e a mensagem que lê na Bíblia torna-se para ele carne e sangue. Há também vantagens eternas para a congregação: ela aprende a amar a Bíblia, aprende a mensagem de Deus e passa a familiarizar-se com as Sagradas Escrituras …”.
Discorramos mais pormenorizadamente sobre as insuperáveis vantagens dos bons e velhos sermões expositivos.
. Sem pressões desnecessárias. O pregador expositivo se preocupa com aquilo que Deus lhe exige: fidelidade em comunicar Sua Palavra. Ser “bem-sucedido” é ser fiel na comunicação da verdade;
. A escolha não é do pregador. O pregador expositivo deseja expor todo o conselho de Deus e não seus temas preferidos;
. O texto já está posto: “prega a Palavra”. O pregador expositivo não tem ansiedade quanto ao que pregará no próximo culto, nem perde tempo procurando um texto “adequado” no sábado à noite. Ele já sabe em qual texto se dedicará durante a semana, a partir da segunda-feira pela manhã;
. Preparo do pregador e segurança para todos. O pregador expositivo é estimulado ao constante estudo das Escrituras e é uma garantia à congregação de que ela ouvirá a Palavra de Deus e não um recado encomendado pela última ocorrência;
. Não falta maná. O pregador expositivo não corre o risco de se tornar repetitivo, porque abordará os temas dirigidos pelos textos que expõe;
. O púlpito não é o gabinete. O pregador expositivo não usa o púlpito para endereçar uma mensagem a este ou àquele. Lloyd-Jones tem chamado o púlpito de alguns pastores de “a fortaleza dos covardes”. Os textos certamente enfocarão os problemas sentidos pela congregação, sem que isso tenha sido necessariamente pensado pelo pregador, e não raro a Providência será mais nitidamente reconhecida.
PREPARANDO O SERMÃO
Chegamos ao que pode interessar mais ao leitor, ao “como” da pregação expositiva. Sugiro, após mais de 30 anos de preparação de sermões (na maioria das vezes, expositivos), que o leitor siga os seguintes passos.
. Escolha o texto que será exposto em uma única ocasião ou em uma série de sermões (um capítulo, uma série de capítulos interligados ou um livro inteiro);
. Conheça-o inteiramente, lendo-o e nele meditando. Nessa fase, consulte comentários bíblicos e tente encontrar o grande tema de cada passagem que será exposta em cada sermão, bem como o tema de todo o texto e a conexão entre as passagens;
. Consulte obras monográficas e sistemáticas que guardam relação com o assunto do texto escolhido e dicionários que elucidem o sentido de vocábulos;
. Com tudo em mãos, escreva o sermão, selecionando o material pesquisado e usando somente aquilo que esclarece o sentido do texto e realmente ajuda na aplicação dele ao auditório. Será uma grande tentação entrar em muitos detalhes que lhe foram úteis no trabalho exegético, mas que não o serão aos ouvintes;
. Ainda reforço essa advertência: escreva o sermão. Calvino não escrevia sermões, mas você não é Calvino! A escrita de sermões exclui as coisas indesejadas do improviso; fixa aquilo que o pregador não pode deixar de dizer; evita que se perca na administração do tempo com digressões inúteis; demonstra ao auditório que o que está sendo dito foi previamente pensado, reflete a passagem exposta e que tudo não é um improviso para endereçar recados; além disso, um bom sermão, bíblico, teocêntrico, centrado no evangelho, merece ser preservado, porque, se assim não for, melhor não tivesse sido pregado ou, se foi, que seja esquecido;
. O sermão deve conter (1) uma introdução (o contexto e o propósito da passagem, não do pregador!), (2) uma elucidação (a explicação do texto a partir do contexto), (3) a aplicação ou as implicações do texto para o auditório e (4) uma conclusão;
. Enquanto avança no sermão, nada impede o pregador de fazer as aplicações pontuais que o texto for sugerindo. Mas, as grandes aplicações, aquelas que decorrem inquestionavelmente do assunto do texto e que são de máxima importância para a congregação, o pregador fará bem em pontuá-las ao final, destacando-as em pontos facilmente discerníveis. Toda a pregação deve ter concorrido para esse momento. A aplicação é o ápice da pregação expositiva. Tudo existiu em função dela. Todavia, muito cuidado! O pregador deverá está certo que as aplicações com as quais exortará o auditório realmente procedem do texto, como deduções lógicas dele.
. Uma última advertência: escreva o sermão, mas não o leia monótona e mecanicamente; pregue-o apaixonadamente, como se a vida eterna dos ouvintes dependesse da força do envolvimento de toda a sua personalidade enquanto prega. É verdade que Jonathan Edwards, dizem os biógrafos, apenas leu seu “Pecadores não mãos de um Deus irado” e em uma dessas ocasiões ocorreu um grande despertamento espiritual… mas você não é Jonathan Edwards!
CONCLUSÃO: O QUE PODERÁ ARRUINAR A PREGAÇÃO EXPOSITIVA
Dedico a conclusão a colher aquilo que já foi largamente sugerido ao longo de todo o artigo, destacando atitudes que, se preponderantes no pregador, ele desesperará da pregação expositiva e buscará um caminho mais fácil. Em outras palavras, o que pode arruinar a pregação expositiva?
. A preguiça do pregador ou o seu despreparo causado por outro fator. Nem sempre o despreparo decorre da preguiça. Pode resultar também da falta de condições financeiras adequadas ou de uma mentalidade largamente propagada no meio pentecostal clássico, segundo a qual o estudo faz definhar a espiritualidade e torna os crentes frios;
. O desejo do pregador de agradar o auditório ou, no mínimo, o receio de desagradá-lo. Não raro, pastores evitam falar sobre coisas que sabem que devem falar, por medo de perder o pastorado;
. As atitudes de tédio e monotonia do pregador, ou o excesso de gracejos. Cuidado especial deve ser tomado em relação aos extremos. Para uns, semblante sempre sisudo é sinônimo de seriedade e zelo para com as coisas de Deus. Para outros, piadinhas extemporâneas constroem uma comunhão acolhedora e simpática. No primeiro caso, o extremo alcança as raias de uma religião mecânica, que censura a exteriorização de aspectos importantes da personalidade; no segundo, seu limite é a superficialidade de um suposto serviço a Deus que pode não passar de um momento semanal para relaxar;
. A ausência de uma influência poderosa do Espírito, em geral decorrente da falta de vida consistente de oração, pecados não abandonados e frieza espiritual;
. Excesso de detalhes (histórico-geográficos, por exemplo), citações (como as que fazem referência a teólogos e pregadores do passado e do presente) e retórica exagerada (a exemplo de ilustrações que chamam mais a atenção que a mensagem e a recitação de vocábulos gregos). Em geral, essas coisas são parte de uma (pretensa) intelectualidade desconectada da importância prática das Escrituras.

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