INSTITUTO DE TEOLOGIA LOGOS
Doutorado em
Teologia
EPÍGRAFE:
“Pois onde estiver o amor, ali estará também o
nosso coração” Bíblia, Lucas, 12:41.
TÍTULO DO
TRABALHO
A IMPORTÂNCIA DA PREGAÇÃO EXPOSITIVA, BEM COMO
DE SUA RELEVÂNCIA PARA A IGREJA CONTEMPORÂNEA
RAYMUNDO
CORTIZO PEREZ FILHO
MACAUBAL – SP
2023
RAYMUNDO
CORTIZO PEREZ FILHO
TÍTULO DO
TRABALHO
A
IMPORTÂNCIA DA PREGAÇÃO EXPOSITIVA, BEM COMO DE SUA RELEVÂNCIA PARA A IGREJA
CONTEMPORÂNEA
Trabalho de Curso submetido ao Instituto de
Teologia Logos como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de
Doutorado em Teologia.
MACAUBAL – SP
2023
DEDICATÓRIA
Ao Deus
Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, pela bondade e misericórdia, infinito amor e
vida em abundância, que em tudo e em todo o tempo tem me sustentado, que não me deixou desanimar e que me amou,
ainda que não houvesse méritos em mim. Ao único Deus e Senhor, toda a honra e
glória.
Soli Deo
Gloria
AGRADECIMENTOS
Agradeço,
à minha filha Ariane Cortizo Schafer, pelo carinho, amor, pelo incentivo,
apoio, cooperação e sua preciosa ajuda e orientação na formatação deste texto.
Uma fortaleza edificada sobre rochas.
Aos meus
pais, Raymundo Cortizo Perez e Antônia Maria Pellegrini Cortizo (in memoriam),
pelo amor, amizade, carinho e educação. Caminho seguro da jornada.
Ao
Instituto de Teologia Logos, pela oportunidade, pelo profissionalismo,
dedicação, seriedade, proporcionando-me crescer como cristão e dando a mim uma
formação intelectual excelente sobre as Sagradas Escrituras. O Sol do saber que
brilha na seara teológica.
Porque
para ele e por ele, e para ele, são todas as coisas, glória pois a ele,
eternamente. Amém. Romanos, 11:36.
E sede
cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos.
Apóstolo Tiago, 11:22.
ÍNDICE
1. RESUMO
2. Introdução
3.
A relevância bíblica na exposição das Escrituras
3.1Trajetória da exposição bíblica no ANTIGO
TESTAMENTO
3.1.1 A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE MOISÉS
3.1.2 JOSÉ, SAMUEL, DAVI E SALOMÃO COMO PROCLAMADORES DA PALAVRA DE DEUS
3.1.3 A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE ESDRAS
3.1.4 ISAÍAS, JEREMIAS E ZACARIAS COMO EXPOSITORES DA PALAVRA DE DEUS
3.2
A Trajetória da pregação expositiva no NOVO
TESTAMENTO
3.2.1 A EXPOSIÇÃO
BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE JOÃO BATISTA
3.2.2 A EXPOSIÇÃO
BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE JESUS CRISTO
3.2.3 A EXPOSIÇÃO
BÍBLICA NO MINISTÉRIO DO APÓSTOLO PEDRO
3.2.4 A EXPOSIÇÃO
BÍBLICA NO MINISTÉRIO DO APÓSTOLO PAULO A PREGAÇÃO EXPOSITIVA E AS ESCRITURAS
3.2.5
A PREGAÇÃO EXPOSITIVA E AS ESCRITURAS
4. A RELEVÂNCIA HISTÓRICA DAS ESCRITURAS
4.1 A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DOS
PAIS DA IGREJA
4.1.1 A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO
MINISTÉRIO DE ORÍGENES
4.1.2 A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO
MINISTÉRIO DE JOÃO CRISÓSTOMO
4.1.3 A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO
MINISTÉRIO DE AGOSTINHO DE HIPONA
4.2
A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DOS
REFORMADORES
4.2.1 A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE MARTINHO LUTERO
4.2.2 A EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE JOÃO
CALVINO
4.3
A EXPOSIÇÃO BÍBLICA DE CALVINO À ERA MODERNA
5.
A EXPOSIÇÃO BÍBLICA E A ERA CONTEMPORÂNEA
5.1 O QUE
NÃO É EXPOSIÇÃO BÍBLICA
5.2 O QUE É
EXPOSIÇÃO BÍBLICA
5.2.1 GUIA DE COMO PREPARAR UM
SERMÃO EXPOSITIVO
5.2.2 PERGUNTAS QUE SE DEVEM FAZER
AO TEXTO AO ELABORAR O SERMÃO EXPOSITIVO
5.3 O
RESULTADO DA EXPOSIÇÃO BÍBLICA NA VIDA DA IGREJA
6.CONCLUSÃO
7 REFERÊNCIAS
1.RESUMO
Esta
monografia realizou um estudo sobre a importância da pregação expositiva, bem
como de sua relevância para a igreja contemporânea. Se objetivo foi analisar a
exposição bíblica ao longo da história, iniciando com os profetas do Antigo
Testamento, passando pelo ministério terreno do Senhor Jesus Cristo e
estendendo-se pela trajetória dos apóstolos, pais da igreja, os reformadores
como Martinho Lutero e João Calvino e os grandes expositores bíblicos da
atualidade. O objetivo é trazer um panorama histórico da exposição bíblica,
tanto como, seu estilo e resultados. A Palavra de Deus deve ser pregada de
forma fiel e integral. O remédio de Deus para a igreja contemporânea é a sua
Palavra.
Palavras Chaves: Exposição
Bíblica, Palavra de Deus, Ministério, Pregação, Igreja
1.ABSTRACT
This monograph
conducted a study on the importance of exhibition preaching, as well as its
relevance to the contemporary church. The objective was to analyze the biblical
extradition throughout history, beginning with the prophets of the Old
Testament, passing through the earthly ministry of the Lord Jesus Christ and
extending through the trajectory of the apostles, fathers of the church,
reformers such as Martin Luther and John Calvin and the great biblical
exhibitors of today. The goal is to bring a historical overview of the biblical
exhibition as much as its style and results. The Word of God must be preached
faithfully and integrally. God's remedy for the contemporary church is his
Word.
Key Words: Biblical Extradition, Word
of God, Ministry, Preaching, Church
2.
INTRODUÇÃO
Vivemos
numa época na qual a fiel pregação das Escrituras não encontra mais espaço
dentro de algumas igrejas de nossos dias. Há um desvio de objetivos na
pregação, uma falta de compromisso com o estudo da Palavra que possa apresentar
ao homem de nossos dias um sermão Cristocêntrico que glorifique a Deus, uma
pregação que apresenta o estado caído do homem e lhe mostre o caminho da
salvação. Porém, quando analisamos a trajetória da igreja através do retrovisor
da história, o que constatamos é que todas as vezes em que a igreja esteve no
seu auge, a pregação das Escrituras também estava no auge. Não podemos exigir o
crescimento da igreja de tal forma que este mesmo crescimento sacrifique a
exposição da Palavra de Deus.
Outro
fator interessante em nossos dias é que alguns ministros não estão mais
preocupados em pregar toda a verdade de Deus. Não se preocupam mais em pregar o
que é certo, e sim, o que dá certo. Em concordância com isso. LOPES, (2008,
pág. 43), diz: “o que estamos acompanhando é um verdadeiro comércio das
Escrituras, onde o Evangelho se torna um produto, o púlpito um balcão e os
crentes consumidores”.
Atualmente,
muitas pessoas têm recorrido ao Evangelho apenas como caçadores de experiência.
Basta observarmos os sermões televisivos das megas igrejas e logo iremos
perceber que boa parte da pregação que se tem ouvido é denominada por temas,
tais como: “o que eu, ou você, precisa” ou “o que você deve fazer para se
sentir bem”. O que deve ser levado em conta é que Deus não tem a obrigação de
realizar os nossos desejos, ao contrário do que se tem observado nos sermões
atuais, uma pregação totalmente centralizada no ser humano. Deus não tem
compromisso com a palavra do homem, Deus tem compromisso com a sua palavra.
Outro
aspecto que também não pode deixar de ser observado é que, atualmente, a
pregação expositiva perdeu o seu lugar para um estilo de pregação cujo foco é
somente o que Deus pode fazer pelo homem, e não o que Deus requer do homem. A
pregação não pode ser antropocêntrica como temos visto com muita frequência em
nossos dias, mas sim, deve ser uma pregação teocêntrica, conforme nos ensina o
catecismo de Westminster, dizendo que, “a verdadeira pregação expositiva
precisa anunciar e defender a doutrina de que o fim principal do homem é
glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre, e não ao contrário”.
Acredita-se
que não existe outra forma de ver a igreja de Deus crescendo a não ser uma
verdadeira volta à pregação fiel e expositiva das Escrituras. Infelizmente, o
que muitos têm ensinado é que o fim principal de Deus é honrar e satisfazer os
desejos do coração do homem. A igreja não pode se conformar com uma pregação
que expõe somente o que Deus pode fazer pelo homem e ocultar o que Deus requer
do homem, que é arrependimento. Sendo assim, pode-se afirmar que a solução do
problema é uma volta completa para a Palavra de Deus, pois, cultivando um
compromisso profundo com as Santas Escrituras, poder-se-á ver a igreja de Deus
crescer de forma que agrade ao Senhor dentro de uma dieta espiritual saudável.
No
entanto, uma vez que está inserido em um contexto marcado por distorção da
Palavra, pragmatismo e teologia da prosperidade, propõe-se, através deste
trabalho, mostrar que é preciso resgatar a pregação expositiva. Ou seja, uma
pregação que glorifique a Deus, e por causa dessa certeza, aí sim, a igreja
experimentará um crescimento numérico e saudável, entendendo, também, que a
pregação expositiva, indiscutivelmente, é o único meio de ensinar, doutrinar,
discipular, ministrar e fortalecer o corpo de Cristo.
A Deus
toda Glória!
3. A
relevância bíblica da exposição das Escrituras
É com
pesar no coração e tristeza no espírito, mas ao mesmo tempo, com uma
indescritível convicção de que, como defensores da verdade, não podemos
negligenciar a responsabilidade de afirmar que o padrão de pregação em alguns
meios de comunicação nos dias atuais é deplorável. O profeta Oséias, disse: O
meu povo está sendo destruído, porque lhe falta conhecimento” (Os 4.6 b).
LOPES, (2008, pág. 7) dizia que, “A maior contribuição que a igreja pode dar ao
mundo de hoje, a uma geração atribulada e amedrontada, é retornar à pregação
consistente e relevante da Palavra de Deus”. No entanto, não restam dúvidas de
que tanto a superficialidade, quanto a insegurança e inconsistência, são as
marcas que, lamentavelmente, têm ditado as regras de uma era mergulhada no pós-modernismo.
Sendo assim, não temos alternativa a não ser abraçarmos a ideia de que somente
um retorno fiel às Escrituras e uma pregação pura e simples serão capazes de
reerguer novamente o evangelho das cinzas do descrédito. STOTT (2001, pág. 52),
em seu livro “Crer é também pensar” afirma o seguinte: “Os dons que mais devem
ser procurados e apreciados, portanto, são os dons do ensino, já que é por meio
deles que a igreja é mais edificada”.
De acordo
com LOPES (2008, pág. 51), quando perguntaram para D. L. Moody acerca do maior
problema da obra de Deus, ele respondeu que “O maior problema da obra são os
obreiros”. Destarte, tendo em vista os aspectos observados, o que se pode
detectar é que boa parte da incerteza a respeito da verdadeira missão da
igreja, e do evangelho deve-se, indiscutivelmente, a uma geração de líderes e
pregadores que perderam a confiança na Palavra de Deus como única regra de fé e
prática que, por incrível que pareça, muitos já não se dão mais ao trabalho de
estudá-la em profundidade e de proclamá-la sem medo de favoritismo.
CHAPPELL
(2007, pág. 18) afirma que, “a exposição bíblica liga o pregador e as pessoas à
única fonte de transformação espiritual e verdadeira”. Considerando que os
corações são transformados quando as pessoas se deparam com a Palavra de Deus,
os pregadores expositivos ficam comprometidos a dizer o que Deus diz. O
compromisso de Deus não é com a palavra do homem, Deus se compromete única e
exclusivamente com a sua Palavra.
Não é a
palavra do homem que não volta vazia, e sim, a Palavra de Deus. Prova disto é
que a maioria dos grandes expositores do passado usou o método expositivo da
pregação bíblica. Sendo assim, analisar-se-á de forma bíblico-histórica a
pregação expositiva, a começar pelo ministério dos profetas do Antigo
Testamento.
3.1. A
TRAJETÓRIA DA EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO ANTIGO TESTAMENTO.
O Antigo
Testamento está repleto de pregadores expositivos. No contexto israelita o
profeta era a boca de Deus, ou seja, o canal pelo qual Deus transmitia sua
Palavra ao coração do homem. A palavra "Profeta" vem do Hebraico: נָבִ֣יא, nā·ḇî, em latim propheta que significa “intérprete”
ou “porta-voz”. O profeta não era alguém que estava autorizado a proclamar a
Palavra de Deus em seu nome, mas a função específica do profeta não era outra,
a não ser anunciar a Palavra de Deus em nome de Deus.
O que é
pregação “expositiva”. Quais as suas marcas? Quais os seus valores? Pode-se
afirmar com exatidão que não é possível compreender o desenvolvimento da
pregação expositiva sem antes entender, porém, o que ela significa.
A palavra
“exposição” deriva-se de um termo latino “expositio”,
que traduzido significa “tornar acessível”, “publicar”, ou “divulgar”, de tal
forma que a mesma se torne compreensível ao ouvinte contemporâneo. Pregação
expositiva, então, nada mais é que a volta às origens bíblicas, ou seja, o
pregador não é aquele que trás uma mensagem nova da parte de Deus, mas aquele
que transmite a mensagem de Deus. (STOTT, 2011), um dos maiores exegetas que já
existiu, diz que o pregador cristão não é um profeta e afirma:
Portanto, o pregador cristão não é um profeta.
Ele não recebe nenhuma revelação original; sua tarefa é expor a revelação que
já foi definitivamente dada. E embora, pregue no poder do Espírito Santo, ele
não é `'inspirado" pelo Espírito no sentido em que os profetas o foram.
Certo, “se alguém fala” deve falar “de acordo com os oráculos de Deus”, ou
“como se pronunciasse palavras de Deus” (1Pe 4:11). Mas isso não ocorre porque
tenha recebido alguém oráculo divino especial, mas porque é um despenseiro”
(STOTT, 2011, pág. 12-13).
Sendo
assim, a tarefa do pregador consiste em pregar a Palavra de Deus com
fidelidade, nada além da Palavra de Deus. A função do expositor é transmitir
aquilo que Deus falou. Afinal de contas, a pregação cumpre seus objetivos
espirituais não por causa da habilidade de comunicação ou a retórica do
pregador, mas por causa do poder da Escritura proclamada.
Os
profetas foram ardorosos expositores da Palavra de Deus. Homens piedosos que se
colocavam na presença de Deus antes de anunciar a Palavra de Deus. O apóstolo
Pedro se referiu a Noé como o pregador da justiça (2Pe 2:5). Deus usou
instrumentos diferentes para comunicar a sua palavra, como profeta que
transmitia a Palavra Divina do Senhor, o sacerdote que transmitia a lei e o
sábio que oferecia conselhos (Jr 18:18).
3.1.1 A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE MOISÉS
Concordo
com (STOFF, 2003), quando diz:
“Primeiramente, Deus falou por meio de profetas e
interpretou o significado das suas ações na história de Israel, e, ao mesmo tempo,
mandou transmitir sua mensagem ao povo, quer pela palavra falada, quer pela
escrita, quer por ambas juntas” (STOTT, 2003. Pág. 15).
Prova é
que o livro de Deuteronômio pode ser visto como um compêndio de sermões de
Moisés ao povo Hebreu. Moisés passou boa parte da sua vida no palácio real após
ter sido resgatado de um cesto pela filha de Faraó (Ex. 2:5). Trata-se de um
homem bem instruído, pois a infância na realeza lhe rendeu uma educação
diferenciada, cidadão de cultura enciclopédica. Moisés foi o maior guia que a
nação hebreia teve. No Pentateuco, tudo o que se fala, se pensa, e faz, tem a
ver com Moisés. Ele foi um tipo de Cristo que recebeu a incumbência de conduzir
o povo hebreu à terra prometida (At 3:22).
