INSTITUTO DE TEOLOGIA LOGOS
MESTRADO
EM TEOLOGIA
TÍTULO DO
TRABALHO
UM
ESTUDO DAS CARTAS PAULINAS SOBRE A DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL
(Apresentação
do conceito do pecado original, caracterização da doutrina da DEPRAVAÇÃO TOTAL,
através da teologia reformada e os pontos do calvinismo associados)
RAYMUNDO
CORTIZO PEREZ FILHO
MACAUBAL - SP
2023
RAYMUNDO
CORTIZO PEREZ FILHO
TÍTULO
DO TRABALHO (Um Estudo das Cartas Paulinas sobre a Doutrina da Depravação Total)
Trabalho de Curso submetido ao Instituto
de Teologia Logos como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau
de [Mestrado em Teologia].
MACAUBAL
– SP
2023
DEDICATÓRIA
Ao Deus Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, pela bondade e misericórdia,
infinito amor e vida em abundância, que em tudo e em todo o tempo tem me
sustentado, que não me deixou desanimar e que me amou, ainda que não houvesse
méritos em mim. Ao único Deus e Senhor, toda a honra e glória.
SOLI DEO GLORIA
AGRADECIMENTOS
Agradeço, a minha filha Ariane Cortizo Schafer, pelo
incentivo, apoio, cooperação e sua preciosa ajuda e orientação na formatação
deste texto.
Aos meus pais, Raymundo Cortizo Perez e Antônia Maria
Pelegrine Cortizo (In Memorium), pelo amor, amizade, carinho e educação.
Ao Instituto de Teologia Logos, pela seriedade,
companheirismo e por ter proporcionado a mim, um grande crescimento cristão,
moral e intelectual.
Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas;
glória pois a ele eternamente. Amém. Romanos, 11:36.
ÍNDICE
1.
RESUMO
2.
INTRODUÇÃO
2.1. Objetivos
2.1.1
Objetivo
Geral
2.1.2
Objetivo
Específico
2.2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.
ASPÉCTOS
TEOLÓGICOS – HISTÓRICOS DA DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO
3.1 Análise do conceito de Depravação
3.2 A depravação e a incapacidade de
autossalvação do homem
3.3 Concepção histórica
3.4 Na Teologia dos pais da igreja
3.5 Na Teologia dos
reformadores do século VI
3.6 Nas confissões de fé
reformadas
4. A
DEPRAÇÃO E A CULPA
4.1 A natureza da Culpa
4.2 Graus de culpa
4.3 A
punição
4.3.1 O pecado desfigurou a imagem
divina do homem
4.3.2 O pecado deu origem
a um estado pecaminoso que afetou toda a raça humana
4.3.3 O pecado acarretou
punições naturais e físicas ao homem
4.3.4 O pecado gerou um
contínuo conflito moral e espiritual entre o corpo e a alma de cada criatura
humana
4.3.5 O pecado despertou a
consciência do homem
4.3.6 O pecado trouxe ao
homem a punição da morte física
4.3.7
Consideramos também o castigo
disciplinador
4.3.8
O castigo (pena) final do pecado
5. A perspectiva paulina da doutrina da
depravação
5.1
O
Cosmo na visão paulina
5.2
A
universalidade do pecado na ótica paulina
5.3
As consequências da queda do homem¨
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
RESUMO
O presente estudo tem por objetivo apresentar as
concepções a respeito da perspectiva
Paulina da Doutrina da Depravação Total e sua influência no ministério
pastoral. Sendo assim, será abordada a concepção do pecado original, trazendo
sobre outros aspectos, a sua representação histórica e social. Através da
revisão literária serão esboçados os pensamentos tendo os conteúdos pesquisados
como base empírica para a construção deste estudo, bem como a exegese de perícopes
bíblicas relacionadas ao proposto. A intenção final deste estudo foca em
determinar a herança da Depravação Total, que o homem carrega por todo o
período de sua vida terrena.
Palavras-chave: Depravação
total; Pecado original; Teologia reformada; História do pecado.
ABSTRACT
The present study aims to present the conceptions about a study of Pauline
letters on the doctrine of depravity and its influence on pastoral ministry.
Thus, the conception of original sin will be addressed, bringing about other
aspects, bringing its historical and social representation. Through the
literary review, the thoughts will be outlined, with the contents researched as
an empirical basis for the construction of this study, as well as the exegesis
of biblical pericope related to the proposed. The ultimate intent of this study
is to determine the inheritance of total depravity, which man carries
throughout the period of his life on earth.
Keywords: Depravity, Original Sin, Reformed Theology, History of Sin
2. INTRODUÇÃO
A
contemporaneidade tenta a todo modo evidenciar os aspectos representativos
pertinentes ao caráter humano, em uma forma genérica atribuída a resultados
conflitantes para a sociedade, tende-se a julgar quem é o bom e quem é o mal
por natureza. Esta subjetividade se relaciona a todo momento com as religiões,
onde de fato, o homem deve inclinar-se para a bondade em seu coração e para os
ensinamentos de Deus.
A
título de introdução, vale ressaltar também que, na tentativa de agradar o
homem, e não a Deus, muitos pregadores não estão mais preocupados em confrontar
o pecado -, o cerne dos problemas da humanidade -, mas, na maioria das vezes, o
que vemos e ouvimos são paliativos psicológicos, os quais se encarregam de
substituir o ensino das escrituras visando massagear o ego humano. Entrando
assim, numa clara contradição com a palavra de Deus, de tal forma que o homem
deixa de ser um pecador para tornar-se uma vítima de satanás.
Em
gênesis 8:21, lê-se: “O Senhor disse em seu coração: Nunca mais amaldiçoarei a
terra por causa do homem, pois o seu coração é inteiramente inclinado para o
mal desde a infância”. Neste período pós-dilúvio onde habitam a terra apenas Nóe
e sua família salva, Deus já declara que o mal era essência comportamental do
homem desde a sua infância. Está relação se dá unicamente através do pecado
cometido por Adão, que marcou uma herança maldita em todas as gerações futuras.
Em
Salmos 51:5, Davi confessa: “Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde
que me concebeu a minha mãe”, assim como em Romanos 3:10-18 que diz:
“Não
há nenhum justo, nem um sequer, não há ninguém que entenda, ninguém que busque
a Deus. Todos se desviaram, tornaram se juntamente inúteis; não há ninguém que
faça o bem, não há nem um sequer. Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas
línguas enganam. Veneno de serpente está em seus lábios. Suas bocas estão
cheias de maldição e amargura. Seus pés são ágeis para derramar sangue, ruína e
desgraça marcam os seus caminhos, e não conhecem o caminho da paz. Aos seus
olhos é inútil temer a Deus”.