O livro de
Deuteronômio não é apenas uma repetição da Lei e da História de Israel, mas uma
série de discursos conclamando o povo de Deus para a renovação da aliança.
Deuteronômio é citado no Novo Testamento mais de cinquenta vezes, um número
superado somente pelos Salmos e por Isaías. Exortação é o que não falta no
livro de Deuteronômio, pois, como mensagens de despedida de Moisés ao seu povo,
o livro combina exortação com mandamentos e serve como exemplo sucinto de como
a Lei deveria ser transmitida e ensinada às gerações posteriores:
“Ordenou-lhes Moisés, dizendo: Ao fim de cada
sete anos, precisamente no dia da remissão, na Festa dos Tabernáculos, quando
todo Israel vier a comparecer perante o Senhor, teu Deus, no lugar que este
escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel. Ajuntai o povo, os homens, as
mulheres, os meninos e os estrangeiro que está dentro de vossa cidade, para que
ouçam, e aprendam, e temam o Senhor, vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as
palavras desta lei” (Dt 31:10-12).
Percebe-se
que o objetivo de Moisés não era sonegar a verdade de Deus ao povo, mas
nutri-lo com o trigo da verdade. Moisés tinha plena convicção de que o
propósito de ler a “Lei” era uma forma de ensinar ao povo sobre Deus e seus
preceitos. Fato interessante é que somente os Dez Mandamentos são dados
diretamente pela voz de Deus; todo o restante da Lei é mediado através da
pessoa de Moisés. “Ouve, Israel, o senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt
6:4). Esta porção do livro de Deuteronômio mostra um Moisés convicto de que sua
posição como líder do povo não era apenas um posto de privilégios, mas uma
plataforma de serviços. Ele não só leu a lei perante o povo de Israel, mas
também ensinou o povo de acordo com os preceitos os quais o senhor havia
estabelecido:
“Agora, pois, ó Israel, ouve os estatutos e os
juízos que eu vos ensino, para os cumprirdes, para que vivais, e entreis, e
possuais a terra que o Senhor, Deus de vossos pais, vos dá. Nada acrescentareis
à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos
do Senhor, o vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4:1,2).
Moisés leu
a lei, explicou-a e aplicou-a ao coração do povo. Mais importante que receber
as bênçãos de Deus é aprender a andar com Deus. O povo já havia recebido a
promessa de que Deus os sustentaria provendo-lhes o alimento necessário para
sua subsistência durante anos de peregrinação (Ex 16:11,12;35). Porém, Moisés
foi colocado como mediador entre Deus e o povo. No entanto, o ensino da Lei de
Deus foi justamente para que povo não pecasse contra Deus, Moisés respondeu:
“Não temais; Deus veio para vos provar e para que o seu temor esteja diante de
vós, afim de que não pequeis” (Ex 20:20).
3.1.2.
JOSUÉ, SAMUEL, DAVI E SALOMÃO COMO PROCLAMADORES DA PALAVRA DE DEUS
Josué foi
testemunha da fidelidade de Deus ao relatar a entrada vitoriosa do povo
deIsrael na terra prometida (2.1). Como substituto de Moisés, agora com a
responsabilidade de conduzir o povo hebreu Josué, diz: “Nenhuma promessa falhou
das boas palavras que o Senhor falara à casa de Israel; tudo se cumpriu”
(21:45). Josué não omite a sua responsabilidade de pregar e ensinar a palavra
de Deus, de tal forma que esta afirmação categórica da plena fidelidade de Deus
é acompanhada do reconhecimento de que muito do que fora prometido ainda estava
por realizar-se (23:5). No entanto, o povo é exortado quanto ao fato de que o
usufruto da promessa agora cumprida se condiciona sempre à obediência aos
mandamentos do Senhor Deus de Israel (23:12,13).
Da mesma
sorte, não podemos negligenciar a voz profética de Samuel que após a exposição
da Palavra de Deus, conclama a nação de Israel ao arrependimento (1 Samuel
7:2-17). Os livros de Samuel focalizam uma importante inovação na vida
religiosa e política de Israel. No início, o povo não tinha um rei e este mesmo
povo que se encontrava com a liderança terrena do profeta Samuel, também não
estava preocupado em honrar o Senhor dos Exércitos, o Rei Divino. A Bíblia diz
que até mesmo os filhos de Eli não estavam trilhando os retos caminhos do
Senhor, mas fazendo o que era correto aos seus próprios olhos (2:12-17), de tal
forma que era muito grande o pecado destes moços perante o Senhor e Samuel,
então, é levantado por Deus para exortar ao povo quanto a necessidade de
arrependimento.
Não se
pode esquecer também dos Salmos do rei Davi. Apesar dos vários estilos e
gêneros, o que se percebe é que Davi usa a poesia para enaltecer Deus e sua
Majestade. Consequentemente, os Provérbios de Salomão apresentam-nos um
compêndio entesourado de instruções práticas para o nosso dia a dia. É
importante notar que o livro de Provérbios tem objetivo de dar entendimento ao
‘sábio’, e não ao tolo, o que parece ser um contrassenso. É o sábio que precisa
de entendimento? Não seria o tolo? Ora, com relação às Escrituras, sábio é
aquele que se aplica ao temor do Senhor, ou seja, conhecimento da Palavra de
Deus. O sábio não tem relação com ser letrado ou versado no conhecimento
humano.
3.1.3. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE ESDRAS
Quem lê a
história do povo de Deus no Antigo Testamento toma conhecimento de uma tragédia
que se abateu sobre Judá, Reino do Sul; a invasão de Jerusalém e saque do
templo, a queda da monarquia Davídica e o exílio de grande parte do povo, que
ao que nos consta, fora levada evidentemente contra a sua vontade para a
Babilônia (2Rs 23.26 – 25,30). Tais acontecimentos se desenvolveram por volta
do ano 589 a.C. Aproximadamente 200 anos antes, o Reino do Norte, Israel, havia
caído perante o avanço do império Assírio. Os dois reinos foram castigados
devido a mesma transgressão: desobediência aos princípios estabelecidos por
Deus na lei de Moisés. No entanto, como já é de conhecimento, o Senhor
disciplinou o povo por sua desobediência, permitindo assim, que fossem vencidos
por exércitos estrangeiros, os quais os conquistaram, venceram e posteriormente
os levaram para distante de sua pátria.
Ao
retornarem para a sua terra natal, os exilados encontraram uma cena
catastrófica, um cenário de completa destruição, de tal forma que apenas a
reconstrução dos muros de Jerusalém, como também do templo, não seriam o
suficiente para o completo restabelecimento da nação, mas fazia-se necessária
uma completa restauração da sociedade para que então o povo pudesse se sentir
repatriado novamente, resgatando assim, sua dignidade como povo escolhido de
Deus. Diante de tal situação, vários líderes foram levantados para fazerem a
diferença neste momento de recomeço na história do povo de Deus, dentre os
quais podemos destacar Esdras, o escriba que fora levantado por Deus no
processo de reconstrução da nação.
Esdras
destaca-se pelo seu vigor e compromisso com a Palavra de Deus: “Porque tinha
disposto o coração para buscar a Lei do Senhor, e para cumprir, e para ensinar
a Israel os estatutos e seus juízos” (7.10). Esdras era um praticante fervoroso
da Palavra de Deus, uma demonstração de pleno zelo com os preceitos divinos.
Como ouvinte e praticante diligente da Palavra, o objetivo de Esdras era
ensinar os seus compatriotas a fazerem o mesmo. A vida e o ministério de Esdras
são provas vivas de que apenas conhecer a lei de Deus ou apenas ser um erudito
com a cabeça cheia de luz, não basta apenas ostentar a Palavra de Deus, é
necessário ser boca de Deus.
LOPES
(2008, pág. 26), afirma que: “Assim como o cirurgião não pode operar com as
mãos sujas, o pregador não pode subir ao púlpito com a vida maculada” (Zc
31-10). Da mesma forma, ao falar da vida do pregador, BAXTER (2008, pág 45)
ressalta o seguinte: “Não devemos desmentir com a vida aquilo que pregamos com
a língua, pois este é o maior empecilho para o sucesso verdadeiro do trabalho
para o pregador”. Esdras obteve resultados positivos como expositor da Palavra
de Deus, pois durante o seu ministério demonstrou confiança em Deus (7.6,9,27),
dependência de Deus (8.15,21.23) e identificação com o povo de Deus (9.3-15).
Outro
aspecto interessante era que a aliança era condicional; o Senhor guardaria as
suas promessas e Israel obedeceria aos seus mandamentos divinos. Israel, por
sua vez, falhou, deixando de observar os mandamentos de Deus, e o resultado foi
o exílio. No entanto, em um cenário de destruição, humilhação e pobreza, Esdras
se levanta como expositor da Palavra de Deus (Ne 8.1-8). A Lei não foi somente
lida, mas também explicada, para garantir que o povo compreendesse o seu
significado transformador. A fiel pregação da Palavra de Deus pode mudar a
história de uma nação. Prova disto é que toda a nação chorava, ouvindo a
Palavra da lei (Ne 8.9), pois o verdadeiro conhecimento nos leva às lágrimas.
Quanto mais perto estamos de Deus, mas nos tornamos conscientes de nossa
pecaminosidade. A fiel pregação da Palavra de Deus também traz alegria, pois,
esta foi a reação do povo. Choraram de arrependimento pelo pecado e depois se
alegraram com a promessa da restauração (Ne 8,10).
3.1.4.
ISAÍAS, ZACARIAS E JEREMIAS COMO EXPOSITORES DA PALAVRA DE DEUS.
Isaías
viveu no turbulento período assírio, presenciando o cativeiro do seu povo.
Ambos os reinos (NORTE/Israel e SUL/Judá) haviam experimentado poder e
prosperidade. Israel, governado por Jeroboão e outros seis reis de menos de
menor importância, haviam aderido ao culto pagão; Judá, no período de Uzias,
Jorão e Ezequias, permaneceram em conformidade com a aliança Mosaica, porém,
gradualmente, o rigor foi diminuindo, causando um sério declínio moral e
espiritual (3.8-26). Lugares secretos de culto pagão passaram a ser tolerados;
o rico oprimia o pobre, as mulheres negligenciam suas famílias na busca pelo
prazer carnal; muitos dos sacerdotes e falsos profetas buscavam agradar aos
homens (5.7-12, 18-23; 22.12-14). Tudo isto deixava claro e patente aos olhos do
profeta Isaías que a aliança registrada por Moisés em (Deuteronômio (30.11-29),
havia sido violada, portanto, a sentença divina estava proferida, o cativeiro e
o julgamento eram inevitáveis para Judá, assim como era para Israel.
Durante a
metade do século VIII, a.C. o profeta Isaías bateu de frente com os governantes
em razão de sua hipocrisia (1.10-15), ganância (5.8), autossatisfação (5.11) e
cinismo (5.19). A nação estava em declínio moral como consequência desses
pecados, no entanto, Deus levanta Isaías como arauto para anunciar o destino da
nação, caso não haja mudança de conduta (6.11-13). Porém, este mesmo povo que
se encontra no pecado, longe dos preceitos de Deus, é agora chamado ao
arrependimento através da pregação de Isaías: “Buscai o Senhor enquanto é tempo
se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso ao seu caminho,
o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que compadecerá dele, e
volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” (Is 55.6-7).
OSWALT
(2011), comentando este versículo, diz:
“O Senhor tem se aproximado do seu povo, não só
na obra do Servo que já foi predita, mas também na proclamação do profeta em
todo o livro, especialmente do capítulo 40 em diante. É evidente que ele está
mais pronto a deixar-se encontrar. Ele (o Senhor) quer confortar o desesperado,
perdoar o pecador e libertar o preso” (OSWALT, 2011, pág. 536).
Para
(STOTT, 2008, pág. 86) “a verdadeira função do pregador é incomodar as pessoas
que estão acomodadas e acomodar as que estão incomodadas”. Por conseguinte,
(NILTON, 2008, pág. 86) disse que “o propósito é quebrar o coração duro e curar
o coração quebrado”. O profeta Isaías foi tremendamente usado por Deus para
trazer o povo ao arrependimento através do pronunciamento das Escrituras.
Da mesma
forma, o profeta Jeremias foi um proclamador da Palavra de Deus. Quando Deus
chamou Jeremias para ser profeta (1:5). Ele não queria aceitar: “Ah Senhor
Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança” (1:6). O Senhor respondeu
que ele lhe daria as palavras e que ele determinaria a proclamação (1:7).
Também ele se comprometeu de estar com Jeremias: “Não tenha medo deles, pois eu
estou com você para protegê-lo" (1:8). O Senhor também concedeu a Jeremias
os recursos dos quais ele precisaria para resistir aos ataques dos inimigos.
“Eis que hoje te ponho por cidade fortificada,
por colunas de ferro e muros de bronze, contra todo o país, contra os reis de
Judá, contra os seus príncipes, contra os seus sacerdotes e contra o seu povo.
Pelejarão contra ti, mas não prevalecerão; porque eu sou contigo, diz o Senhor,
para te livrar” (1:18,19).
Deus já
deixou Jeremias prevenido dos esforços dos oponentes, mas lhe deu plena certeza
da presença dele para capacitá-lo a encarar todas as dificuldades. Jeremias
pregou ousadamente o que fora determinado pelo Senhor: “Porque dois males
cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram
cisternas rotas, que não retêm as águas” (2:13). Jeremias expôs ousadamente a
infidelidade e a insensatez do povo de Judá por ter abandonado a única fonte do
bem e por ter corrido atrás dos ídolos vazios.
Não se
pode esquecer, também, do profeta Zacarias que foi um arauto do Senhor e grande
expositor da Escrituras. Estudiosos afirmam que o panorama histórico de
Zacarias é o mesmo de Ageu, no entanto, seus mistérios foram diferentes.
Enquanto Ageu teve um ministério focado na reconstrução do templo, o de
Zacarias foi extensivamente designado para encorajar o povo de Deus em relação
ao bem-estar da cidade de Jerusalém e do futuro que estava por vir. A mensagem
foi de repreensão, exortação e incentivo. O profeta censurou a comunidade
pós-exílica por ter perpetuado os maus caminhos e atos de seus ancestrais. Ele
diz:
“Portanto, dize-lhes: assim diz o Senhor dos
Exércitos: tornai-vos para mim, diz o Senhor dos Exércitos. Não sejais como os
vossos pais, a quem clamavam os primeiros profetas, dizendo: assim diz o Senhor
dos Exércitos: convertei-vos, agora, dos vossos maus caminhos de das vossas más
obras; mas não ouvirão, diz o Senhor. Vossos pais, onde estão eles? E os
profetas, acaso vivem para sempre?” (Zc 1:3-5).
É
impressionante como uma fé decaída de uma comunidade pode ser reanimada pela
pregação de um profeta sincero e fervoroso, o qual, mesmo sendo um gênio,
possui uma grande fé! Zacarias viu a possibilidade de uma repentina e decisiva
intervenção da parte de Javé em favor de Israel.
3.2. A
TRAJETÓRIA DA PREGAÇÃO EXPOSITIVA NO NOVO TESTAMENTO
O método
expositivo de pregação não é enfatizado somente no Antigo Testamento, mas
também no Novo Testamento. Uma herança que foi recebida dos profetas e teve
sequência no ministério de Jesus Cristo e, consequentemente, dos apóstolos. O
ministério dos apóstolos não se resume apenas em curas e milagres, mas eles
eram, acima de tudo, pregadores da Palavra de Deus, “e quanto a nós, nos
consagraremos à oração e ao ministério da Palavra” (Atos 6:4). Ainda no livro
de Atos dos Apóstolos temos a seguinte informação: “Naquele dia, levantou-se
grande perseguição contra a igreja de Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos,
foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria. Entrementes, os que foram
dispersos iam por toda a parte pregando a Palavra (At 8:1,4).
Através da
perseguição, o martírio de muitos que se dispuseram a entregar as suas vidas
por amor à proclamação da Palavra de Deus, a mensagem foi espalhada mais longe
e mais rapidamente. Tertuliano, um dos pais da igreja, considerado o pai da
teologia latina em função do grande impacto que teve sobre a igreja ocidental
chegou a afirmar as seguintes palavras: “O sangue dos mártires é a semente da
igreja” (MCGRATH, 2007, pág. 39). Talvez o cristianismo não se expandisse de
maneira tão bem sucedida caso o império Romano não tivesse existido.
Poder-se-ia dizer que o império nada mais era que o combustível à espera da
faísca da fé cristã.
A pregação
sempre foi e sempre será a função decisiva da igreja. O Senhor Jesus, antes de
ser assunto aos céus, disse: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda
a criatura” (Mc 16:15). A pregação é múnus profético, apostólico e cristão.
Pois as Escrituras afirmam “Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas
boas” (Rm 10:15b).
3.2.1. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE JOÃO BATISTA
João
Batista foi, sem sombra de dúvidas, um dos mais destacados personagens do Novo
Testamento, pois fora vocacionada por Deus para introduzir o ministério terreno
do Senhor Jesus e o fez com dignidade e grandeza, como os destemidos profetas
do Antigo Testamento, João Batista combateu tenazmente a hipocrisia, a maldade
e a desonestidade em sua época, opondo-se abertamente a lei moral (Lc 3:1),
social (L3:110 econômica (Lc 3:10-14), política (L3.1,14) e espiritual (Lc
3:2.8) naqueles dias.
Em um
contexto de sequidão espiritual, no qual o pecado reinava do palácio à
choupana, João Batista veio para confrontar a nação de Israel com a Palavra de
Deus.
“Naqueles dias, apareceu João Batista
pregando no deserto da Judéia e dizia: Arrependei-vos, porque está próximo do
reino dos céus. Porque este é o referido por intermédio do profeta Isaías: Voz
que clama do deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”
(Mt 3:1-3).
A Bíblia
diz que o povo, tanto Jerusalém, como também da Judéia, afluiu em direção ao
deserto para vê-lo pregar (Mt. 5:3) de forma que ao serem impactados pelo poder
da Palavra de Deus eram, então, batizados (Mt 3:6) João Batista estava longe
dos holofotes, não pregava sob as luzes da ribalta e tinha o deserto como lugar
para ensinar os preceitos de Deus. Mesmo não estando num ambiente sofisticado,
ainda assim, o relato bíblico nos mostra que grandes multidões iam ao deserto
somente para ouvi-lo ao ponto de interrogarem-no sobre o que fazer (Lc
3:10-14).
João
Batista pregava com quem tinha um coração cheio de fogo. Ele não somente
proclamava a Palavra de Deus, mas era boca de Deus a uma geração que estava
caminhando a passos largos rumo à perdição. A mensagem de João Batista não era
dele mesmo, mas era a Palavra dinâmica do próprio Deus, sob a unção dos
Espírito Santo, pode trazer transformação a um povo cego pelo deus deste
século.
3.2.2. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE JESUS CRISTO
Jesus
Cristo é o verbo encarnado de Deus (Jo 1:1). Muito embora o ministério terreno
tenha alcançado os doentes, ainda assim, podemos afirmar com exatidão que era a
parte central do ministério de Jesus. Ele como Filho de Deus encarnado, poderia
muito bem ter começado seu ministério terreno fazendo milagres, “e Ele os fez”,
afinal, ele mesmo é a Palavra encarnada, o mensageiro e o conteúdo da sua
mensagem. Mas, o evangelista Lucas registra a trajetória de Jesus nos dizendo:
“E ensinava nas sinagogas, sendo glorificado por todos” (Lc 4:15). Após a sua
tentação no deserto, o Senhor Jesus dirigiu-se para a cidade de Nazaré e ele
fez a sua primeira exposição da Palavra de Deus, conforme está no relato do
livro de (Lucas 4:17-21), que diz:
“Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e,
abrindo o livro achou o lugar onde estava escrito: O Espírito do Senhor estava
sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para
proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, Para pôr em
liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor. Tendo fechado o
livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os
olhos fixos n’Ele, então passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura
que acabais de ouvir” (Lc 4:17-21).
De acordo
com (OLYOTT, 2005, pág. 31) Jesus leu, explicou e aplicou a Palavra de Deus.
Jesus não era alguém que conhecia as escrituras apenas superficialmente. O
Sermão do Monte é uma prova de que Jesus mantinha absoluta confiança na
veracidade do Antigo Testamento. Posteriormente, quando ensinava a respeito da
autoridade e poder das Escrituras, disse aos saduceus: “Errais, não conhecendo
as Escrituras e nem o poder de Deus” (Mt 22:29) De acordo com SOON WOO HONG, o
Senhor Jesus desenvolveu um conjunto de ensinamentos (Mc 4:2) que, em essência,
representam o cumprimento do Antigo Testamento em Sua pessoa, vida, feitos,
morte sacrificial, e ressurreição (LOPES, 2008, pág 31). Jesus era muito
diferente dos rabinos contemporâneos. Ele não só fazia o que ensinava, como
também os seus ensinamentos tinham autoridade divina. Os profetas do Antigo
Testamento haviam proclamado: “Assim diz o Senhor...” ao passo que Jesus
proclamou: “Eu vos digo...” (LOPES, 2008, pág. 31).
Jesus
Cristo não somente lia as Escrituras, mas também era um especialista nato na
arte de explicar as Sagradas Letras. Explicar é trazer luz, entendimento,
contribuir para que determinado assunto se torne claro e compreensível. De
acordo com Lucas, mesmo depois de ressurreto, Jesus explicou as Escrituras aos
discípulos no caminho de Emaús. “E, começando por Moisés, discorrendo por todos
os profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras”
(Lc 24:27). Jesus mostrou a tais discípulos que não existe uma só parte das
Escrituras Sagradas que deixam de apontar para a Sua pessoa. Mostrou-lhes o
caminho para entender a Bíblia (Lc. 24:45) e também ensinou que o verdadeiro
pregador da Palavra de Deus não deve produzir nenhum conceito inovador
elaborado segundo sua própria mente, mas simplesmente trazer o testemunho
daquilo que Deus já realizou em favor do seu povo (Lc. 24:48).
3.2.3. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DO APÓSTOLO PEDRO
Basta dar
uma rápida olhada no Antigo Testamento e ver-se a Deus prometendo através de
vários profetas que derramaria o Seu Espírito. Moisés orou a Deus pedindo que
Israel como um todo se tornasse uma nação de profetas (Nm 11:29). O profeta,
por sua vez, profetizou tais acontecimentos como partículas referentes ao
glorioso futuro da nação de Israel.
“E acontecerá, depois, que derramarei o meu
Espírito sobre toda a tua carne, vossos filhos e vossas filhas profetizarão,
vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões e sobre as servas
derramarei o meu espírito naqueles dias” (Jl 2:28,29).
Da mesma
sorte, o profeta Isaías diz:
“Porque
derramarei água sobre o sedento e torrente, sobre a terra seca; derramarei o
meu espírito sobre a tua prosperidade e a minha bênção, sobre os teus
descendentes; e brotarão como erva, como salgueiros junto das correntes das
águas. Um dirá: Eu sou o Senhor; outro se chamará do nome de Jacó; o outro
ainda escreverá na própria mão: Eu sou do Senhor, e por sobrenome tomará o nome
de Israel (Is 44:3-5).
Isaías
estava prevendo que, no futuro, muitos teriam o privilégio de participar do
novo tempo da restauração, tempo este, não somente os Judeus, mas também os
gentios estariam juntos confessando o nome do Senhor. Como confirmação do nome
de Deus que estava por vir, o profeta Ezequiel discorre sobre os grandes
milagres que estavam para ocorrer neste glorioso dia (EZ 36:35), dia este que o
Senhor derramaria o Seu Espírito sobre a face da terra.
Pentecostes
foi um marco na história do cristianismo. Pessoas foram impactadas pelo poder
do Espírito Santo e acontecimentos miraculosos ocorreram nesse dia: “Um som
como de vento impetuoso veio do céu, línguas de fogo pousaram sobre cada um
deles e todos começaram a falar em outras línguas” (At 2.1-4). No entanto, o
que se pode perceber é que o milagre, ao invés de produzir, transformação e
mudança de vida naquelas pessoas, causou escândalo em muitos. Muitos daqueles
que ali estavam interpretaram o evento do Pentecostes sob a ótica da
discriminação: “Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são,
porventura, Galileus todos esses que aí estão falando?” (At 2:7). Outros, por
sua vez, com os corações endurecidos pelo pecado, zombavam do agir de Deus
dizendo que todos estavam embriagados (At 2.13).
(LOPES,
2008, pág. 32), ao falar sobre o grande dia de Pentecostes, afirma que os
milagres podem até provocar um impacto, não mudanças interiores. Os milagres
podem mesmo chamar atenção das pessoas, mas não produzem transformação de
vidas. Tais acontecimentos podem abrir portas para a pregação do evangelho, mas
não são o evangelho. Prova disso é que o grande número de convertidos não
aconteceu até que Pedro, cheio do Espírito Santo pregou uma poderosa mensagem,
de tal forma que os corações ali presentes foram derretidos pelo poder de Deus
e quase três mil foram batizadas (At 2:41)
Pedro
expôs as Escrituras, anunciou o amor de Jesus e aplicou a Palavra de Deus aos
que estavam ali presentes. Fato interessante é que, quando o Espírito Santo
age, ele faz a obra de forma completa, de maneira que não se fazem necessárias
invenções e novidades. Pedro em seu discurso, pregou um sermão cristocêntrico.
Ele pregou a morte de Jesus, a ressurreição de Cristo e a glorificação de
Cristo. O mais importante é que, após o sermão, a iniciativa partiu da própria
multidão: “Ouvindo estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a
Pedro e aos demais apóstolos: que faremos irmãos?” (Até 3:37). Pedro, por sua
vez, lhes respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo para a remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito
Santo” (At 2:38).
Outro
aspecto interessante é que João Batista, quando pregava no deserto, convocava
as pessoas ao arrependimento para a remissão dos pecados (Mc 1:14). O próprio
Senhor Jesus Cristo, ao ser confrontado pelos fariseus, disse: “Não vim chamar
justos, e sim pecadores, ao arrependimento” (Lc 5:32). Pedro, da mesma forma,
começou seu sermão falando de arrependimento: “Arrependei-vos” (At 2:38). É
impossível haver salvação sem que, em primeiro lugar, haja arrependimento. A
verdadeira pregação confronta o pecador e o induz a necessidade de
arrepender-se Muitos dos que estavam ali presentes no dia de Pentecostes,
talvez não passasse apenas de frequentadores do templo. Outros, por sua vez,
possivelmente, carregavam consigo a tradição herdada dos seus ancestrais e outros,
ainda, carregavam a máscara de religiosidade, mas tinham uma necessidade única:
precisavam desesperadamente transformar a vida.
Pedro foi
impulsionado pelo Espírito Santo a pregar um sermão específico em relação ao
que Deus havia prometido. “Para a remissão dos vossos pecados, recebereis o dom
do Espírito Santo (At 2:38). Somente depois de genuíno e verdadeiro
arrependimento é que pode haver perdão e, posteriormente, salvação. Em primeiro
lugar, o sermão de Pedro confrontou as pessoas presentes à necessidade de
arrependimento e, somente após a transformação realizada através da eficácia da
Palavra de Deus, é que veio o crescimento numérico da Igreja. (EBY 2001), ao
falar sobre o crescimento numérico como consequência do sermão de Pedro, afirma
o seguinte:
“Por fim, o nosso sonho inclui crescimento
numérico: números que falem de indivíduos que foram transformados pelo
Evangelho; números que representam pecadores trazidos das trevas para a luz, e
do poder de satanás para o poder de Deus, por meio da cruz. O crescimento de
conversões é seu forte desejo íntimo. E também era definitivamente para Lucas e
para o Espírito Santo, porque está enfaticamente registrado para sempre: “e
naquele dia agregaram-se quase três mil almas” At 2:41), (EBY, 2001, pág. 28).
3.2.4. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA DO MINISTÉRIO DO APÓSTOLO PAULO
Indiscutivelmente
o apóstolo Paulo foi o maior pregador da história do cristianismo. Um homem que
outrora fora um perseguidor de cristãos, que lançava famílias inteiras na
prisão por causa do evangelho, agora, após a sua conversão, começou a pregar
imediatamente (At 9:20). Paulo foi o maior plantador de igrejas de sua época.
Um defensor da fé cristã que proclama o evangelho com ousadia por onde passava
e, ainda hoje, abençoe imensamente o povo de Deus através das cartas de sua
autoria. (LOPES, 2008) ao falar sobre o ministério do apóstolo Paulo, afirma,
que:
A fim de cumprir seu ministério, enfrentou
conflitos, cadeias e muitos problemas e tribulações. Foi perseguido, preso,
açoitado e apedrejado. Suportou pobreza, desprezo e abandono. Para cumprir o
seu ministério, viajou por todo Império Romano, foi missionário além das
fronteiras, cruzou desertos, navegou por mares bravios, pregou a Palavra de
Deus em muitas cidades, povoados, templos, sinagogas, praças, ilhas, praias,
escolas, tribunais e prisões. Pregou a grandes multidões, a pessoas livres e
escravas, a vassalos e reis, a sábios e a iletrados, a judeus e gentios. Pregou
sempre com entusiasmo, com saúde ou enfermo, como prisioneiro ou como liberto,
amado ou odiado, aplaudido ou apedrejado, na abundância e na pobreza. Fez três
viagens missionárias pregando o evangelho e plantando igrejas para a glória de
Deus e para a expansão do Reino de Deus. (LOPES, 2008, pág. 35-36).
Paulo
respirava as Escrituras. Homem culto, piedoso e que, acima de tudo, era um
grande expositor da Palavra de Deus. O apóstolo Paulo tinha os Escritos
Sagrados em mais alta estima, ou seja, um conceito elevado das Escrituras como
Palavra inspirada em Deus. Prova disso é que ele disse: “Toda Escritura é
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra” (II Tm 3:16,17) (DEVER 2010 PÁG.
17), cita o grande pastor puritano Richard Baxter, afirmando que: ”Todas as
igrejas tanto crescem quanto diminuem conforme o ministro cresce ou diminui,
não em riquezas e bens materiais, mas em conhecimento, zelo e capacidade para a
sua missão”. O conhecimento sólido da inerrância, infalibilidade, e supremacia
das Escrituras deve ser o principal requisito no ministério de um fiel
expositor da Palavra de Deus.
Paulo
tinha também plena convicção de que não existe outro Evangelho a ser pregado
aos homens. Escrevendo aos Gálata, ele disse: “mas, ainda que nós mesmo, ou um
anjo vindo dos céus vos pregue evangelho que vá além dos do que vos temos
pregado, seja anátema” (Gl 1:8). Não existe outro meio de ser um fiel expositor
das Escrituras, a não ser reconhecendo a integridade absoluta da Palavra de
Deus. Paulo acreditava piamente que o Evangelho é o Poder de Deus para a
salvação de todo aquele que crê em Jesus Cristo como único e suficiente
salvador (Rm 1:16) e que a pregação é o meio usado Deus para alcançar os
perdidos (Rm 10:17)
Outro
aspecto interessante é que, apesar de erudito, estudioso e grande expositor das
Escrituras, Paulo não descarta a sua dependência e necessidade do Poder do
Espírito Santo para que o Evangelho seja anunciado eficazmente através de sua
pessoa. Por mais pura que seja a pregação, ela não surte nenhum efeito sem a
ação do Espírito Santo. (JONES, 1976), declara:
“O fato é
que, se não houver poder, não haverá pregação. Afinal de contas, a verdadeira
pregação consiste na atuação de Deus. Não se trata apenas de um homem
proferindo palavras; é Deus quem o está usando. O pregador está sendo usado por
Deus. Está debaixo da influência do Espírito Santo. A verdadeira pregação é
aquilo que Paulo chama de demonstração do Poder e do Espírito” (CL. 2:4). Ou,
conforme ele o expressa em (Ts 1:5). “O nosso Evangelho não chegou até vós tão
somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo, e em plena
convicção”. Aí ele está: é um dos elementos essenciais da pregação autêntica”
(JONES, 1976, pág. 93).
Falando a
igreja de Corinto, o apóstolo Paulo, disse:
“A minha
palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não
apoiasse em sabedoria humana, e sim no Poder de Deus.” (Co. 2:4.5).
(LOPES,
2008), citando Roland Allen, diz o seguinte a respeito do ministério de Paulo:
“Em menos
de dez anos, Paulo estabeleceu a igreja em quatro províncias do império:
Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia. Antes de 47 d.C., não havia igrejas nessas
províncias; em 57 d.C. Paulo pode falar como se o seu trabalho já tivesse sido
feito. Esse é um fato realmente espantoso. As igrejas são estabelecidas de
forma tão rápida e tão sólida. Parece quase incrível para nós que estamos
acostumados a dificuldades, incertezas, fracassos, relapsos desastrosos de
nosso trabalho missionário. Muitos missionários em épocas recentes tiveram um
número de convertidos maior do que Paulo: muitos pregaram em uma área mais
ampla do que ele pregou, mas nenhum estabeleceu tantas igrejas. (LOPES, 2008,
PÁG. 39).