Existem
muitas dúvidas a respeito do pecado em relação a salvação eterna, pode-se de
certa forma simplificar o tema, dizendo que existem duas formas de pecado, a
primeira em que o pecado se perpetua através das gerações como uma maldição
iniciada por Adão, ao cometer o pecado original, e a segunda em que o pecado é
cometido diretamente pela pessoa durante a vida.
Mas o que de
fato classifica o pecado original? Quais termos bíblicos associam-se a esta
maligna herança? E quais efeitos para o ministério pastoral podem ser
relacionados como a depravação do homem?
Posto
isto, asseguramos que a finalidade deste estudo é apresentar as características
pontuais relacionadas a doutrina da depravação através da teologia reformada,
visando abordar as principais sínteses relacionadas. Bem como, a importância
histórica da depravação total que pode ser compreendida como uma das maiores
formas de esclarecimento a respeito do pecado, evidenciando de fato qual o
principal significado desta palavra. Portanto, levando em consideração a
urgente necessidade de confrontar o pecado nos dias atuais, torna-se mais que
evidente a importância do estudo aprofundado sobre as bases históricas e
bíblicas quanto a reformulação da concepção teológica atribuída ao pecado,
através da doutrina da depravação.
2.1. Objetivos
2.1.1 Objetivo Geral
O
objetivo geral deste estudo é apresentar o conceito da Doutrina da Depravação,
baseando seus aspectos históricos e fundamentais para a concepção do tema.
2.1.2 Objetivo Específico
Como
forma de atender os requisitos para a estruturação e conclusão para o objetivo
geral, este estudo irá abordar os aspectos históricos relacionados a doutrina
da Depravação, utilizando-se da teologia reformada e buscando compreensão
através da revisão literária disponível para elaboração do estudo, sendo estes:
-
Revisão da literatura apropriada;
-
Apresentação do conceito de pecado original;
-
Caracterização da Doutrina da Depravação Total, através da teologia reformada;
-
Pontos do calvinismo associados;
-
Conclusão do tema.
2.2. Revisão Bibliográfica
Segundo,
De Souza (2015), a sociedade atual vive sob a prática da concepção de avaliar o
que é certo ou errado a partir das leis criadas pelo homem, porém, o autor
completa afirmando que para Deus todos são pecadores, portanto, ninguém na
terra é de fato justo.
Para
Piper (2013), somente a graça de Deus pode salvar o homem de sua natureza
corruptível e pecaminosa, seria impossível por si só o homem negar os seus
impulsos e se rebelar contra suas vontades.
Já
MacDowell (2007), a Depravação Total não significa dizer que o homem irá
cometer todos os pecados possíveis, apenas significa que em sua essência tende
a prevalecer a herança maligna vinda dos primórdios.
Baren
(2012), afirma que, “Existe algo de mau no melhor de nós e algo de bom no pior
de nós”, ou seja, não significa dizer que se alguém é mau ou bom, todos são
maus, mas podem praticar o bem.
3. ASPECTOS
TEOLÓGICOS – HISTÓRICOS DA DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL
Derivada do conceito Agostiniano a
respeito do pecado original, a Depravação afirma que o homem é escravo do
pecado. Portanto, torna-se impossível a salvação através dos méritos humanos ou
esforços próprios, pois, a mesma somente se dará através da ajuda e da graça de
Deus. Por contraste, (Oliveira, 2018), afirma que, sendo um dos cinco pontos do
Calvinismo, a Depravação Total dita a doutrina de que nenhum homem é passível
de salvação senão pela graça de Deus, pois todo homem está corrompido desde o
nascimento. O autor ainda faz uma menção e compara a doutrina da Depravação
Total com o monergismo, por enfatizar a mesma ideia referente a salvação do
homem.
Para Rocha (2018), a doutrina da
Depravação Total aponta para a tese de que somos todos pecadores, através da
herança maldita passada por Adão, pois, quando a fonte é poluída, toda a
corrente também fica poluída. Prova disso, é que, como dito na Palavra de Deus,
em Romanos 3:10-12: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que
entenda, ninguém que busque a Deus. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente
inúteis; não há ninguém que faça o bem, não há nenhum sequer”. Atribuindo o
pecado a todas as áreas da vida humana, razão, emoção, vontade. O que significa
dizer que os homens estão destituídos da glória de Deus, pois pecaram. Sendo
assim, não podem por si mesmos voltarem-se para Deus, se não pela vontade do
Pai, pois pecaram. Logo, a sua salvação é um ato extremamente da vontade de
Deus, através da sua graça (Junior, 2018).
Segundo Steele e Thomas (2015), o termo
Depravação Total serve justamente para induzir que todos foram afetados pelo
pecado, portanto, o homem natural é incapaz de realizar alguma coisa
espiritualmente boa. Desse modo, conclui-se que, a corrupção pecaminosa atingiu
a natureza humana de forma tão profunda ao ponto de transformar o homem em um
agente inerte e incapaz de vencer a sua própria cegueira e rebelião contra
Deus.
3.1.
Análise do conceito da Depravação Total
Na
teologia reformada, o termo “depravação” se refere à perversidade, corrupção, o
mal inato do homem não regenerado. Ou seja, em grego, o termo significa mais
que maldade (grego: poneros); descreve o homem que não só é mal, mas também
quer fazer a outros tão mal quanto a ele”. Quando usamos o termo “depravação”
queremos dizer a falta que o homem tem de justiça original e afeições santas
para com Deus, e também a corrupção moral e sua tendência para o mal. Sobre
esse termo. SPROUL, 2009, PAG. 45), afirma: “Depravação Total diz
respeito ao efeito do pecado e corrupção sobre a pessoa toda, está totalmente
depravado é sofrer da corrupção que permeia toda a pessoa”, esse é um dos
termos mais importantes que os teólogos usam para descrever as profundezas da
corrupção moral herdada pelo pecado de Adão, essa palavra deriva-se do prefixo
de-, que comunica intensidade, e da palavra em latim, pravus, que
significa torcido ou entortado. Dizer que algo é depravado é dizer que seu
estado ou forma original foi completamente pervertido. E afirmar que todo homem
é totalmente depravado não significa que ele seja tão mal quanto pode ser ou
que toda obra que faça seja inteira e perfeitamente má.