Como
pregador expositor da Palavra de Deus, Paulo teve a oportunidade de pregar para
vários e distintos grupos. Ensinou a crentes e a não crentes (At 20, 20, 21, 26
e 27). Foi perseguido, apedrejado e terminou o seu ministério em uma prisão,
mas disse: “Por esta razão tudo suporto por causa dos eleitos, para que também
eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com eterna glória” (II Tm
2.10). Na certeza de que havia pregado com fidelidade todo o desígnio de Deus,
se despediu com as seguintes palavras: Combati o bom combate, completei a
carreira, guardei a fé” (II Tm 4.7).
3.2.5. A
PREGAÇÃO EXPOSITIVA E AS ESCRITURAS
Concluindo
sobre a exposição bíblica nas Escrituras. Poderia verificar-se que ela aparece
de forma destacada e bem documentada tanto no Antigo como no Novo Testamento.
No entanto, não existe outra forma de pregação a não ser a que aponta para
Cristo e se enquadra no padrão das Escrituras. No Antigo Testamento, a
exposição da Palavra de Deus levou algumas nações ao arrependimento e novidades
de vida. No Novo Testamento, a exposição das Escrituras produziu crescimento
tanto qualitativo, quanto quantitativo da comunidade cristã.
Um sermão
do Antigo Testamento necessariamente irá em direção ao Novo Testamento. Isso é
óbvio quando o texto tem uma promessa que é cumprida em Cristo: O pregador não
pode parar na promessa, mas naturalmente, irá prosseguir com o sermão até o seu
cumprimento. O mesmo ocorre quando o texto contém um tipo que é cumprido em
Cristo: o sermão vai do tipo ao antítipo. Isso acontece também quando o texto
relata um tema que é mais desenvolvido no Novo Testamento, pois, o real valor
da exposição bíblica consiste em Jesus Cristo, o amém de Deus.
Quando a
Palavra de Deus é pregada sob a unção do Espírito Santo os resultados são
incríveis. O Senhor disse: “assim será a Palavra que sair da minha boca: não
voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a
designei” (Is 55:11), sendo assim, o verdadeiro crescimento da igreja só é
possível através de uma pregação pura e simples, que além de edificar o corpo
de Cristo promove o Reino de Deus sobre a face da terra.
4. A
RELEVÂNCIA HISTÓRICA DA EXPOSIÇÃO DAS ESCRITURAS
Não é
preciso ser um grande estudioso do assunto para entender claramente as
dificuldades que sempre estiveram presentes na igreja de Cristo. Os profetas do
Antigo Testamento foram perseguidos. Os apóstolos foram perseguidos e até mesmo
o próprio Jesus, o Deus encarnado, não ficou isento de sofrer oposição e ser
odiado por aqueles que odiavam o avanço do Reino de Deus. Tanto é que em seu
discurso de despedida encontram-se as seguintes palavras: “No mundo passais por
aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16:33b).
Por volta
do ano 54 d.C. Nero sobe ao poder e desemboca-se em uma das mais cruéis contra
o povo de Deus. Dez anos depois, em 64 d.C., Nero teve a brilhante ideia de
colocar fogo em Roma, cidade que, naquela época, era capital do império e, com
vestes de ator, subiu ao alto da torre de Mecenas, de onde assistiu o terrível
espetáculo das chamas que, sem piedade, lambiam de forma destrutiva e
arrasadora a cidade dos Césares. Conta a história que foram seis dias e seis
noites de chamas inapagáveis. Nero queria uma cidade mais digna de sua pessoa,
mais moderna. Por isso a ideia de destruir a cidade, para então, erguê-la a
partir das cinzas. Dos quatorze bairros de Roma, dez foram completamente
destruídos pelas chamas do incêndio.
Os quatro
bairros restantes tinham a sua população composta por Judeus e Cristãos. Esse
fato deu ao imperador Nero provas suficientes, segundo duas conclusões, para
colocar a culpa dos incêndios nos cristãos. Daí então, uma brutal e sangrenta
perseguição, desencadeou-se contra o povo de Deus (GONZÁLEZ, 2011, pág. 40,41).
Em 66
d.C., estourou uma grande revolução na Região da Palestina devido a problemas
religiosos entre os judeus e os gregos. O imperador, na tentativa de conter o
motim, envia para lá o general Tito Vespasiano para , então, colocar fim na
revolução. O apóstolo Paulo foi condenado e degolado em Roma por volta de 67
d.C. e, segundo reza a tradição, Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. Em
68 d.C., pressionado pelo império, Nero foge de Roma e põe fim a sua própria
vida. No ano 70 d.C., o imperador Tito destrói a cidade de Jerusalém e, como
consequência deste ato, há uma dispersão de Judeus e de cristãos mundo afora.
No ano 81
d.C., Domiciano assume as rédeas do governo de Roma. Foi chamado de "o
segundo Nero”. Domiciano foi o primeiro imperador a roubar para si o título de
“Senhor de Deus”. É na busca implacável de conter o avanço do cristianismo que
Domiciano deporta o apóstolo João, nessa época o único sobrevivente do colégio
apostólico, então pastor em Éfeso, para a ilha de Patmos (GONZALEZ, 2001, pág.
43). No entanto, o cenário sangrento de perseguição e terror sobre os cristãos,
faz com que alguns dos proeminentes pais da igreja enfatizem a tradição da
pregação expositiva já anunciada pelos profetas e apóstolos da igreja.
4.1. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DOS PAIS DA IGREJA
Segundo
historiadores, poucos sermões e informações no que concerne a pregação das
Escrituras proveniente do período da Patrística sobreviveram. No entanto, o
estudo desses sentimentos revela que, durante os três primeiros séculos, os
sermões não eram bem estruturados homiléticamente falando e, também, não havia
muita preocupação com o tema ou unidade. De acordo com historiadores, nesse
período da história da igreja, o sermão estava longe de ser um discurso formal
e sua forma se assemelhava a uma homilia, denotando, então, uma pregação de
estilo extemporâneo. (ANGLADA, 2005), diz que Justino Mártir. Continua nos
informando a respeito do culto dominical em meados do segundo século em Roma e
o estilo de pregação comum no contexto da época:
“No dia
chamado de domingo, todos os que vivem nas cidades ou no campo reúnem-se em um
lugar, e as memórias dos apóstolos ou escritos dos profetas são lidos, o tanto
que o tempo permitir, então, quando o leitor termina o presidente instruir
verbalmente, e exorta verbalmente os ouvintes destes bons exemplos” (ANGLADA,
2005, pág. 49).
Inácio,
Justino Mártir, Policarpo, que foi discípulo de João, e incluindo outros pais
da igreja, foram grandes pregadores das Escrituras Sagradas, mas como afirmado
anteriormente, esses escritos não foram preservados. Os nomes de maior
relevância neste período da história da pregação são os de Orígenes, João
Crisóstomo e Agostinho. De acordo com (LOPES, 2008, pág, 41), “os primeiros
quatrocentos anos da igreja produziram muitos pregadores, mas pouco verdadeiros
expositores”. Alguns deles, como Justino Mártir endereçou a sua primeira apologia ao imperador, na perspectiva de
defender o cristianismo contra as interpretações distorcidas e errôneas,
argumentando ser ele verdadeiro, pois o Cristo que havia morrido e ressuscitado
era a personificação da verdade e também o Salvador da humanidade (LOPES, 2008,
pág. 41)
4.1.1. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE ORÍGENES
Origenes,
(185-253) nasceu no Egito, em lar cristão, por volta do ano 185. Seu pai,
Leônidas, foi martirizado na perseguição do ano de 202; o jovem desejou
acompanhá-lo, só não o fazendo porque sua mãe escondeu as suas roupas. Estudou
aos pés de Clemente e se tornou professor de literatura e filosofia. Com apenas
18 anos de idade, o bispo Demétrio o colocou à frente da escola catequética.
Como consequência, sua fama se espalhou de tal forma que mesmo pagãos
destacados iam ouvi-lo (MATOS, 2008, pág. 50).
Tertuliano,
aparentemente, foi o primeiro a dar nome de sermão ao discurso cristão;
enquanto que, Orígenes, o primeiro a usar o método expositivo de pregação da
Palavra de Deus (LOPES, 2008, pág. 41). Sua produção literária foi gigantesca,
são conhecidos os títulos de cerca de 800 obras, no entanto, a maior parte se
perdeu com o passar dos anos. Muitos dos seus escritos são voltados para a área
de exortações morais e seus comentários bíblicos, dos quais subsistem grande
porções diferentes dos referentes a Mateus, João, Romanos e Cantares de Salomão
(MATOS, 2008, pág. 50, 51). Seus sermões demonstram grande labor exegético,
quase sempre degenerando em alegorias. Não obstante, ele é super reconhecido
por duas grandes contribuições à pregação cristã. Primeiro, dele foram
preservados os mais antigos sermões em forma de discurso em passagens bíblicas
específicas, onde o texto é explicado e aplicado. Segundo ele é conhecido por
ser o primeiro grande expositor a pregar a Escrituras de forma sequencial em
livros inteiros da Bíblia, como fez, por exemplo, como o Evangelho de João
(ANGLADA, 2005, pág. 50).
O panorama
histórico nos oferece pouco a respeito do método de exposição bíblica de
Orígenes, entretanto, a sua abordagem é de essencial importância para que se
possa entender o surgimento da pregação expositiva no contexto dos pais da
igreja. Visto que Orígenes foi acima de tudo um intérprete das Escrituras
Sagradas, considerando a sua abordagem exegética. Orígenes cria firmemente na
inspiração de cada palavra da Bíblia, mas entendia que se deveria buscar, por
trás do sentido literal do texto, outro mais profundo, espiritual. (MATOS,
2008, pág. 51). Dedicava-se ao propósito da passagem, e não simplesmente,
comentar o texto, uma cláusula após a outra.
4.1.2. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE JOÃO CRISÓSTOMO.
O epíteto
Χρυσόστομος ("Chrysostomos", em português "Crisóstomo")
significado a boca de ouro"; portanto, o nome do maior pregador, não era
João Crisóstomo. O século IV produziu muitos pregadores, dentre os quais,
Basílio, Gregório de Nazianzeno, Gregório de Nissa, Ambrósio, João Crisóstomo e
por último Agostinho, reconhecidamente o maior pregador da igreja ocidental.
Crisóstomo e Agostinho são figuras reconhecidas pela igreja como os mais
prolíferos pregadores expositivos entre o período apostólico e a Reforma
Protestante.
João
Crisóstomo (347-407) é considerado um dos grandes pregadores de todos os
tempos. Tanto é que este estilo de pregação lhe deu a alcunha de príncipe da
pregação expositiva. Crisóstomo, de forma especial, esteve na linha de frente
da Escola de interpretação de Antioquia e, esta por sua vez, rejeitou a
abordagem alegórica da tão conhecida Escola de Alexandria. Ele era praticante
da exegese literal, gramatical e histórica. Pregou de forma sequencial em
diversos livros da Bíblia, entre eles, Gênesis, Salmos, Mateus, João, Atos, e
Epístolas de Paulo e Hebreus, além de vários sermões em livros avulsos da
Bíblia que foram pregados em ocasiões especiais (ANGLADA, 2005, pág. 51).
Crisóstomo
pregou por doze anos na Catedral de Antioquia. Foi intitulado o maior pregador
da igreja grega. O papa Pio X referiu-se a ele como o santo patrono dos
pregadores cristãos (LOPES, 2008, pág. 43). Em 397, o imperador Teodósio I o
nomeou bispo da cidade de Constantinopla. Empenhou-se em reformar a vida do
clero local, onde pregou de forma veemente contra o predomínio do imperador
sobre a igreja e condenou as desigualdades e injustiças sociais na cidade,
tornando-se um herói da massa oprimida da população (MATTOS, 2008, PÁG. 69).
Entre as suas virtudes como pregador, (ANGLADA, 2005) CITA Schaff, que menciona
o seguinte:
“A profundidade do conhecimento das Escrituras,
a intensa veemência, a propriedade das ilustrações e aplicações, a variedade de
tópicos, a autoridade da linguagem, a elegância de estilo e ritmo fluente de
seu grego, a vivacidade dramática, a maneira rápida e engenhosa das suas
transições e o magnetismo e simpatia” (ANGLADA, 2005, pág. 51).
Da mesma
forma, Lopes (2008) ao citar David Larsen, declara o seguinte a respeito desse
poderoso expositor das Escrituras: “Ele praticamente decorou as Escrituras e
pregava, de forma sistemática e consecutiva, livro após livro da Bíblia.
Condenava a oratória vazia, mas usava as mais finas habilidades retóricas da
época ao abrir a Palavra de Deus, (LOPES, 2008, pág. 43).
João
Crisóstomo é aplaudido e venerado constantemente como a voz que mais se
destacou na oratória do púlpito da igreja grega. Entre os pais latinos,
inclusive, não há quem se iguale a este gigante da exposição bíblica. Cem anos
depois da sua morte, Crisóstomo recebeu o título de “o homem da boca de ouro”.
Para ele, todavia, o púlpito não era simplesmente uma tribuna onde ele oferecia
brilhantes peças de oratória. Ele foi, antes, a expressão oral de toda a sua
vida, ou seja, palco de sua ferrenha batalha contra os poderes do mal que
assolavam a população, vocação insubstituível que mais tarde lhe custou a
própria vida. (GONZÁLEZ, 2001, pág. 198).
Ao
analisar a história da igreja, pode-se perceber que a maioria dos sermões
existentes de Crisóstomo seguiu o método “lectio
continua” de exposição bíblica. Em forte contraste com os seus
contemporâneos, este pai da igreja pregava exposições contínuas, versículo por
versículo e palavra por palavra de muitos livros da Bíblia Sagrada. (LOPES,
2008), ao citar David Larsen mais uma vez, relata que:
“Sua dedicação ao texto levou-o a produzir
comentários expondo versículo por versículo, e ele pregava sistematicamente
livros inteiros da Bíblia, entre eles Gênesis (75 sermões), Salmos (144),
Matheus (90), João (88) e várias Epístolas de Paulo (244). Suas (54() mensagens
sobre Atos constituem o que pode ser o primeiro verdadeiro comentário desse
livro. Ele geralmente pregava por uma hora” (LOPES, 2008, pág. 43,44).
João
Crisóstomo era um fiel expositor das Escrituras, pois buscava o verdadeiro
sentido do texto bíblico, ou seja, entendia que o sermão não é apenas uma
leitura rasa das Escrituras, mas a verdadeira exposição da Palavra de Deus.
(STOTT, 2003) estaca com veracidade quatro característica da pregação desse
ardoroso expositor das Escrituras:
“No primeiro, era bíblica, não somente
pregava sistematicamente por vários livros em seguida, como também os seus
sermões estão repletos de citações e alusões da Bíblia. Segundo suas interpretações das Escrituras era singela e direta.
Seguia a escola antioquena da exegese “literal”, em contraste com as alegorias
alexandrinas imaginativas. Terceiro,
suas aplicações morais eram aplicáveis à vida diária prática. Terceiro, suas
aplicações morais eram aplicáveis à vida diária prática. Lendo os seus sermões
hoje, podemos imaginar sem dificuldade a pompa da corte imperial, os luxos da
aristocracia, as corridas loucas no hipódromo, e, na realidade, a totalidade da
vida de uma cidade oriental no fim do século IV. Quarto, era destemido nas suas condenações. Na realidade. Na
realidade, era mártir do púlpito, pois foi principalmente sua pregação fiel que
provocou o seu exílio” (STOTT, 2003, pág. 21)
De acordo
com (MATTOS, 2008, PÁG. 69) muito embora João Crisóstomo tenha dado pequena
contribuição a teologia, ainda assim, ele é considerado o modelo do teólogo.
Para a tradição ortodoxa oriental, o bom teólogo é aquele que ora bem e prega
bem. Quando ovacionado e aplaudido pelas multidões que o veneram como ilustre
pregador, dizia: “vocês louvam o que eu disse e recebem a minha exortação com
ovações e aplausos, mas demonstrem a aprovação de vocês pela obediência: Este é
o louvor que busco” (ANGLADA, 2055, pág. 51).