Adicionar
a palavra “total”, à depravação, portanto, enfatizar sem nenhuma sombra de
dúvida, a verdade de que não há absolutamente nenhuma bondade espiritual no
homem natural que é nascido do Adão caído. (Bekee, 2010), diz que:
“...há
algo terrivelmente errado naquilo que somos no interior e em cada aspecto do
nosso ser em sua “totalidade”, nenhum elemento de nossa personalidade é menos
afetado pelo pecado do que qualquer outro elemento. Nosso intelecto, nossa
consciência, nossas emoções. Nossas ambições, nossa vontade, que são
fortalezas, nossa alma, estão todos escravizados ao pecado, por natureza”
(Beeke, 2010, pág. 66)
Com
isso, entendemos que todo o nosso ser foi completamente comprometido na queda
do primeiro homem, e suas consequências trouxeram à humanidade a morte
espiritual e uma inabilidade total à obediência de Deus. Escravizado em seu
ser, este homem não pode fazer outra coisa a não ser se sujeitar a sua natureza
corrupta, desejando livremente e voluntariamente praticando obras más.
Os
delegados do sínodo de “Dort” reconheceram que o ensino da depravação parcial
ameaçava dois grandes temas do evangelho: a glória que pertence a Deus em
salvar pecadores e a segurança do crente na invencível graça de Deus. Neste
sínodo, o principal documento analisado foi a representação de cinco artigos.
Mais adiante, o documento final torna-se os Cânones de Dort, formulando assim
59 artigos conhecidos mais tarde e separados por cinco pontos de doutrina,
prevalecendo assim a interpretação ortodoxa.
Em
termos simples, os cânones propõem a “graça soberana celestial”, A isso
afirmamos de forma clara e precisa aquilo que o calvinismo aponta como resposta
a doutrina da depravação parcial que, “o estado natural do homem é de total
depravação, havendo total incapacidade do homem para obter ou contribuir a
favor de sua própria salvação” (Berkhof, 1992, pág. 661). Essa depravação o
torna incapaz, subordinado a sua natureza caída, desprovido de qualquer ação
interna para dirigir-se a qualquer bem espiritual, esse homem está totalmente corrompido.
A confissão de Fé Congregacional afirma: “Desta corrupção original, pela
qual nos tornamos totalmente indispostos, incapazes e antagônicos a todo o bem,
e totalmente inclinados ao mal,
procedem todas as transgressões atuais”. Portanto, é total essa depravação
e precisa de uma interpretação correta, pois, há muita desinformação acerca
dessa doutrina. (Stron, 2007), na sua teologia sistemática afirma que ela pode
ser entendida em dois aspectos, negativamente e positivamente. Ele diz por
negativamente:
Não
significa que cada pecador é: a) destituído de consciência; pois, a existência
de fortes impulsos para o certo, e remorso pelo erro mostram que a consciência
está com frequência aguda; b: desprovido de todas as qualidades agradáveis ao
homem e úteis quando julgadas segundo os padrões; pois, a existência de tais
qualidades é reconhecida por Cristo; c: inclinação para toda sorte de pecado;
pois, certas formas de pecado excluem outras; d: o seu mais intenso egoísmo e
oposição a Deus; porque ele se torna pior a cada dia. (Strong, 2007, pág.
1158).
Depravação
não significa privação do bem, é mais do que privação, quando o homem é
entregue a sua própria vontade ele aprofunda-se completamente em seu pecado, a
graça de Deus o restringe e o faz despertar para algumas coisas boas. E esses
atos, são sempre assistidos pela graça de Deus. (Strong, 2007) assegura também
que ela também se manifesta de forma positivamente, quando diz:
Cada
pecador é: a) totalmente destituído daquele amor a Deus que constitui a
exigência fundamental e toda abrangente da lei; b) carregado de sentimento
inferior ou um desejo que ultrapassa a consideração por Deus e Sua lei; c)
supremamente determinado em sua
preferência do eu em relação a Deus, quer na vida interior, quer na exterior;
d) cheio de aversão para com Deus a qual, apesar de às vezes latente, torna-se
inimizade ativa, tão logo a vontade de Deus entra em conflito com a do próprio
pecador; e) desordenada e corrompida em cada faculdade, por intermédio dessa
substituição do egoísmo pela afeição suprema para com Deus; f) não credor de
nenhum pensamento, emoção ou ato que a santidade divina pode provar; g) sujeito
à uma lei de progresso constante na depravação e não tem nenhuma energia
recuperadora que o capacite a ser bem-sucedido em resistir (Strong, 2, pág.
2007. Pág. 1164).
Concluímos
que ele não pode, até que seja vivificado pelo Espírito de Deus, voltar do
pecado a Deus em arrependimento e fé (Jr 13:23; Jo 6:44,65; 12:39,40). A base
da depravação e da inabilidade espiritual jaz no coração. Ele é enganoso e
irremediavelmente perverso (Jr 17:9). Do coração vem as saídas da vida (Pv.
4:23). Ninguém pode tirar uma coisa limpa de uma contaminada (Jó14:4). Daí nem
a santidade e nem a fé podem proceder do coração natural. O pecado singular de
Adão penalizou toda a humanidade e totalmente. Paulo explica aos romanos como
isso aconteceu: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado, a morte, assim também, a morte passou a todos os homens,
porque todos pecaram...” (Romanos, 5:12). Em outras palavras, nossas condições
espirituais não decorrem do que fizemos, mas do somos naturalmente, desde o
ventre.
3.2
A depravação e a incapacidade de autossalvação
do homem
As
escrituras mostram a capacidade de nos salvar. Isso diz respeito a condição
humana de depravados, como a condição de condenados. O homem precisa da ação de
Deus em influenciar e transformar o coração, para que assim possa ser
vivificado (Ef. 2:1). Podemos começar nos fazendo a seguinte pergunta: de que a
humanidade precisa se salvar? Como também podemos perguntar: incapazes de nos
salvar de quê?