GONZÁLEZ
(2011), ao mencionar o sucesso obtido por João Crisóstomo como fiel expositor
das Santas Escrituras, diz:
“Era monge da cidade que clamava na cidade. Era a voz do cristianismo antigo que não se
dobrava às tentações do cristianismo imperial. Era um gigante cuja voz fazia
tremer até os fundamentos da sociedade, não porque a sua língua era de ouro,
mas porque as suas palavras eram ao alto”. (GONZÁLEZ, 2011, pág. 200).
4.1.3. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE AGOSTINHO DE HIPONA
Aurelius
Augustinus, conhecido como “Agostinho de Hipona”, ou simplesmente “Agostinho”
(354-430) que foi, o detentor de uma das mais influentes e brilhantes mente da
igreja. Atraída a fé cristã pela pregação do bispo Ambrósio de Milão. Agostinho
passou por uma dramática e dolorosa experiência de conversão ao Senhor Jesus.
Ele chegou aos 32 anos de idade sem ter satisfeito o seu ardente desejo de
conhecer a verdade. Certo dia, em um jardim na cidade de Milão, lutando
desesperadamente com as questões momentosas da natureza e destino do ser
humano, quando pensou em ouvir algumas crianças que estavam cantando “Tolle,
lege" (“Toma e lê”). Sentindo que se tratava de uma orientação divina,
encontrou o documento do Novo Testamento que estava à mão, inicialmente, a
carta de Paulo aos Romanos e leu as palavras decisivas “revesti-vos do Senhor
Jesus” Rm 13.14) Essa no entanto, foi a gota d’água para Agostinho, para quem o
paganismo havia se tornado cada vez mais difícil de suportar a dedicar a sua
capacidade intelectual extraordinária a defender e consolidar a fé cristã
(MCGRATH, 2007, pág. 40).
Segundo a
literatura reformada, Agostinho foi o maior pregador da igreja Ocidental e um
dos maiores nomes da igreja cristã. Estudou em sua cidade natal e depois em
Madura e em Cartago, vindo a se destacar na retórica latina. Em Milão recebeu a
influência do grande Bispo Ambrósio (339-397), considerado o maior orador sacro
da antiga igreja latina (MATTOS, 2008, pág. 83). Segundo (LOPES, 2008),
Agostinho foi o primeiro teórico da homilética. Seu livro De Doctrina Christiana trata exclusivamente da arte da pregação.
Ele foca a mensagem fundamental do cristianismo, como decodificá-la e,
finalmente, como comunicá-la a outros (LOPES, 2008, pág. 45). Durante toda a
idade média, Agostinho influenciou todo o cristianismo de tal forma que a sua
obra não ficou esquecida. Sobre o impacto de Agostinho, (GONZÁLEZ, 2011),
afirma:
"Apesar de tudo, a sua obra não ficou esquecida entre os escombros
da civilização que desmoronava. Agostinho foi o mestre por excelência do novo tempo.
Durante toda a idade média, nenhum teólogo foi mais citado do que ele.
Consequentemente, ele acabou sendo um dos grandes doutores da igreja Católica
Romana” (GONZÁLES, 2011, pág. 215).
Sobre seu
estilo de pregação da Palavra de Deus, LOPES (2008), afirma o seguinte:
“Seus sermões eram exposições dos livros
bíblicos, mais notavelmente os Salmos e o quarto Evangelho. Agostinho pregou
tanto sermões lectio selecta como lectio continua. Todos falados diretamente ao
povo, insistindo sobre a necessidade de examinar suas vidas à luz do evangelho
e de confrontá-las a ele. Não pregou para impressionar, mas para levá-los para
o céu” (LOPES, 2008, pág. 45).
Para
Agostinho, o verdadeiro propósito da pregação não é apenas no sentido de
instruir, mas persuadir, mover e, acima de tudo, subjugar os ouvintes.
(ANGLADA, 2005), ao fazer menção a uma fala de Agostinho, traz a lume de um de
seus comentários quando menciona a reação que anelava com a sua pregação:
“Eu me empenho com toda a veemência da palavra
com o propósito de desarraigar e expulsar do coração e vida deles um mal tão
cruel e inveterado. Não foi, contudo, quando ouvi os aplausos, mas quando vi
lágrimas deles que achei que tinha produzido efeito. Pois o aplauso mostra que
eles foram instruídos e se deleitam., mas as lágrimas, que foram subjugados” (ANGLADA,
2005, pág, 52)
Agostinho
é considerado um dos maiores teólogos de todos os tempos. O que atualmente
chamamos de calvinismo, nada mais é que a doutrina de Paulo desenvolvida por
Agostinho e sistematizada por Calvino (LOPES, 2008, pág. 45). Combateu os
maniqueístas, os donatistas e os pelagianos no interesse de defender a pureza
das Escrituras. Autor de 230 obras, seus escritos mais tarde foram fonte de
consulta para reformadores como Lutero e Calvino, mas acima de tudo, era um
homem cuja vida e ministério estavam focados completamente na Palavra de Deus
(LOPES, 2008, pág. 46).
Ao relatar
a riqueza ministerial de Agostinho, (LOPES, 2008), afirma:
“Agostinho, acima de tudo, era um pregador
notável e um exegeta e um exegeta que moldou certos aspectos da pregação tanto
em seus dias como hoje. Agostinho é conhecido no Ocidente como, possivelmente,
o maior orador do cristianismo entre Paulo e Martinho Lutero. Agostinho pregou
sem manuscritos ou notas. Acredita-se que tenha pregado 8 mil sermões. Cerca de
685 dos seus sermões foram preservados. Sua pregação era literalmente
doutrinária. Podia até chorar no púlpito. O conteúdo para Agostinho era mais importante que a forma. O
conteúdo é o fundamento, mas o expositor cristão deve combinar sabedoria com
eloquência” (LOPES, 2008, pág. 46).
4.2. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DOS REFORMADORES
Muito
embora alguns se intitulam como donos da igreja , ainda assim, o que se sabe à
luz das Escrituras é que o único e verdadeiro dono da igreja é o Senhor Jesus
Cristo. Deus sempre preservou servos fiéis para dar prosseguimento à sua obra
na face da terra. Basta olharmos para o período da Pré-Reforma e iremos nos
deparar com vários líderes comprometidos com a exposição das Escrituras após um
longo período de apostasia. Dentro deles, destaca-se a figura de John Wycliffe
(1330-1384), homem de coração erudito, de cultura enciclopédica e, acima de
tudo, um homem comprometido com a pregação e divulgação dos escritos Sagrados
(MATTOS, 2008, pág. 127). (STOTT, 2003) chama John Wycliffe de “estrela da
alva” da Reforma. Homem que proclamou as Escrituras Sagradas como a autoridade
suprema da fé e da vida, que atacava o papado, as indulgências, a
transubstanciação e as riquezas da igreja (STOTT, 2003, pág 23). Possuía plena
convicção de que a vocação principal do clero era pregar a Palavra de Deus.
(STOTT, 2003), cita uma de suas falas a respeito da responsabilidade dos
ministros:
“O serviço mais sublime que os homens poderão
alcançar na terra é pregar a Palavra de Deus. Esse serviço é dever mais
específico dos sacerdotes, e por isso Deus exige diretamente da parte deles. E
por causa disso, Jesus deixava de lado outras obras e se ocupava principalmente
na pregação; assim também se ocupavam os apóstolos, e, por isso, Deus os amava.
A igreja, no entanto, é mais honrada pela pregação da Palavra de Deus, e, daí
esse é o melhor serviço que os pregadores prestam a Deus. Portanto, se nossos
Bispos não pregarem pessoalmente e se impedirem os sacerdotes verdadeiros de
pregar, serão culpados dos mesmos pecados daqueles que mataram Jesus Cristo.” (STOTT,
2003, pág. 23).
Da mesma
sorte, John Huss (1373-1415) e Gerônimo Savonarola (1452-1498), ambos
estudiosos e pregadores da Palavra de Deus. Todos estes servos de Deus foram
perseguidos por causa da verdadeira pregação, chegando ao ponto de Hus e
Savonarola serem martirizados pela própria igreja. A Reforma Protestante foi
uma volta à Palavra de Deus. Foi sobre o alicerce da centralidade da Bíblia que
a Reforma protestante ergueu suas colunas. Sola Scriptura. A autoridade das
Escrituras sobre a tradição e os sacramentos e a autoridade da igreja submetida
à autoridade das Escrituras.
Os
reformadores comprometeram piamente que a Escritura é a Palavra de Deus,
trazendo a Lectio continua de volta a
um local de destaque na adoração da igreja, Ulrich Zwinglio (1484-1531) ilustra
muito bem este estilo contínuo de pregação, pois era dedicado à pregação
expositiva da Palavra de Deus. Zwinglio começava com o Evangelho de Mateus e o
pregava inteiro, versículo por versículo, dia após dia, durante o ano inteiro.
E continuo nesse propósito “de pregar a Bíblia inteira, versículo por versículo
e um livro de cada vez” (LOPES, 2008, pág. 48). No entanto, este trabalho
concentrar-se-á em apenas dois reformadores, Martinho Lutero e João Calvino, os
dois mais importantes expoentes da
Bíblia no período da Reforma Protestante. Tanto Lutero quanto Calvino foram
homens altamente comprometidos com a Palavra de Deus, e seus exemplos
reergueram a igreja das cinzas da religiosidade sem vida.
4.2.1. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE MARTINHO LUTERO
Martinho
Lutero (1483-1546), detentor de uma das mais sublimes e brilhantes mentes que
já existiu, foi quem encabeçou o movimento da Reforma Protestante. Além de
grande pregador, possuía também dotes para ensinar, preparar panfletos e atuar
na tradução e composição de hinos (GONZÁLEZ, 2011, pág. 31). Devido ao zelo e
prestígio pela Palavra de Deus, tornou-se um ícone da Reforma Protestante, de
forma que a sua influência revolucionou toda a história da igreja. Como um
revolucionário a serviço do Reino de Deus, Lutero não perdia nenhuma
oportunidade de engrandecer o poder libertador e sustentador da Palavra de
Deus. Ele afirmou:
“A igreja deve a sua vida à Palavra. As
promessas de Deus são a causa da igreja, mas a igreja não é a causa das
promessas de Deus. Além do mais, existem apenas dois sacramentos autênticos, o
“batismo e o pão”, porque somente nesses dois achamos tanto o sinal divinamente
instituído quanto a promessas do perdão dos pecados. A Palavra de Deus,
portanto, é indispensável para a nossa vida espiritual. A alma pode dispensar
todas as coisas, menos a Palavra de Deus. Se ela possui a Palavra, é rica e
nada lhe falta, visto que a Palavra é a palavra da vida, da verdade, da luz, da
paz, da justiça, da salvação, da alegria, da liberdade. Assim é, porque a
Palavra se centraliza em Cristo. Daí a necessidade de pregar Cristo com base na
Palavra... pois pregar a Cristo significa alimentar a alma, torná-la justa,
libertá-la e salvá-la , se ela crer na pregação” (STOTT,
2003, pág. 24-25).
Martinho
Lutero, durante o seu ministério, revelou o elevado conceito que tinha a
respeito das Sagradas Escrituras. Quando pressionado pelo imperador Carlos V,
na Dieta de Worms, afirmou: "Estou certo na minha consciência e fortemente
amparado na Palavra de Deus” (STOTT, 2003, pág. 23). No fim, disse o seguinte:
“Ainda que eu perdesse meu corpo e minha vida
por causa da verdadeira Palavra de Deus, não poderei me afastar dela. Foi essa
pregação da Palavra Divina, e não a intriga política, nem o poder da espada,
que estabeleceu a Reforma da Alemanha. Eu simplesmente ensinava, pregava e
citava por escrito a Palavra de Deus, fora disso, eu não fazia nada. A Palavra
tudo realizou” (STOTT, 2003, PÁG. 26).
Lutero
valorizava altamente as escrituras em seus mínimos detalhes. E como expositor,
cria que o texto deve controlar o sermão, pois o Espírito Santo não ensina nada
além do que a Bíblia ensina. Sobre isto, MATTOS (2008) declara:
“Lutero estabeleceu forte vínculo entre o
Espírito Santo, a palavra externa e a Bíblia. Eles formam uma unidade
inseparável. O Espírito Santo usa as escrituras para chamar, convencer,
instruir os pecadores. Ele não ensina nada além do que a Bíblia ensina. A única
comprovação da veracidade e autoridade das Escrituras é o testemunho do
Espírito Santo por meio delas” (MATTOS, 2008, pág. 145).
Pregar
fazia parte do dia a dia de Lutero. Era um de seus deveres favoritos. Começou o
seu ministério de pregação no monastério e continuou na universidade,
frequentemente, na Town Church, às vezes, na estrada, ou nas viagens (LOPES,
2008, pág. 46). (LOPES, 2008), ainda cita James Stitzinger, que diz o seguinte
a respeito do prolífico ministério de pregação de Martinho Lutero: “Lutero,
provou ser um expositor ao produzir comentários sobre Gênesis e Salmos.
Romanos, Gálatas, Hebreus, Pedro e Judas, assim como sermões sobre os
Evangelhos e Epístolas” (LOPES, 2008, pág. 49)
Muitos dos
sermões de Lutero foram preservados e publicados. Muito embora não fosse um
pastor formal, ainda assim, foi um dos que pregou com mais frequência e, devido
à sua habilidade nos escritos originais, provavelmente foi o pregador de mais
autoridade entre os demais. Defendeu a pregação para os mais humildes e refutou
a missa realizada em Latim, pois, para Lutero, pregar na língua do povo era uma
forma de facilitar sua compreensão da Palavra de Deus. Valorizou grandemente a
igreja e acreditava que a suprema autoridade na Igreja é a Palavra de Deus
pregada e ouvida.
4.2.2. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA NO MINISTÉRIO DE JOÃO CALVINO
Sem
dúvida, o mais importante sistematizador da teologia protestante no século XVI
foi João Calvino (1509-1564). Segundo Calvino, as Escrituras não precisam
conformar-se à pregação; a pregação é que deve conformar-se com as Escrituras.
Nos dias de Calvino, o principal assunto de controvérsia era a autoridade
suprema da igreja. As tradições da igreja, os decretos impostos pelo papa e,
consequentemente, as decisões oriundas dos conselhos eclesiásticos precederam a
verdade contida nas Escrituras. Entretanto, João Calvino, pela Graça de Deus,
permaneceu firme sobre a pedra angular da Reforma, Sola Scriptura, isto é, “somente a Escritura” Ele acreditava que as
Escrituras eram a verbum Dei, ou
seja, a Palavra de Deus e que somente a Palavra de Deus tinha autoridade
suficiente para regulamentar a vida da igreja e não os papas, conselhos ou
tradições (LAWSON, 2008, pág 34). Ele considerava a explicação das Escrituras a
parte mais importante do culto cristão, pois dizia: “O que Deus tem a dizer ao
homem é infinitamente mais importante do que as coisas que o homem tem a dizer
para Deus” (LAWSON, 2008, pág. 38).
Calvino
cria que, quando a Bíblia era aberta e explicada de forma correta e coerente, a
soberania de Deus era manifestada para a congregação imediatamente. Como
erudito e conhecedor dos idiomas originais, quando pregava no Antigo
Testamento, o texto era traduzido diretamente do hebraico. Quando pregava sobre
o Novo Testamento, pregava diretamente no grego original. Em suas pregações,
sempre tinha à frente um Antigo Testamento hebraico ou um Novo Testamento grego
e, geralmente, não usava quaisquer anotações em seus sermões (LOPES, 2008, pág.
50). Suas pregações eram repletas de conteúdo bíblico. Muito embora tivesse uma
formação humanística, Calvino rejeitou toda teologia de cunho natural e
especulativa, optando pelas Escrituras como o caminho mais seguro para o
conhecimento de Deus (MATTOS, 2008, pág. 156). Sua preocupação era levar às
pessoas a uma adoração apropriada de Deus, pois, para tanto, não existe outro
meio a não ser as Escrituras. Sobre este fato (MCGRATH 2007) comenta dizendo:
“É precisamente porque Calvino atribui uma
importância suprema à adoração apropriada de Deus, à medida que este revelou a
si mesmo em Jesus Cristo, que ele considera tão importante reverenciar e
interpretar, corretamente, o único meio através do qual se pode obter o pleno e
definitivo acesso a esse Deus, as Escrituras”. (MCGRATH,
2007, pág. 157).
Citando
Parker, (LOPES, 2008) considera a pregação de Calvino, dizendo:
“Domingo após domingo, dia após dia, Calvino
subia as escadas do púlpito. Ali ele guiava pacientemente a congregação,
versículo por versículo, livro após livro da Bíblia. O que o levava a pregar e
a pregar como fazia? O impulso ou a compulsão de pregar era teológico. Calvino
pregava porque cria. Pregava como fazia por acreditar no que fazia” (LOPES,
2008, pág. 50).
O grande
reformador de Genebra tinha plena consciência de que a autoridade de sua
pregação não se encontrava nele mesmo. Ele disse: “quando subimos ao púlpito,
não levamos nossos sonhos e fantasias”. Ele sabia que assim que é assim que os
homens se afastam da Palavra de Deus, ainda que seja em pequena proporção, eles
pregam nada mais que falsidades, vaidades, mentiras e enganos. É tarefa do
expositor bíblico, dizia ele, fazer com que a suprema autoridade da Palavra
divina influencie seus ouvintes (LAWSON, 2008, pág. 35). Para Calvino, a
primeira marca de uma igreja verdadeira fiel da Palavra de Deus. Sobre este
fato (STOTT, 2003), comenta:
“Enquanto Calvino escreveu suas instituições na
paz comparativa de Genebra, ele, também, exaltava a Palavra de Deus. Em
especial, enfatiza que a primeira marca, a principal, de uma igreja verdadeira,
era a pregação fiel da Palavra. Sempre onde vemos a Palavra de Deus pregada e
ouvida com pureza, escreveu ele, e os sacramentos administrados segundo a
instituição de Cristo, ali não se pode duvidar, existe uma igreja de Deus” (STOTT,
2003, pág. 26).
Como
ministro titular em Genebra, Calvino pregava duas vezes aos domingos e todos os
demais dias da semana em semanas alternadas, de 1549 até a sua morte em 1564.
Calcula-se que tenha pregado mais de dois mil sermões somente no Antigo
Testamento. Passou um ano um ano fazendo a exposição de Jó três anos em Isaías
(LOPES, 2008, pág. 52). Sob a administração de Calvino, Genebra alcançou
crescimento espiritual, moral e material. (LAWSON, 2008) cita James Montgomery
Boyce que afirmou o seguinte sobre Calvino e sua obra em Genebra:
“Calvino
não tinha outra arma senão a Bíblia... Ele pregava a Bíblia todos os dias, e,
sob o poder desta pregação, a cidade pode ser transformada. Conforme o povo de
Genebra adquirir conhecimento da Palavra de Deus e era transformado por ela, a
cidade tornou-se, com John Knox chamou-a mais tarde, uma Nova Jerusalém, de
onde o Evangelho espalhou-se para o resto da Europa, para a Inglaterra, e para
o Nono Mundo” (LAWSON, 2008, pág. 15).
As pregações de João Calvino eram consideradas
amplas e minuciosas acerca das Escrituras. Este era o sentimento presente na
pregação de Calvino. Do começo ao fim, era a Soli Deo Gloria: somente para a
honra e Glória de Deus (LAWSON, 2008, pág.79). Seu ministério teve
ampla influência na cidade de Genebra como em todo mundo da época. De todas as partes chegavam
estudantes para estudar e serem treinados para o sagrado ministério aos pés de
João Calvino. Sobre este fato (GONZÁLES, 2011) registra:
“Naquela
academia, a juventude genebrina se formou segundo os princípios calvinistas.
Porém, seu principal impacto se deve a que pessoas procedentes de vários outros
países cursaram nelas estudos superiores. Depois elas levaram o calvinismo aos
seus países. (GONZÁLEZ, 2011, pág. 69).
Do começo
ao fim do seu ministério, Calvino manteve a sua pregação singularmente
focalizada na explicação do significado planejado por Deus para o texto
público. Como Parker escreveu: “A pregação expositiva consiste na explanação e
aplicação de uma passagem das Escrituras. Sem explicação ela não é expositiva;
sem aplicação ela não é pregação” (LAWSON, 2008, pág. 79). Calvino se dedicou
com rigor a esta tarefa. Beza afirmou sobre a pregação de Calvino que “cada
palavra pesava uma libra”. Alvino exerceu influência em vários de seus
contemporâneos, dentre os quais Henry Bullinger, (1504-1572), (LOPES, 2008,
pág. 52). Anos depois, Charles Haddon Spurgeon expressou as seguintes palavras
a respeito de João Calvino: “Nenhum outro homem pôde expressar, conhecer e explicar
as Escrituras de forma mais clara do que a forma como Calvino fez” (LAWSON,
2008, pág. 119).
4.3. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA DE CALVINO À ERA MODERNA
A história
da igreja está repleta de exemplos de bons pregadores, como os já citados João
Crisóstomo, Agostinho e os resultados gloriosos que a pregação expositiva
proporcionou à igreja de Cristo, Onde a Palavra foi pregada com fidelidade a
igreja experimentou resultados satisfatórios. Com a Reforma Protestante, com a
volta às Escrituras, a igreja se reergueu das cinzas do descrédito e multidões
foram transformadas pelo poder da Palavra de Deus. Martinho Lutero e João
Calvino foram expositores fiéis da Palavra de Deus.
Os
puritanos são herdeiros das leis do movimento reformado. Viveram em uma época
de perseguição e martírio. Criam na sabedoria de Deus, na supremacia das
Escrituras e na importância da pregação expositiva. Colocavam o púlpito no
centro do templo, mostrando a centralidade e a primazia da pregação. Pregavam
com ardor e sentido de urgência. Richard Baxter, o mais conhecido de todos os
expoentes puritanos, certa vez disse: “Preguei como se tivesse certeza de que
nunca mais pregaria. Preguei como um homem prestes a morrer, para pessoas que
estão mortas para os seus pecados” (MOHLER, 2008, pág. 143). O objetivo do
puritano era tornar seus ouvintes melhores cristãos, pois consideravam o
Evangelho o remédio para a alma. (LOPES, 2008, pág. 58).
O século
XVIII também foi beneficiado através do ministério de vários pregadores de
grande destaque. Na Inglaterra, John Wesley e George Whitefield foram os nomes
mais famosos na área da pregação. Ambos foram missionários na América, na Nova
Inglaterra. Da mesma forma, Howell Harris e William Willians, no País de Gales,
destacaram-se como pregadores e poderosos revivalistas. Na América do Norte,
Jonathan Edwards destacou-se como a maior figura do puritanismo. David Vaughan,
falando sobre a espiritualidade de Edwards afirma:
“A espiritualidade de Edwards apresentava-se não
só numa profunda humildade, mas também numa profunda santidade. Todos os que
conheciam ficaram impressionados com a sua integridade. Honestidade,
imparcialidade e modéstia, tudo isto estava arraigado na conformidade de sua
alma à vontade de Deus” (LAWSON, 2010, pág. 77).
O século
XIX, por sua vez, experimentou por sua vez uma série de grandes despertamentos
na Inglaterra, no País de Gales, Escócia e América do Norte. No entanto, a
igreja sofreu grande perseguição ideológica. Nacionalismo, evolucionismo e
liberalismo teológico produziram grande devastação na igreja. O iluminismo, com
seu ponto de vista centrado no homem, considerou a razão humana o juiz supremo
de tudo, rejeitou os milagres, a revelação e as doutrinas sobrenaturais, como a
encarnação e a redenção. (LOPES, 2008, pág. 60-61).
No século
XX, também produziu grandes expositores das Escrituras. E ainda assim, alguns
deles foram e continuam sendo grandes pregadores da Palavra de Deus. Marcado
por grande entusiasmo, com o avanço da ciência, a humanidade no auge das
conquistas e muitas nações se orgulhando de sua prosperidade, o humanismo em
ascendência colaborou para que no mínimo duas guerras demonstrassem a
brutalidade de seres sem o temor de Deus. Ainda assim, a Palavra de Deus, que é
infalível, continuou produzindo transformação. (DIETRICH BONHOEFFER 1906-1945)
que foi capturado pelos nazistas em abril de 1943, passou dois anos na prisão e
foi enforcado em abril de 1945 (BROWN, 2007, pág. 171). Ele ressalta de forma
tão veemente a importância da pregação ao ponto de dizer:
“O mundo existe com todas as suas palavras por
causa da palavra proclamada, no sermão, lança-se o fundamento para um novo
mundo. Nele a palavra original torna-se audível. Não é possível fugir nem se
afastar da palavra dita no sermão; nada nos livra da necessidade desse
testemunho, nem sequer o culto ou a liturgia. O pregador deve estar seguro de
que Cristo entra na congregação mediante essas palavras da Escritura por ele
proclamadas” (LOPES, 2008, pág. 64).
O Dr
Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) foi o sucessor de George Campbell Morgan
(1863-1945) na Capela de Westminster em Londres. Lloyd-Jones deu grande
importância à pregação expositiva. Dizia: “Qual é a principal finalidade da
pregação? Gosto de pensar que é esta: dar a homens e mulheres o senso de Deus e
sua presença” (JONES, 1976, pág. 95).
Muitos
outros pregadores influenciaram e ainda influenciam a exposição bíblica no
século XX, diante os quais John Stott, W. A. Criswell, Ray Stedman, John Piper
e outros. A história da igreja está repleta de bons pregadores, que através da
exposição puramente bíblica, conduziram o corpo de cristo ao genuíno
crescimento. A Reforma Protestante, a volta às Escrituras, proporcionou grande
despertamento e inúmeras vidas foram transformadas pelo poder de Deus mediante
a exposição bíblica. Da mesma forma, este puritano afirma que a exposição
puramente bíblica foi a causa do triunfo do cristianismo e do crescimento da
igreja. De modo que, afirma que, a exposição bíblica, muito embora não seja o
único fator, sem ela, é impossível estabelecer uma igreja forte e saudável.
João Calvino dizia: “Deus cria e multiplica sua igreja somente por meio de sua
Palavra. É só pela pregação da graça de Deus que a igreja escapa de perecer.”
(LAWSON, 2008, pág. 43).
5. A
EXPOSIÇÃO BÍBLICA E A IGREJA CONTEMPORÂNEA
A
confissão de Westminster (2001) declara:
“Ainda que a luz da natureza e as obras da
criação e da providência manifestam de tal modo a bondade, a sabedoria e o
poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, todavia não são suficientes
para dar aquele conhecimento de Deus e de sua vontade, necessário à salvação;
por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos,
revelar-se e declarar a sua igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor
preservação e pregação e propagação da verdade, para o mais seguro
estabelecimento e conforto da igreja
contra a corrupção da carne e malícia de satanás e do mundo, foi igualmente
servido fazê-la escrever toda. Isso torna a Escritura Sagrada indispensável,
tendo cessado aqueles antigos modos de Deus revelar sua vontade ao povo”
(WESTMINSTER, 2001, pág. 15).
Da mesma
sorte, a confissão de fé congregacional (2015) declara o seguinte a respeito da
Palavra de Deus:
“Por esta fé, o cristão considera ser verdadeiro
tudo quanto está revelado na Palavra, pois a autoridade do próprio Deus fala em
sua Palavra, e age de conformidade com o que cada trecho específico da mesma
contém, obedecendo aos mandamentos, tremendo ante suas ameaças, e abraçando as
promessas de Deus para esta vida e a vida por vir”
(CONGREGACIONAL, 2015, pág, 69).
A
supremacia da Palavra de Deus e a primazia da pregação pura são elementos indispensáveis em relação ao conhecimento saudável da igreja
de Cristo. Não existe outro meio pelo qual se possa proclamar as verdades
contidas nas Escrituras, a não ser através da verdadeira pregação. (DEVER,
2007) salienta: “A primeira marca de uma igreja saudável é a pregação
expositiva. Não é somente a primeira marca, é a mais importante de todas as
marcas, porque, se você desenvolvê-la corretamente, todas as outras seguirão” (DEVER,
2007, pág. 40).
A Bíblia é
a regra suprema de doutrina e de vida, de fé e prática (2Tm 3:16,17). A Bíblia
não é somente poderosa, ela é inigualável, (CHAPPELL, 2007), trabalha cinco
princípios pelos quais podemos perceber o poder transformador da Palavra de
Deus:
“Cria: Disse
Deus; Haja Luz, e houve luz” (Gn 1.3) “pois ele falou, e tudo se fez; ele
ordenou e tudo passou a existir” (SL. 33.9).
“Controla: ele envia
as suas ordens à terra, e sua palavra corre velozmente, dá a neve e espalha a
geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas... manda a sua palavra e o
derrete” (SL. 147, 18).
“Persuade: mas
aquele em quem está a minha a minha palavra fale a minha palavra com verdade
(...) diz o Senhor. Não é a minha palavra fogo, diz o Senhor, o martelo que
esmiúça a pedra?" (Jr. 23: 28,29).
“Cumpre
seus propósitos: Porque assim, como descem a chuva e a neve dos
céus e para lá não tornam, sem que a terra... assim também será a minha palavra
que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e
prosperará naquilo para que a designei” (Is 55: 10, 11).
“Anula os
motivos humanos: Na prisão, o apóstolo Paulo se regozijava,
porque quando outros pregavam a Palavra... quer por pretexto, quer por verdade,
a obra de Deus seguia adiante. (Fl. 11:18) (CHAPPELL, 2007, pág. 18-19).
O apóstolo
Paulo, escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino,
para a repreensão, para a correção, para educação na justiça” (2Tm 3:16). Não
são as novidades do mercado da fé que irão fazer da igreja uma entidade pura e
imaculada, mas as finas iguarias encontradas na Palavra de Deus. A respeito da
importância e centralidade das Escrituras na vida da igreja (LOPES, 2008),
afirma:
“A Bíblia é a escola do Espírito Santo em que o
homem aprende tudo o que é necessário e prático para ter uma vida abundante. É
o livro por excelência, inspirado por Deus, escrito por homens, concebido no
céu, nascido na terra, odiado pelo inferno, pregado pela igreja, pregado pela
igreja, perseguido pelo mundo e crido pelos eleitos de Deus” (LOPES,
2008, pág. 72).
A igreja
contemporânea precisa desesperadamente de uma volta completa às Escrituras,
pois somente a Bíblia que é a Palavra de Deus triunfou diante de todas as
adversidades impostas pelo inimigo da noiva de Cristo. O profeta Isaías, disse:
“seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a Palavra do nosso Deus permanece
eternamente” (Is 40:8). Da mesma forma o Senhor Jesus Cristo afirma: “passará o
céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mt 24:35).
A falta de
crescimento sadio na maioria das igrejas protestantes da atualidade, nada mais
é, do que uma consequência viva e direta da ausência da centralidade das
Escrituras nos púlpitos (LOPES, 2008, pág. 81). O principal problema das
igrejas atuais é que a maioria dos seus líderes não estão cumprindo o IDE de
Jesus. O mandamento do mestre é que a Palavra seja pregada em todo o mundo (Mc
16:15). Contudo, as igrejas têm substituído o mandamento de Cristo por aquilo
que, via de regra, agrada o coração do homem. Muitos líderes estão trocando a
Palavra de Deus por teatro, danças e modismos que não edificam em nada a vida
da igreja. Segundo (BOYCE, 2003) não temos sido vitoriosos no que diz respeito
ao crescimento da igreja pelo motivo de não sermos suficientemente obedientes
ao chamado de Jesus de nos importar com ele, se importa a fazer como ele fez
(BOYCE, 2003, pág, 28). (BOYCE, 2003), cita CAL THOMAS e ED DOBSON quando diz:
“Não temos deficiência de líderes, mas de
seguidores do líder que pode transformar vida e nações. Não precisamos alargar
nossas visões, mas fazê-las menores e mais focalizadas. Não precisamos mais
números, mas mais qualidade de consistência entre os números que já temos.
Precisamos de mais pessoas que façam coisas da maneira de Deus e menos pessoas
fazendo coisas do jeito do homem” (BOYCE, 2003, pág. 28)
5.1. O QUE
NÃO É EXPOSIÇÃO BÍBLICA
(MICHELLEN,
2018), diz: “Sermão expositivo não é pegar uma passagem da Bíblia e explicar o
significado de cada versículo e de cada palavra importante que vamos
encontrando no caminho”. Quando isso acontece, o pregador deixa de ser um
expoente da Palavra para se transformar em uma espécie de comentário bíblico
ambulante. E afirma também que “não é usar o púlpito para dar uma aula seca e
pouco fértil de interpretação bíblica que deixa os ouvintes confusos e
irritados, tentando discernir qual é a mensagem de Deus para eles”.