Primeiro,
a humanidade é incapaz de salvar a si mesma da condenação. É dito dentro da
teologia reformada, que a condenação imposta por Deus, é imutável. Pois os
caminhos de Deus são retos, correspondem a Sua perfeição e são igualmente
imutáveis, assim como o próprio Deus. (DAGG, 2003) fala sobre a sentença
condenatória, dizendo que:
“A
sentença condenatória foi devidamente pronunciada. Não se tratou de alguma decisão precipitada, com a necessidade
de ser revisada. O onisciente juiz conhecia bem todos os fatos envolvidos,
todas as circunstâncias atenuantes, todos os efeitos de Sua decisão sobre nós,
e todas as consequências da sentença sobre seu próprio caráter e governo. Sua
determinação em criar o mundo não foi tomada com deliberação maior ou com base
mais firme do que a afirmação da sentença. Para ele renovara sentença seria tão
plausível quando aniquilar todas as criaturas que formou” (Dagg, 2003, pág.
139).
Sem
sombra de dúvida não há margem, nas escrituras para imaginarmos um Deus
equivocado, ou confuso em suas decisões. De tal forma que tanto a Sua decisão
na condenação ou Sua decisão no único caminho para salvação são decisões
eternas e perfeitas. Nem mesmo na prática obstinada da religião, o homem pode
alcançar meritoriamente a salvação. Como mesmo diz (Rom. 3:20) que “ninguém
será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o
pleno conhecimento do pecado”. O que Paulo quer dizer é que não há
possibilidade de cumprirmos perfeitamente as exigências da Lei, necessitando
assim, de alguém que o faça.
A
humanidade é incapaz de libertar de si mesma da depravação. O simples fato. O
simples fato de preferirmos as trevas ao invés da luz, como diz (Jo 3:19), já
denuncia a nossa propensão a paixão em que vivemos. O homem acha que pode, por
suas próprias forças a santificar-se e andar retamente, a isso afirma (Dagg,
2003, pág. 140), “estar livre da depravação e ser santo, e ninguém pode
desejar a santidade, ou a perfeita conformidade com a lei de Deus, se não
deleitar nessa lei” Ou seja, o homem não consegue se libertar da depravação
total porque o seu prazer está no pecado e não na lei do Senhor. Mas, além
disso, o homem não tem o poder necessário para tal libertação. Pode até
conseguir criar hábitos religiosos, e ser um grande religioso, mas serão meros
rituais, como o salmo 50 alerta. A depravação não está ligada a atos externos,
mas ao coração que está obscurecido pelo pecado. O homem pode até se iludir com
a ideia de alcançar a santidade por seus méritos, no final, como (Dagg 2003),
mesmo diz, “descobrirá que está totalmente enganado”. A sua inabilidade
é a própria depravação, que influencia este homem em todas as faculdades de sua
alma, o impedindo de livrar-se por suas próprias forças.
Na
conjuntura total, podemos entender que desde a queda até o encontro salvífico
com Cristo, o homem é incapaz e não pode modificar sua própria sorte, depende
da misericórdia de Deus para que saia do estado de miséria e produza a mudança
necessária. É um caminho que somente o evangelho ensina, uma vida que somente
Cristo produz e uma transformação que somente o Espírito Santo pode fazer. A
Doutrina da Depravação Total vai se desenvolvendo de forma mais clara na
história, é isso que veremos no tópico a seguir
3.3
Concepção histórica
Além
de observar a definição dos termos já postos, notamos que a doutrina de
Depravação Total, está explicitamente presente na igreja do primeiro século,
sendo ensinada através das epístolas escritas pelo apóstolo Paulo, a qual, será
mostrada no capítulo dois deste trabalho de forma detalhada. Essa doutrina
recebe uma ênfase no período que chamamos de Patrística, foi um tempo em que a
igreja sofreu muitas perseguições, surgindo deste período grandes pensadores
dando uma resposta bíblica as confusões doutrinárias existentes. Quando
chegamos no século XVI, conhecido como o período da reforma protestante, neste
período aparece o monge Martinho Lutero que acredita que a depravação total
havia tomado o homem totalmente na queda. Na sua antropologia, ele afirmava que
nós somos possuidores de corpo e alma vivente, sendo que o pecado afetou um
como o outro e, este período é marcado por grandes pensadores.
Através
de Calvino, que sistematizou a doutrina bíblica do pecado herdado por Adão,
tornou-se uma referência para a atualidade. Depois temos uma extensão do
período da reforma, o qual chamamos “o puritanismo” que nasce com o
propósito de purificar a Igreja que foi fortemente influenciada pelo
catolicismo romano. E é neste período que nasce o maior legado do puritanismo,
a Confissão de Fé de Westminster, Diretório do Culto Público, Forma de Governo
Eclesiástico, Catecismo Maior e Breve Catecismo. Faremos ainda citações sobre a
depravação total do homem nas Confissões de Fé após esse período, trataremos da
culpa do pecado e por fim, a punição.
3.4. Na teologia dos pais da
igreja
Ao
longo da história, diferentes teólogos enfatizaram aspectos distintos do
pecado, o que levou às diversas doutrinas sobre o assunto. Eles foram os
primeiros a discutir a natureza, a transmissão e os resultados do pecado
original, contribuindo consideravelmente para a formulação posterior mais
completa da doutrina. Um dos pais da igreja que deu seu posicionamento acerca
desta doutrina foi (Orígenes – 185 – 254 d.C.), teólogo de Alexandria que
acreditava na teoria do pré-existencialismo, segundo, (Hodge 2001), “as
almas dos homens pecaram voluntariamente numa existência anterior e, portanto,
entraram no mundo numa condição pecaminosa”. (Tertuliano 160-230 d.C.), tinha um
entendimento realista da raça humana. Segundo ele:
“Toda
raça humana estava e numericamente em Adão e, portanto, pecou quando ele pecou,
e se tornou corrupta quando ele se tornou corrupto. A natureza humana completa
pecou em Adão e, daí toda individualização dessa natureza também é pecaminosa” (Berkhof, 1992, pág. 243)
Ele
ainda firmava que o pecado da raça humana é o “mal que emerge da origem
corrupta da alma”.