(BAXTER,
2008). Dizia que: “É de doer o coração, ver pecadores, mortos e entorpecidos,
assentados para receber uma mensagem de vida, e não ouvirem do pastor nenhuma
palavra que os desperte” (BAXTER, 2008, pág. 126). Por mais agradável, alegre e
prazeroso que seja o culto, se não houver pregação genuína da Palavra de Deus
para transformação de vida, tal culto é inútil. A Confissão de Fé de
Westminster declara que “o arrependimento para a vida é uma graça evangélica,
doutrina esta que deve ser pregada por todo Ministro do Evangelho, tanto a fé
em Cristo” (WESTMINSTER, 2001, pág. 118).
Infelizmente,
pessoas têm se deslocado para algumas igrejas em busca de Deus, mas ao invés
disso, tem encontrado muito homem. O pregador precisa estar cheio de verdade de
Deus; se a mensagem tem um pequeno custo para o pregador, também terá um
pequeno valor para a congregação (LOPES, 2008, pág. 77). A verdadeira exposição
bíblica que é também teológica não é fácil. A disciplina rígida necessária para
interpretar corretamente a Escritura é um fardo constante e a mensagem que
somos solicitados a proclamar frequentemente é ofensiva, por isso, muitos optam
por não confrontar os ouvintes com a Palavra de Deus, mas, pregar em suas
igrejas palavra de morte que afagam o ego do ser humano.
Na igreja
dos dias atuais, alguns pastores são encorajados a fazer de tudo um pouco. A
regra é agradar, manter o templo cheio, não confrontar, pois tal ato pode
esbarrar em algum pecado particular de alguém e a saída deste prejudica a
arrecadação da igreja. Coaduna-se com (MACARTHUR, 2010) quando diz:
“Atualmente, os pastores enfrentam uma pressão
rígida para fazer de tudo, exceto isso. Eles são encorajados a ser contadores
de histórias, comoventes ou palestrantes motivacionais. São alertados para
evitar assuntos que as pessoas consideram desagradáveis. Muitos abrem mãos da
pregação bíblica a favor de conversas superficiais planejadas para as pessoas
se sentirem bem. Alguns até mesmo substituíram a pregação por representações
dramáticas e outras formas de entendimento encenado” (MACARTHUR,
2010, pág. 132-133).
Da mesma
forma, há também aqueles que se intitulam pastores, bispos e missionários e, ao
invés de nutrir o povo com o trigo da verdade, estão oferecendo apenas a palha
do engano. Não pregam o que é certo, mas aquilo que dá certo e, com isso, cada
vez mais o templo vai se transformando em um mercado e os crentes consumidores,
que, atraídos por um discurso mentiroso, se tornam vítimas de falsos profetas
que vendem a graça de Deus por dinheiro. Sobre este frequente desvio da verdade
de Deus nos púlpitos de algumas igrejas contemporâneas (LOPES, 2004, afirma o
seguinte:
“A igreja atual está substituindo o pão do céu
por outro alimento. Está pregando o que o povo quer ouvir e não o que o povo
precisa ouvir. Prega para agradar e não para alimentar. Da palha invés do trigo
ao povo (Jr. 23:28). Prega sobre saúde e prosperidade e não sobre a cruz de
Cristo. Prega os direitos do homem e não a soberania de Deus. Prega sobre o que
Deus pode fazer para o homem e não sobre o que Deus requer do homem. Prega sobre acumular tesouros na terra e
não sobre um lar no céu. Prega sobre a libertação e não sobre o arrependimento
e conversão. Prega outro evangelho e não sobre o evangelho da graça. Prega o
antropocentrismo e não o teocentrismo. Não ensina que o fim principal do homem
é glorificar a Deus, mas que o fim principal de Deus é agradar e exaltar o
homem” (LOPES, 2004, pág. 21).
O
Arcebispo William Temple, dizia que: “A igreja é a única sociedade cooperativa
do mundo, que existe em benefício dos que não são membros” (AGRESTE, 2007, pág.
80). Mas, não é imitando as práticas do mundo que se fará com que a igreja
alcance os perdidos. Tais práticas podem até agradar, podem até atrair
multidões e fazer com que retornem no domingo seguinte, mas isso não é
exposição Bíblica. Falando a respeito da pregação expositiva não tem como
propósito, (LOPES, 2008) diz o seguinte:
“A suficiência da Escritura foi abandonada para
adotar outras doutrinas estranhas à Bíblia. Para agradar o mundo, muitas
igrejas mudaram a mensagem e a abordagem. Para atrair pessoas, muitos pastores
não pregam o que Deus manda, mas o que as pessoas querem ouvir. Eles mudaram o
glorioso Evangelho de Jesus Cristo por outro evangelho. De fato, a mensagem é
centrada no homem, em vez de centrar-se em Deus” (LOPES,
2008, pág. 98)
A
verdadeira pregação das Escrituras produz uma adoração centrada em Deus e não
na preferência de um auditório. Jesus, disse: “Deus é espírito; e importa que
os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:24). Então
concorda-se com (BAXTER, 2008), quando diz:
“Um comandante traidor, que só atira contra os
inimigos com balas de festim, poderá fazer tanto barulho com as suas armas
quanto com os que atiram com balas de carga, mas jamais ferirá o inimigo. Desta
maneira, alguém poderá fazer alarde do evangelho e falar com aparente fervor,
mas raramente ferirá a satanás e suas hostes” (BAXTER, 2008, pág. 65).
5.2. O QUE É
EXPOSIÇÃO BÍBLICA
Exposição
bíblica é o texto sagrado dirigindo o sermão. As ideias, o conteúdo, as
divisões e a aplicação do sermão devem ser centrados na passagem bíblica, não
nos critérios, nos pensamentos e nas opiniões ou teólogos. Ou seja, é “pregar a
Palavra de Deus e não sobre a Palavra de Deus”. Sendo assim, uma vez que a
exposição bíblica é a pregação centrada na Palavra de Deus, a tarefa do
pregador é ajustar os seus pensamentos à ideia real contida nas escrituras
(LOPES, 2008, pág. 141).
Exposição
bíblica é pregar estando a serviço da Palavra de Deus. Pressupõe a crença na
autoridade das Escrituras, a crença no fato de que a Bíblia é realmente a
Palavra de Deus. Os profetas do Antigo Testamento receberam não uma comissão
especial de ir e falar, mas uma mensagem particular que deveriam proclamar
(DEVER, 2010, pág. 42 (MARINHO 2008) Falando sobre o poder da pregação
expositiva, afirma:
“Exposição é o contrário de imposição. Essa
simples declaração diz quase tudo sobre o sermão expositivo. Significa que, no
sermão expositivo, você não “impõe”, ou seja, não “põe” nada no texto nem
determina nada sobre o texto. Ao contrário, você “expõe” ou extrai do texto a
informação, deixando que o texto determine o conteúdo e “ponha” a mensagem na
vida do pregador e dos ouvintes. É aqui que está o poder do sermão expositivo é
o grande desafio para o pregador, ou seja, explorar o conteúdo do texto e permitir
que o poder do texto alcance o ouvinte” (MARINHO, 2008, pág. 201).
Para
Calvino, a pregação é a explicação das Escrituras. O texto governa o pregador.
A passagem em si é a voz de Deus; o pregador, a boca e os lábios; e a
congregação, o ouvido em que a voz soa (LOPES, 2008, pág. 141). A pregação é a
Palavra de Deus porque transmite a mensagem bíblica que é aquilo que Deus tem
para falar do seu povo (ANGLADA, 2005, pág. 61). Ainda citando DABNEY, que usa
o termo arauto para descrever o
ofício do pregador, (ANGLADA, 2005), afirma o seguinte:
“Primeiro, não lhe compete inventar a sua
mensagem, mas transmiti-la e explicá-la. Ele lembra, por outro lado, que o
arauto “não transmite a mensagem como mero instrumento sonoro, como uma
trombeta ou tambor; ele é um meio inteligente de comunicação... ele tem um cérebro, além de
uma língua, e espera-se que ele entregue e explique de tal maneira a mente do
seu Senhor, que os ouvintes recebam, não apenas os sons mecânicos, mas o
verdadeiro significado da mensagem” (ANGLADA, 2005, pág. 62).
Charles
Simeon de Cambridge, um exímio expositor das Escrituras, certa vez, em uma
carta ao seu publicador, escreveu:
“Meu esforço é ressaltar num texto bíblico o que
está ali e não simplesmente jogar para dentro dele o que imagino que talvez
esteja ali. Sou muito zeloso quanto a isso; nunca falar mais nem menos do que
acredito ser a mente do Espírito na passagem que estou expondo” (STOTT.
2003, pág. 136).
A
verdadeira exposição bíblica não é apenas um mero comentário sobre uma passagem
da Escritura. Muito além disso, a verdadeira exposição bíblica tem como
objetivo tornar o texto bíblico útil, informativo e relevante para o ouvinte.
John Stott compara o sermão a uma ponte entre dois mundos (STOTT, 2003,
pág.146). Contudo, para que um sermão seja expositivo, deve estar baseado em
uma passagem bíblica. O sentido real da passagem deve ser encontrado e deve ser
relacionado com o contexto imediato e geral da passagem. As verdades devem ser
esclarecidas e agrupadas em volta de um tema instigante. Assim, os ouvintes
serão chamados a obedecer a essas verdades e aplicá-las na vida diária (LOPES,
2008, pág. 143).
J.I.
Parker definiu a pregação como “o evento pelo qual Deus traz para o povo uma
mensagem de instrução e orientação procedentes dele mesmo, biblicamente
fundamentada, e impactante que diz respeito a Cristo, através das palavras de
um porta voz” (MOHLER, 2009, pág. 56). Daí então, (MARINHO, 2008) destaca
quatro verdades as quais exemplificam as vantagens de uma mensagem expositiva
da Palavra de Deus:
-1) “Garante a mensagem de Deus. Por
estar baseado e estruturado num texto bíblico, não há risco de se pregar um
assunto supérfluo, já que o próprio texto é a mensagem cujas ideias serão
apresentadas no sermão.
-2) Honra a Bíblia. Pelo fato de tratar a Bíblia tal como foi
escrita, o sermão expositivo caracteriza-se pelo respeito ao texto e a seu
sentido original. Além disso, coloca a Bíblia acima de qualquer outra fonte.
-3) Alimenta a igreja. No sermão expositivo, o ouvinte é levado a ter
um contato mais profundo com a Bíblia, o que resulta em alimento espiritual
mais sólido. Isso aumenta também a familiaridade do ouvinte com o texto sagrado
e desenvolve nele o desejo de conhecer a Bíblia.
4) Alimenta e desenvolve o pregador. Ao preparar-se para alimentar os outros, o
pregador alimenta a sua alma, tornando-se ele mesmo mais convicto da mensagem
que deseja apresentar” (MARINHO, 2008, pág. 202-203).
Um dos
documentos da assembleia de Westminster, declara que “o pregador deve ser um
instrumento com relação ao texto, abrindo-o e aplicando-o como Palavra de Deus
aos seus ouvintes para que o texto possa falar e ser ouvido, elaborando cada
ponto do texto de tal forma que a sua audiência possa discernir a voz de
Deus”. Em outras palavras, o pregador
expõe, não impõe. Como diz o teólogo escocês Sinclair Ferguson, “o pregador
cria o sermão, mas não cria a mensagem. Ele proclama e explica a mensagem que
recebeu”, Paulo coloca as coisas da seguinte forma (2Cor 4:1,2):
“Pelo que, tendo este ministério, segundo a
misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos, pelo contrário, rejeitamos as
coisas que, por vergonhosas, se não ocultam, não andando com astúcia, nem
adulterando a Palavra de Deus; antes, nos recomendamos à consciência de todo
homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade” (II Cor.
4:1-2).
Por este
motivo, o pastor australiano Gary Millar afirma que, a chave da pregação
expositiva é tornar evidente a mensagem do texto. Ajudar as pessoas a vê-lo,
senti-lo e entendê-lo “. E, mais adiante acrescenta: “Estou totalmente
convencido de que o tipo pregação que muda os corações das pessoas é aquele que
permite ao texto falar de si mesmo” Com isso, o grande expositor da Escrituras
STOTT, afirma:
“Expor as Escrituras é extrair o que se encontra
no texto e deixá-lo ao alcance da vista. O expoente emprega esforço para expor
o que parecia expor o que estava oculto, confere clareza ao que parecia
confuso, desfaz os nós e desmonta o que parecia um assunto difícil. O oposto da
exposição, é a imposição, ou seja, impor sobre o texto algo que não está
incluído nele. O texto em questão pode ser um versículo, uma oração gramatical,
ou ainda uma só palavra. Do mesmo modo, pode tratar-se de um parágrafo, um capítulo
ou um livro inteiro. O tamanho do texto não tem importância, desde que seja
tirado da Bíblia; o importante é o que vamos fazer com ele. Seja curto ou
extenso, nossa responsabilidade como expositores é fazer com que o texto seja
exposto de tal modo que transmita uma mensagem clara, simples, exata, de forma
pertinente, sem adições, subtrações ou falsificações.” (STOTT,
2003, pág. 122).
O dever do
pregador é de apresentar o Evangelho em sua totalidade. Pregar é a atividade
mais admirável e emocionante na qual um homem pode se envolver, por causa do
que ela nos proporciona no presente e nas gloriosas e infindas possibilidades
no futuro eterno. Lloyd-Jones, dizia: “a obra da pregação é a mais elevada, a
maior e mais gloriosa vocação para a qual alguém pode ser chamado”. (JONES,
1976, pág.43). Diante da mais alta posição, da mais sublime tarefa que é ser um
mensageiro da Palavra de Deus, é importante saber como fazer um sermão
expositivo, qual caminho seguir, e quais os mecanismos que são usados no
preparo. O pregador precisa entender que o texto vai ditar e controlar o que
ele vai falar, como bem assinala (STOTT, 2003). “Isso é pregação expositiva ou,
para ser mais preciso, isso é pregação!”. Quando é algo menos que isso, deixa
de ser pregação expositiva para se transformar em outra coisa. (LAWSON, 2008)
diz que Calvino entendia que a “pregação é a exposição pública das Escrituras
pelo homem enviado por Deus, na qual o próprio Deus está presente em julgamento
e em graça”. Por isso. É importante estar consciente e preparado para tal
missão desafiadora de nossos dias. (MARINHO, 2008) nos dá um excelente guia de
como preparar um sermão expositivo:
5.2.1. GUIA
DE COMO PREPARAR UM SERMÃO EXPOSITIVO
- Comece
orando;
-
Identifique as necessidades dos ouvintes;
- Escolha
a passagem bíblica;
-
Determine o objetivo do sermão;
-
Determine o tema do sermão;
-
Determine o título do sermão;
-
Decomponha o texto;
- Conheça
o contexto bíblico;
- Ache as
subdivisões;
- Pesquise
em comentários bíblicos;
- Pesquise
em teologias sistemáticas, introduções, chaves bíblicas e dicionários bíblicos;
-
Acrescente comentários as subdivisões;
-
Acrescente as aplicações;
- Faça a
introdução;
- Faça a
conclusão.
5.2.2.
PERGUNTAS QUE SE DEVEM FAZER AO TEXTO AO ELABORAR O SERMÃO EXPOSITIVO
- Qual é o
sentido literário do texto;
- Quem é
que está falando;
- Para
quem foi dirigida a mensagem;
- Há
alguma palavra que merece atenção especial no texto;
- Qual é o
contexto que foi dito;
- O que a
Bíblia fala deste assunto em outros lugares.
5.3. O
RESULTADO DA EXPOSIÇÃO BÍBLICA NA VIDA DA IGREJA
A pergunta
76 do Catecismo Maior de Westminster interroga-nos sobre a seguinte questão: “O
que é arrependimento que conduz a vida?” E responde: “O arrependimento que
conduz a vida que conduz à vida é uma graça divina é uma graça salvífica, opera
no coração do pecador pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus” (WESTMINSTER,
2001, pág. 62).
Como já se
observou, a exposição bíblica está arraigada em solo escriturístico. De acordo
com a proposta, ficou claro que foi o meio pelo qual os profetas do Antigo
Testamento, os apóstolos, os pais da igreja, os reformadores, os puritanos e os
pregadores mais conhecidos usaram para proclamar a verdade de Deus e chamar o
povo ao arrependimento. Sendo assim, pode-se então dizer que a exposição
bíblica é um dos fatores mais importantes para o crescimento da igreja. John
Stott, já dizia que: “pregar é indispensável ao cristianismo da igreja”, John
Stott (MOELLER, 2009, pág, 58).
(EBY 2001)
Salienta a importância da pregação bíblica e os resultados obtidos pela igreja
no livro de Atos afirma:
“A
pregação segundo Atos era uma pregação de poder. Era pregar o evangelho de
poder no poder do Espírito Santo. Era pregação de poder porque pela graça de
Deus alcança o milagre do povo nascimento transformava vidas despedaçadas”
(EBY, 2001, pág. 36).
O Apóstolo
Pedro pregou o seu primeiro sermão em Pentecostes e quase 3 mil pessoas se
renderam a Cristo (Atos, 2:41) como resultado da exposição bíblica, o segundo
sermão de Pedro produziu um crescimento de mais de 2 mil convertidos. “Muitos,
porém, dos que ouviram a Palavra, a aceitaram, subindo o número de homens a
quase 5 mil (At. 4.4). Da mesma sorte, os cristãos dispersos pela perseguição
em Jerusalém pregaram aos Judeus e gregos (Atos, 19:11-20) e o resultado foi
tremendo. “A mão do Senhor estava com eles e muitos, crendo, se converteram ao
Senhor” (Atos, 11:21). Muitos foram convertidos ao Senhor mediante o Ministério
de Barnabé em Antioquia. “E muita gente se uniu ao Senhor” (Atos, 11:24)
(LOPES, 2008, pág. 222).
Mesmo
debaixo de forte esquema de perseguição, a igreja de Cristo não deixou de
crescer. Herodes pereceu, no entanto, a Palavra de Deus predominou. A igreja
cresce em igualdade com a Palavra. Se a Palavra prevalece, então a igreja
cresce: “entretanto, a Palavra do Senhor crescia e multiplicava” (At.12.24). A
viagem do apóstolo Paulo e Barnabé é marcada por uma grande explosão no
crescimento daqueles que creem no Senhor Jesus Cristo (LOPES, 2008, pág. 222):
“Os gentios ouvindo isso, regozijaram-se e glorificaram a Palavra do Senhor e
creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna. E divulgava-se a
Palavra de Deus por toda aquela região (Atos, 13:48,49).
Em Icônio,
após ouvirem a pregação de Paulo e Barnabé, tanto judeus como também gregos,
creram no Senhor Jesus Cristo (Atos 14:1). Lucas, acrescenta: “Assim, as
igrejas eram fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número (Atos,
16:5). Da mesma forma, em Tessalônica muitos foram salvos devido à exposição
das Escrituras feitas por Paulo e Silas. Alguns deles foram persuadidos e
unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos, e muitas
mulheres distintas (Atos 17:4). Em Beréia não foi diferente. Devido a fiel
exposição das Escrituras grandes resultados se seguiram como consequência da
pregação da palavra (Atos 17: 11-12).
“Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de
Tessalônica. Pois receberam a Palavra com toda a avidez, examinando as
Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram de fato, assim. Com isso,
muitos creram, mulheres gregas de alta posição, e não poucos homens” (Atos 17,
11-12).
O
ministério de João Calvino na cidade de Genebra, Steven Lawson comenta sobre o
seu ministério afirmando que “Seu objetivo era o de consagrar a sua congregação
nas coisas do Senhor, não as arruinar. Sendo um pastor atencioso, ele pregava a
Palavra de Deus para produzir mudanças na vida do seu povo, tudo para a glória
de Deus e para o bem deles” (LAWSON, 2008, pág 99).
Como
consequência de vários anos expondo a Palavra de Deus, Calvino exerceu
influência em todo o mundo cristão de sua época, como de costume, pregava em
livros contínuos da Bíblia, de tal forma que muitos dos seus sermões se
tornaram comentários. Genebra tornou-se um abrigo seguro para refugiados e
Calvino era procurado frequentemente por pessoas que querem aconselhar-se sob a
sabedoria do grande reformador.
Com
Charles Haddon Spurgeon, o príncipe dos pregadores, não foi diferente. Durante
toda a sua trajetória ministerial, a pregação de Charles Spurgeon repousava
sobre a rocha impenetrável que é a
Palavra de Deus. Quando ele subia ao púlpito, falava com confiança na
infalível pureza e no poder salvador da Palavra de Deus. Para Spurgeon, quando
a Bíblia fala, Deus fala. E este foi o motivo de seu grande sucesso como
expositor da Palavra de Deus. Sobre seu ministério Lewis A. Drummond declara:
“Para Spurgeon, a Bíblia era apenas isto: a
palavra do próprio Deus, que quebra o coração e leva a alma diante do trono de
Deus, trazendo-lhes o conhecimento redentor do Senhor Jesus Cristo. Sobre este
fundamento, Spurgeon construiu toda sua teologia e ministério” (LAWSON,
2012, pág. 37).
Hernandes
Dias Lopes, um estudioso sobre o assunto, afirma que a maioria dos pastores das
igrejas que experimentaram um crescimento saudável e equilibrado adotou a
pregação expositiva da Palavra de Deus. Martyn Lloyd-Jones foi um grande
referencial do método expositivo da pregação das Escrituras na capela de
Westminster em Londres durante vários anos, ministério que se seguiu até a sua
promoção à glória eterna, em 1981. Milhares de pessoas foram abençoadas através
das pregações fiéis desse grande servo de Deus. (LOPES, 208, pág. 226).
W. A.
Criswell é outro exemplo que alcançou crescimento em sua igreja através da
exposição fiel das Escrituras. Sob sua liderança, guiada pelo Espírito Santo, a
primeira igreja Batista de Dallas continua crescendo. Prova disso é que a
Membresia excedeu em muito os 20 mil congregados e continua aumentando a cada
semana (LOPES, 2008, pág. 226).
Quando a
Palavra de Deus é pregada com fidelidade, a tendência das pessoas é ser
atraídas pelo poder transformador das Santas Escrituras. Um exemplo que ilustra
muito bem esta verdade é o ministério do pastor norte americano Bob Russel.
Desde 1996, o Southeast Christian Church aumentou de 125 mil a mais de 135 mil
pessoas nos Cultos (LOPES, 2008, pág. 226). A tarefa mais nobre de um pastor é
pregar a Palavra de Deus com fidelidade, pois, somente o alimento sólido
contido nas Escrituras é que produz um crescimento saudável do corpo de Cristo.
Somente as
Escrituras são nossa regra de fé e prática. O escopo principal da Palavra de
Deus é revelar o caminho da salvação aos perdidos e, essa proeza, só acontecerá
através de um ministro comprometido com a exposição fiel das Escrituras. Thomas
Watson, afirma o seguinte o seguinte a respeito do fim principal das
Escrituras:
“As escrituras fazem uma clara descoberta de
Cristo: “Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo,
o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20, 31). O
propósito da Palavra é ser um teste pelo qual nossa graça deve ser testada, uma
boia de demarcação marítima para nos mostrar que rochas devem ser evitadas. A
palavra deve sublimar e saciar nossas refeições. Deve ser diretiva e
consoladora, deve soprar em direção da terra prometida”. (WATSON,
2009, pág. 48).
Diante de
tais provas, o que fazer? Deve-se fazer o que os profetas, apóstolos e
reformadores da igreja fizeram há tanto tempo. Não existem remédios novos para
os problemas velhos. A igreja atual precisa retornar aos caminhos antigos. É
preciso um retorno decisivo à pregação direcionada pela Palavra, que exalta a
Deus, que é centrada em Cristo e fortalecida pelo Espírito. (LAWSON, 2008, pág.
120).
Que a
bondosa graça de Deus conceda à igreja da atualidade homens corajosos e cheios
do Espírito Santo, para quando subir aos púlpitos e proclamar, cheios de
intrepidez, a Palavra de Deus.
Fica claro
para os pastores e expositores bíblicos da atualidade, que o método expositivo
da Palavra de Deus é, portanto, indispensável na vida da igreja contemporânea
pelos seguintes motivos:
1 -
Doutrina a igreja com o verdadeiro Evangelho de Jesus. A Palavra “Evangelho”
significa literalmente “Boas novas”. Entretanto, realmente para compreender
quão boas essas novas são, deve-se, primeiramente, compreender a má notícia de
que o homem “está morto em seus delitos e pecados”. (Ef. 2:1). Como resultado
da queda do homem no jardim do Éden (Gênesis, 2:3). (MACHEN 2012) nos alerta
quanto à diferença gritante entre o liberalismo moderno e o cristianismo para
com o Senhor Jesus Cristo. O liberalismo moderno o considera um exemplo é um
guia; ao passo que o cristianismo genuíno o considera um salvador (MACHEN 2012,
pág. 83) sendo assim, o evangelho consiste em pregar as Boas novas de salvação
que permite ao salvo entrar no Reino de Deus (Hb 3:2; Lc. 4:43).
2 –
Fortalece os crentes a uma vida espiritual saudável: A Palavra de Deus é um
banquete rico, saudável e nutritivo. Enquanto alguns enganadores estão pregando
as novidades do mercado da fé, a verdadeira exposição bíblica coloca diante das
ovelhas as finas iguarias da mesa de Deus. Somente a verdade contida nas
Escrituras e pregada com fidelidade pode gerar saúde espiritual na vida das
ovelhas (Jo 17:17).
3 –
Combate às heresias e ventos contrários a doutrina: Enquanto, o verdadeiro
pastor está preocupado com o bem estar das ovelhas, o falso profeta e herege
centra-se no quanto ganhará com o abate de cada uma delas. Entretanto, a
verdadeira exposição bíblica fortalece a igreja contra todo e qualquer modismo
no seio do corpo de Cristo (Cl 2:6-7).
4 -
Promove o crescimento quantitativo e qualitativo: Se a igreja é um organismo
vivo, então ela precisa crescer. Um organismo que não cresce é porque está
doente, precisa receber os devidos cuidados para continuar se desenvolvendo. As
conversões no dia de pentecostes só ocorreram após o poderoso discurso de Pedro
(At 2.14-36). Uma igreja pode até crescer numericamente, mas somente a pregação
genuína do evangelho pode trazer o verdadeiro crescimento (At 2:47).
5 –
Desperta e desafia o cumprimento da evangelização e missões: Para Charles
Haddon Spurgeon, “Nenhum pecador em volta de vocês será salvo exceto pelo
conhecimento da grande Verdade contida na Palavra de Deus. Nenhum homem jamais
será trazido ao arrependimento, à fé e a vida em Cristo, senão pela constante
aplicação da Verdade pelo Espírito.” (LAWSON, 2012, pág. 23). A verdadeira
exposição bíblica encoraja a igreja a sair das quatro paredes e não se
encaramujar guardando o tesouro da redenção apenas para uma comunidade
particular. O mandamento do Senhor é que o Evangelho seja pregado a toda a
criatura (Mt 16:15).
6 –
Promove verdadeiro avivamento e revitalização: Logo, todas as vezes que a
pregação predominou na história da igreja esteve em alta, no entanto, todas as
vezes que a pregação das Escrituras foi deixada de lado, assim também a igreja
caiu na cinza do descrédito. No livro de Atos, capítulo dois, a partir do verso
quarenta e dois, o sermão de Pedro produziu obediência à sã doutrina, oração
perseverante e amor fraternal.
Por
último, desafia o investimento no discipulado e formação de liderança: O Senhor
Jesus Cristo pregou os seus mais esplêndidos sermões para uma única pessoa.
Quem não está disposto a pregar para um pequeno grupo não está credenciado a
pregar para um grande auditório (LOPES, 2008, pág. 125). “Aconteceu, depois
disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e
anunciando o evangelho do Reino de Deus, e os doze iam com ele “(Lc 8:1).
Todos os
itens acima mencionados são resultados naturais proporcionados pela exposição
bíblica. Quando a igreja do Senhor Jesus Cristo alcançou um alto índice de
crescimento saudável da História da igreja, a pregação da Palavra de Deus
ocupou uma posição de destaque.
Que Deus
derrame a sua graça sobre a igreja brasileira, de tal forma que tenhamos mais
pregadores preocupados em expor todo o conselho de Deus, e não mercenários
preocupados em satisfazer os desejos do coração do homem.
6. CONCLUSÃO
Após
analisar este tema de vital importância, chegou a algumas conclusões que, ao
serem consideradas, podem confirmar o papel e relevância da exposição bíblica
no contexto da igreja contemporânea, pois, não pode haver dualismo entre a
supremacia das Escrituras, a primazia da exposição da Palavra de Deus e uma
igreja saudável.
Concluímos,
então, que a fiel exposição da Palavra de Deus leva a igreja a crescer de forma
saudável devido ao compromisso com a supremacia das Escrituras. A suficiência
das Santas Escrituras é o que sustenta e dá solidez à pregação expositiva.
A
exposição da Palavra de Deus é a maior necessidade concernente à igreja
contemporânea. O maior compromisso do pastor não deve ser enriquecer o seu
relatório de visitas diárias, mas nutrir o rebanho com uma pregação
fundamentada na Bíblia, pois um rebanho mal alimentado torna-se presa
vulnerável nas mãos dos espertalhões.
Depreende-se,
ainda, que o método expositivo de pregação da Palavra de Deus é de suprema
necessidade na vida diária da igreja. Isso porque as heresias, o mundanismo e
as filosofias diabólicas estão atacando o povo de Deus constantemente e um
compromisso profundo com a Palavra de Deus prepara o rebanho contra tais
ataques.
A fiel
exposição das Escrituras Sagradas é viral para a igreja contemporânea, porque,
no passado, o equilíbrio, pureza e crescimento do rebanho de Cristo
mantiveram-se firmes graças a este estilo de pregação das Escrituras. Na
Reforma Protestante, Deus usou Martinho Lutero e João Calvino para restaurarem
a centralidade da Bíblia (Sola Scriptura). Os puritanos, ala mais piedosa e
intelectual da história cristã, foram fiéis expositores da Palavra de Deus.
Alguns pastores da atualidade, os mais conhecidos e aplaudidos pelas massas,
são expositores fiéis das Escrituras Sagradas, provando-nos que tal estilo de
pregação é uma herança bíblica, e não uma inovação para atrair grandes
auditórios.
Conclui-se,
também, que o verdadeiro crescimento da igreja é causado por Deus (At 2:47; 1Cr
3:6), mas a exposição da Palavra de Deus é indispensável por ser um fator
imprescindível no que diz respeito ao crescimento saudável do corpo de Cristo.
Deus salva o pecador mediante a loucura da pregação (1Co 1:21). A edificação da
igreja e a salvação dos perdidos só se dão mediante a fiel exposição das Santas
Escrituras.
Ao
analisar a história da igreja, pode-se perceber que Deus sempre chamou seu povo
ao arrependimento mediante a exposição da Palavra. Pentecostes, Reforma
Protestantes, os grandes avivamentos do passado ocorreram através da pregação
fiel, na igreja contemporânea não pode ser diferente.
Outro
aspecto que não pode deixar de ser observado é que, atualmente, a pregação
expositiva perdeu o seu lugar para um estilo de pregação que expõe somente o
que Deus pode fazer pelo homem, e não o que Deus requer do homem. A pregação
verdadeiramente expositiva precisa pregar e defender a doutrina de que o fim
principal é glorificar a Deus e gozá-Lo para sempre, e não o contrário.
É triste
admitir o pequeno número de pregadores comprometidos com a exposição bíblica na
atualidade. Mas, ainda assim, com a graça de Deus, este quadro está mudando.
Muito embora este estilo de pregação exige trabalho árduo, correta exegese e
uma vida espiritual disciplinada, a igreja de Deus pode ser abençoada e
transformada através desses esforços. Sob este prisma, tendo em vista que a
fiel exposição da Palavra de Deus é indispensável para o crescimento saudável
da igreja, não há dúvidas que, tanto no Brasil, como em todo o mundo, o que
mais se precisa é de arautos corajosos e que preguem com fidelidade todo o
desígnio de Deus e não mercadores de um evangelho falido que sonega ao povo o
trigo da verdade. “Prega a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não,
corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4:2).
Soli Deo
Gloria!
7.
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encantada Doutor com o seu trabalho onde mostra como solucionar as pregações mal feitas, ou ainda sendo bem feitas, o seu trabalho, realmente lhe confere dignamente o teítulo de Doutor em Teologia. Parabéns Doutor!
ResponderExcluirgrato pela belíssimas palavras. Deus te abençoe sempre
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