As
maiores contribuições para essa doutrina neste período, sem sombra de dúvidas
foram as de Agostinho de Hipona, que conhecia a realidade e a malignidade do
pecado e, em seu tratado “A cidade de Deus”, já afirmava, com propriedade, o
que representa o efeito do pecado no homem, disse ele:
O
pecado [de nossos primeiros pais] foi um desprezo a autoridade de Deus. Deus
criou o homem; ele o fez à sua própria imagem; ele o estabeleceu acima dos
outros animais; ele o colocou no Paraíso; o enriqueceu com todo o tipo de
abundância e segurança; não lhe impôs nem muitos, nem grandes, nem difíceis
mandamentos, mas, afim de tornar uma obediência sadia fácil para ele, lhe deu
um único pequeno e leve preceito pelo qual lembraria à criatura, cujo serviço
deveria ser livre, de que ele era Senhor. Consequentemente, foi justa a
condenação que se seguiu e uma condenação tal que o homem, que através da
manutenção dos mandamentos deveria ser sido até mesmo em sua carne, se tornou
carnal até mesmo em seu espírito. E assim como em seu orgulho, ele buscou a sua
própria satisfação, Deus, em sua justiça, o abandou em si mesmo, não para viver
na independência absoluta que ansiava, mas, no lugar da liberdade que desejava,
para viver insatisfeito consigo mesmo em uma sujeição dura e miserável a quem,
através do pecado, havia se submetido. Ele foi condenado, a despeito de si
mesmo, a morrer em corpo assim como havia se tornado, por vontade própria,
morto em espírito, condenado até mesmo a morte eterna (não tivesse a Graça de
Deus o libertado), porque havia renunciado a vida eterna. Qualquer um que pense
que este castigo foi excessivo ou injusto, mostra a sua inabilidade para medir
a grande iniquidade de pecar onde o pecado podia tão facilmente ser evitado
(Agostinho, 1990, pág. 323).
No
começo do século V, um enorme desafio às perspectivas que a igreja então
desenvolvia foi apresentado por Pelágio, ele ficou perturbado com uma oração
que leu nas confissões de Agostinho que dizia: “Dá-me aquilo que ordenas,
ordena-me aquilo que queres” (Grudem, 1999, pág414). Para Pelágio, a
atitude refletida nessa oração estimulava a que se esperasse de Deus coragem,
força e capacidade para fazer a vontade divina. Dizia ele: “Os seres humanos
já foram projetados por Deus para fazer à vontade e, nesse caso, para depender
de Deus para ter o encorajamento e a capacitação para fazê-lo”. Para ele,
Deus havia dado aos seres humanos a capacidade de cumprir os seus mandamentos,
por outro lado, tanto a volição como a ação são faculdades estritamente
humanas. No pensamento dele, tanto a ação quanto a realização dependem da
vontade do homem. Pelágio, ainda firmava que, “a queda de Adão, prejudicou
exclusivamente a ele mesmo, e que não existe transmissão hereditária de
natureza pecaminosa ou de culpa”, negando assim a existência do pecado
original. Ele ainda dizia que “Pecado, consiste apenas de atos isolados da
vontade, se o homem deseja o que é mau, ele peca. Mas nada há para impedi-lo de
escolher o que é bom, evitando desta maneira o pecado”. Esta doutrina foi
difundida como “pelagianismo”, que negava que as pessoas tenham alguma relação
com Adão e o pecado dele; o pecado original, a depravação total e a
incapacidade total são todos negados por Pelágio e seus escritos.
Agostinho
combate a neutralidade pelagiana e refuta seu pensamento dizendo que “a
liberdade ou livre arbítrio do homem fora perdido por causa da queda de Adão” com
isso, o ato volitivo do homem lhe causou consequências, tanto que uma delas é
que a sua tendência é tão somente fazer a vontade do pecado. A isto, Berkhor,
afirma:
“A
natureza do homem, tanto física como moral, é totalmente corrompida pelo pecado
de Adão de modo que ele não pode deixar de pecar. Essa corrupção ou esse pecado
original herdado é um castigo moral pelo pecado de Adão. A qualidade da
natureza do homem é tal que, em seu estado natural, ele só pode e só quer
praticar o mal. Em virtude desse pecado, o homem já está debaixo da condenação.
Não é apenas corrupção, mas também culpa” (Berkhof, 2001, pág. 205).
Os
ensinos de Pelágios foram rejeitados e tidos como heréticos no ano de 431 no
Concílio de Éfeso. Após esse período, começa a surgir uma linha intermediária
entre pelagianismo e agostinianismo. A esse momento, afirma Berkhof:
O
semipelagianismo fez a fútil tentativa de evitar todas as dificuldades dando
lugar a graça divina como ao livre-arbítrio humano como fatores coordenados da
renovação do homem, e alicerçando a predestinação sobre a fé e a obediência
previstas. Não negava a corrupção humana, mas considerava que a natureza do
homem fora enfraquecida ou enfermada, e não fatalmente prejudicada pela queda.
A natureza humana caída retém certo elemento de liberdade, em virtude do que
pode cooperar com a graça divina. A regeneração é o produto conjunto de ambos
os fatores, todavia seria realmente o homem, e não Deus, quem dá o começo à
obra. (Berkhof, 2001, pág. 217).
Nem
todos concordam com a condenação de Pelágio, surgindo daí o semipelagianismo.
Consequentemente, outra doutrina que negava a nossa responsabilidade pelo
pecado de Adão, mas concordava que as pessoas são corrompidas pelo pecado. O
concílio de Orange tratou com a doutrina Semipelagiana que dizia que a raça
humana, embora caída e possuidora de uma natureza pecaminosa, ainda é
suficientemente boa para ser capaz de responder à graça de Deus, através de ato
da vontade humana na redimida. O dr. Roger comentando sobre esse momento,
afirma que:
“A
controvérsia semipelagiana finalmente terminou em 529, quando houve uma reunião
de bispos ocidentais, conhecida como Sínodo de Orange. Às vezes, conhecida como
Concílio de Orange, mas não consta dos concílios ecumênicos da igreja, nem pelo
oriente, nem pelo ocidente. Em Orange, os Bispos católicos. Em Orange, os
bispos católicos condenaram os principais aspectos do semi-pelagianismo,
endossam o conceito que Agostinho tinha da necessidade e total suficiência da
graça e condenaram a crença na predestinação divina para o mal ou para a
perdição. Como Agostinho nunca a afirmar especificamente que Deus predestina
alguém ao pecado ou ao inferno, seus próprios ensinamentos passaram pelo Sínodo
de Orange sem serem em nada citados, mas também sem serem plenamente
confirmados. O sínodo não defendeu a predestinação de nenhuma forma.
Entretanto, exigiu a crença que qualquer ato de bondade ou retidão dos seres
humanos é resultado da graça da graça de Deus que opera neles. A Teologia
católica ortodoxa, a partir de então, incluiria as ideias de que a graça de
Deus é a única origem e causa de todos os atos da retidão humana e que os
homens não são capazes de realizar obras merecedoras da salvação sem a graça
auxiliadora. Todavia, como Sínodo de Orange deixou em aberto a questão da livre
cooperação humana com a graça, a Igreja Católica passou a incluir e a enfatizar
um sistema de obras meritórias que são necessárias como credenciais de graça e
isso se reverteu a favor de um tipo de sinergismo no qual o livre arbítrio
precisa cooperar com a graça para que a salvação chegue à consumação perfeita.
(Roger, 2017, pág. 121).
A
proposta semipelagiana de que Deus dá uma vontade boa a alguns, mas que outros
já contam desde o início com essa boa vontade que o capacita a buscar a
salvação também foi condenada. Finalmente, o concílio de Orange propôs uma
série de afirmações sobre a tragédia do pecado na humanidade. Afirmou, por que:
“O
pecado do primeiro homem danificou e enfraqueceu de tal forma o livre arbítrio,
que, depois dele, ninguém mais é capaz de amar a Deus de maneira certa.
Ninguém, tampouco, é capaz de acreditar em Deus, ou de fazer o bem por amor a
Deus, a não ser a graça da misericórdia de Deus vá adiante dele”. Sendo assim, tornando-se essa doutrina a
doutrina oficial do século V em diante. Essa foi, a conclusão de Agostinho que,
contribuindo para a sua posteridade, foi o primeiro a elucidar com clareza e
precisão o caráter de culpa inerente ao pecado de Adão, transmitido a todos os
homens. Citando Romanos 5:12 ele comprova a depravação humana e sua total
incapacidade a qualquer bem espiritual.
3.5. Na teologia dos
reformadores do século XVI
O
século XVI é completamente impactado pelo texto de Romanos 1:17, onde o
apóstolo Paulo afirma que “O justo viverá pela fé”. Neste período,
aparece Matinho Lutero que chegava a passar horas no confessionário, e começou
a odiar a Deus que lhe parecia ser somente um juiz dos seus tropeços morais
quando disse: “Minha situação era tal que, embora monge impecável, eu me
encontrava diante de Deus como pecador de consciência atribulada, e não tinha
confiança que meu próprio mérito apaziguasse a ira divina, portanto, eu não
amava um Deus justo e irado, mas na verdade o odiava”. No meio desse
turbilhão, agonizando em sua alma, ele descobre a doutrina da justificação pela
fé. Passando assim a acreditas pela Escritura que a depravação total havia
tomado o homem completamente na queda, e que este homem perdeu a liberdade se
tornando escravo pelo pecado, tornando- se incapaz de voltar-se para Deus. Ele
retrata à vontade fazendo uma analogia com um cavalo que só pode ser montado
por um entre dois cavaleiros, Deus ou o Diabo: “Se Deus cavalga, o cavalo
deseja ir e vai onde Deus quer que ele vá, mas, se é satanás quem o cavalga, o
cavalo deseja e percorre o caminho de satanás. Tampouco pode o cavalo escolher
para quem correrá, ou qual cavaleiro o buscará; mas são os cavaleiros que
disputam as rédeas do cavalo” (Alisson, 2017, pág. 424). Matinho Lutero
entendia que a situação do homem após a Queda não era apenas a ausência da
justiça e nem concupiscência, mas uma tragédia, mas uma tragédia que afetou
plenamente esse homem. Com esse ensinamento, Lutero pinta um quando resumindo o
que entendeu à Luz das Escrituras o seu ensinamento sobre a depravação total, a
isto ele diz:
“Entendida
a capacidade vinda de Deus para tomar decisões ordinárias, resta evidente que,
para cumprirmos as responsabilidades no mundo, o livre arbítrio permanece. O
que ele é incapaz de realizar é fazer com que o homem salve a sai mesmo. Neste
sentido, o livre-arbítrio está totalmente corrompido, tornando-se assim,
escravo do pecado e do próprio satanás. Essa vontade escravizada nos faz
desejar o que é mau. Apenas com o auxílio da Graça somos libertos. A tragédia
da existência humana se resume no fato de que o homem não regenerado se
considera livre, e, deste modo, se entrega cada vez mais àquilo que o
aprisiona”. (Lutero,
1992, pág. 27).
Com
esta afirmação, entendemos que Lutero aniquila completamente a teologia da
salvação meritória, passando assim, a doutrinar que a justificação se dá
somente pela fé. Entendo que este homem deparado em sua natureza é incapaz de
chegar-se Deus pelos seus próprios esforços. Um outro reformador chamado de
Ulrico Zuínglio. Com pouca expressão na tentativa de difundir a reforma
protestante na Suíça era contemporâneo de Lutero e acreditava na predestinação,
na justificação pela fé, na suficiência das Escrituras e, obviamente,
considerava os seres humanos totalmente corrompidos e mergulhados completamente
no pecado. Ele dizia que “os pecados dos homens são tão fortes que estes
corrompem até a adoração” e afirma que era impossível confiar em Deus e ao
mesmo tempo nos santos. O grande sistematizador da doutrina da depravação total
foi o reformador João Calvino conhecido pela sua vasta produção literária,
entre elas, “As Instituas da Religião Cristã”, essa obra provou ser o trabalho
mais influente da reforma protestante. Protestantes de outros países viram em
Calvino e em sua obra um conceito brilhante sobre o pecado que se originou no
homem e como este lhe afetou, não só a Adão, mas, a sua posteridade. Vejamos o
que ele diz:
O
pecado original representa, portanto, a depravação e corrupção hereditária de
nossa natureza, difundidas por todas as partes da alma, que, em primeiro lugar,
nos fazem condenáveis à ira de Deus; em segundo lugar. Também produz em nós
aquelas obras que a Escritura chama de “obras da carne” (Gl. 5:19). E é
propriamente isto o que por Paulo, com bastante frequência, designa apenas de
pecado. As obras que de fato daí resultam, quais são: adultérios, fornicações,
furtos, ódios, homicídios, glutonarias, Paulo chama, segundo esta maneira de
ver, “frutos do pecado” (Gl. 5:19-21). Ainda que, como a cada passo nas
Escrituras, sejam também por ele referidas simplesmente pelo termo “pecados”
(Calvino, 1985, pág. 134).
Calvino
acreditava que o pecado não é simplesmente o nome para os atos perversos que
cometemos; antes, é a direção e a inclinação da própria natureza humana em sua
condição decaída. Cometemos pecados porque somos pecadores. O pecado consiste
tanto na perda da retidão original (privação), quanto na propensão poderosa de
transbordar todo o tipo de mal e delito específico (depravação) “A essência
do primeiro pecado de Adão, repetido em graus diversos em todos os seus
descendentes, é o orgulho, a desobediência, a descrença, todos os quais
resultam em ingratidão” (George, 1994, pág. 88). A figura de Calvino mais
gosta de usar para ilustrar essa alienação é a do labirinto. “Embora a
imagem de Deus ainda se fizesse presente no ser-humano, ela foi completamente
deteriorada/desfigurada Por causa dessa desfiguração, o homem não é capaz de
caminhar na direção na direção da divindade e, por isso, mergulha no erro
constante de fabricar ídolos” (Dagg, 2003. Pág. 121) Quando Calvino começa
a estudar sobre a depravação total, é levado automaticamente a pesquisar sobre
os aspectos da redenção e os motivos pelo qual Cristo precisou habitar nesse
mundo e morrer na cruz, daí nasce uma preocupação que toma o seu coração e o
leva a querer saber do que devemos ser salvos.
Assim
como Lutero, João Calvino enfatizou uma visão do pecado bastante alinhada com a
de Agostinho. Ao tratar da queda de Adão. Calvino adotou a concepção
agostiniana do primeiro pecado, ele disse: “O orgulho estava na essência da
desobediência de Adão à vontade de Deus, se não se deixasse inflar pela própria
ambição, Adão teria vivido para sempre no estado justo em que tinha sido
originalmente criado”. (Calvino, 2006, pág. 111). Penso que além do
orgulho, outro problema da essência da desobediência de nossos primeiros pais
foi a infidelidade à Palavra de Deus, pois, era tão fácil no estado em que Adão
se encontrava não pecar. Essa é a depravação herdada, à qual os pais da igreja
chamam pecado original, referindo-se com a palavra pecado à depravação de uma
natureza que antes era boa e pura. Calvino, citando Romanos, 5:12 e Salmos
51:5, concluiu que “todos os que descendemos da semente impura estamos
infectados com o contágio do pecado. Aliás, antes mesmo de vermos a luz desta
vida, já estávamos manchados e maculados aos olhos de Deus” Segundo,
Calvino:
O
Senhor confiou a Adão os dons que desejava conferir à natureza humana. Assim,
Adão, quando perdeu os dons recebidos, não os perdeu para si mesmo, mas para
todos nós. Adão não os recebeu só para si mesmo, mas também para nós, os dons
que perdeu, e estes não foram concebidos a um só homem, mas designados a toda
raça humana. Não há nenhum absurdo, então, em supor que quando Adão foi privado
deles, a natureza humana ficou nua e desprovida, ou que, quando ele foi
infectado com o pecado, o contágio o transmitiu para dentro da natureza humana.
O começo da depravação em Adão foi tal que se transmitiu, num fluxo perpétuo,
todos os ancestrais aos descendentes. (Alisson,
2017, pág. 426).
Deus
criou o homem perfeito e bom, mas, a predisposição de Adão para desobedecer ao
Senhor corrompeu as gerações futuras, de tal forma que, do mesmo modo que um
feto, ainda que no ventre da mãe, de acordo com as nossas leis já é um herdeiro
legal dos bens do pai, assim, também, antes mesmo de virmos à existência, ali
já éramos maculados pelo pecado diante dos olhos de Deus.
3.6. Nas confissões de fé
reformadas
Neste
tópico, pretendemos apenas citar o artigo em que são enfatizados nas confissões
de Fé Reformadas, julgando ser de muita importância para contribuição deste
trabalho. O doutor Heber Carlos Campos, falando sobre a relevância dos Credos e
Confissões, afirma:
Em
tempos de tanta confusão teológica por que passa a igreja neste final de século
XX, não é aconselhável professar o cristianismo sem afirmar com clareza aquilo
em que se crê. A igreja de Cristo sempre foi uma igreja confessante, porque a
genuinidade da nossa fé tem que ser evidenciada naquilo em que cremos e
confessamos. Temos que ter a ousadia de afirmar clara e abertamente e, de
preferência, de forma escrita, as coisas em que cremos. Reconheço que vivemos
numa era que rejeita a noção credal ou confessional, mas esta posição tem que
ser repensada. Tantas são as heresias e tentativas de assalto à fé genuína que
tornam necessárias a formulação e a confissão daquilo em que cremos, para que a
igreja, na sua inteireza, não venha a ficar perdida, lançada de um lado para o
outro por qualquer vento de doutrina (Monergismos, 2018).
Mark
Noll, afirma de forma muita precisa que as confissões de fé têm servido aos
protestantes “como pontes entre a revelação bíblica e culturas específicas” (Noll,
2012, pág. 399). Elas responderam a necessidades específicas e concretas de sua
época. Algumas perderam influência rapidamente, outras, no entanto, devido à
sua sensatez e equilíbrio vem permanecendo como fonte de inspiração e alimento
para a fé. E aí, entendemos que somos chamados para expressar nossa fé em nossa
época. O Dr Heber, ainda afirma: “importante nos lembrarmos de que não é
necessária a adesão a um credo para que uma pessoa se torne cristã, mas, uma
vez cristã, a pessoa tem que confessar a sua fé”. Veja que algumas
confissões afirmaram sobre o efeito da Queda de Adão à sua posterioridade.
Na
confissão Belga, 1561, artigo 14:
Cremos
que Deus criou o homem do pó da terra e o fez e formou conforme a sua imagem:
bom, justo e santo, capaz de concordar, em tudo, com a vontade de Deus. Mas,
quando o homem estava naquela posição excelente, ele não a valorizou e não a
reconheceu. Dando ouvidos à palavra do diabo, submeteu-se por livre vontade ao
pecado e assim à morte e à maldição. Pois, transgrediu o mandamento da vida,
que tinha recebido e, pelo pecado, separou-se de Deus, que era a sua verdadeira
vida. Assim ele corrompeu toda a sua natureza e mereceu a morte corporal e
espiritual. Tornando-se ímpio, perverso e corrupto em todas as suas práticas,
ele perdeu todos os dons excelentes, que tinha recebido de Deus (Brès).
Na
segunda Confissão Helvética, 1566, artigo 8:
Por
pecado entendemos a corrupção inata do homem, que se comunicou ou propagou de
nossos primeiros pais, a todos nós, pela qual nós – mergulhados em más
concupiscências, avessos a todo o bem, inclinados a todo o mal, cheios de toda
impiedade, de descrenças, de desprezo e de ódio a Deus – nada de bom podemos
fazer, e, até, nem ao menos podemos pensar por nós mesmos. Além disso, à medida
que passam os anos, por pensamentos, palavras e obras más, contrárias as leis
de Deus, produzimos frutos corrompidos, dignos de uma árvore má (Mt 12:33).
(Bullinger).
No
Cânone de Dort, 1619, Capítulo 1:
Todos
os homens pecaram em Adão, estão debaixo da maldição de Deus e são condenados à
morte eterna. Por isso, Deus não teria feito injustiça a ninguém se Ele tivesse
resolvido deixar toda a raça humana no pecado sob a maldição e condená-la por
causa do seu pecado e sob a maldição e condená-la por causa do seu pecado, de
acordo com estas palavras do apóstolo: “... para que se cale toda a boca, e
todo o mundo seja culpável perante Deus... pois todos pecaram e carecem da
glória de Deus...”, e, “... o salário do pecado é a morte... (Romanos, 3:19,23;
6:23). (Dort.2016).
Na
Confissão de Fé de Westminster, 1647, capítulo 6:
III.
Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi
imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza
corrompida, foram transmitidas a toda a sua posterioridade, que deles procede
por geração ordinária. (Atos 17:26; Gn. 2:17; Rm 5:17, 15:19; 1Cor 15:21-22,45,
49; Gn 5:3; João 3:6). (Westminster, 2001, pág. 59 e 60).
Na
Confissão de Fé Com Congregacional, 2015, capítulo 7:
IV.
Desta corrupção original, pela qual nos tornamos indispostos, incapazes e
antagônicos a todo o bem, e totalmente inclinados a todo mal, procedem todas as
transgressões atuais (Gn 6:5; 8:21; Rm 3; 10-12; 7:18; 8, 7-8; Cl 1:21; Mc 7:21-23;
Ef 2.1,3; Tg 1:14-15). (Congregacional, 2015, pág. 52).
Desse
modo, podemos perceber que essas confissões têm grande importância para uma
igreja confessional nos dias de hoje. Pois, elas ajudam a dar expressão à
unidade da igreja, identifica quem somos e como entendemos as Escrituras.
Ademais, tais confissões auxiliam-nos no ensino dos membros em relação aos
fundamentos da fé cristã e fortalece o Corpo de Cristo contra os perigos da
falsa doutrina. Portanto, caso queiramos uma igreja imunizada contra os
arroubos teológicos, nada é mais oportuno do que o uso das confissões para
ensinar aos cristãos a base da nossa fé cristã à luz das Santas Escrituras.
4. A
DEPRAVAÇÃO DA CULPA
4.1 A natureza da culpa
Culpa
significa o merecimento do castigo, ou obrigação de satisfazer a Deus –, como
mostram as Escrituras -, reage contra o pecado, e esta é a ira de Deus (Rm
1:18). Mas só se incorre na culpa através de autoescolhida transgressão, ou por
parte da humanidade em Adão, ou por parte da pessoa individualmente. Como diz
(Strong, 2007) “Somos culpados apenas daquele pecado que originamos ou em
cuja origem tivemos parte”. Ele ainda considera o pecado como poluição, e
como tal, dessemelhança ao caráter de Deus; cuja culpa, em seu antagonismo à
Sua santa vontade. Esses dois elementos poluição/culpa estão sempre presentes
na consciência do pecador. Erickson em sua sistemática corrobora que:
Essa
culpa é o merecimento da condenação ou de ser possível de punição pela violação
de uma lei ou de uma exigência moral. Ela expressa a relação do pecado com a
justiça ou da penalidade com a lei. Mesmo assim, porém, a palavra tem duplo
sentido. Pode indicar uma qualidade inerente ao pecador, a saber, o seu
demérito, más qualidades ou cumplicidade, que o faz merecedor de castigo
(Erickson, 2015, pág. 585).
Em
Romanos 1:18, a Bíblia diz que “a ira de Deus se revela do céu contra toda
impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela justiça”. Desse modo,
percebemos que a perspectiva teológica aborda a questão teológica aborda a
questão da culpa a partir da indignidade humana diante de Deus. Portanto, a
culpa é a – violação da Lei Moral de Deus -, ou seja, tendo em vista que tal
culpa seja oriunda da rebeldia e desobediência de Adão, entende-se que a
consequência de tal rebelião se estende a todo e qualquer ser humano (Rm 3:23),
resultando em condenação.
Outro
aspecto interessante é que, à Luz das Escrituras “não há justo, nenhum sequer”
(Rm, 3:10). Por conseguinte, em decorrência disso, também “não há quem busque a
Deus” (Rm 3:11). Posto isto, conclui-se que essa é a realidade na qual se
encontra todo ser humano, pois, se estamos distantes da vontade de Deus, tal
situação nos torna – culpados – e coloca-nos debaixo da ira de Deus. Desse
modo, ao falar sobre a culpabilidade do ser humano diante de Deus, Anthony
Hoekema, diz o seguinte:
A
culpa é a condição de se merecer a condenação ou de estar sujeito à punição
porque a lei foi violada. Quando dizemos que o pecado original inclui a culpa,
não queremos dizer com isso que cada um de nós é considerado pessoalmente
responsável pelo que Adão fez. Você e eu não podemos ser considerados
diretamente responsáveis por algo que uma outra pessoa fez. Mas, pela doutrina
do pecado original, entende-se que estamos compreendidos na culpa do pecado de
Adão, porque ele agiu como nosso representante quando cometeu o primeiro pecado
(Hekema, 2010, pág. 167).
Desse
modo, embora não sejamos responsáveis pelo pecado, ainda assim, a desobediência
de nossos primeiros pais respingou em toda a humanidade de tal forma que somos
totalmente culpados pelo primeiro pecado.
4.2 Graus de culpa
As
Escrituras reconhecem diferentes graus de culpa que ressaltam de diferentes
tipos de pecado. Esse princípio é reconhecido no Antigo Testamento na variedade
dos sacrifícios exigidos para as diferentes transgressões sob a lei de Moisés,
vemos isso claramente em Levítico 4:7. É também indicado pela variedade de
julgamentos, a igreja católica romana ergueu, uma distinção errônea entre
pecados venais e mortais, sendo que pecados venais são aqueles que podem ser
perdoados, e mortais aqueles que são voluntários e deliberados, e que envolvem
a morte da alma. Em contraposição, podemos observar as verdadeiras diferenças e
culpa conforme resultam das diferenças no pecado.
Vejamos
a classificação dos graus de culpa de STRONG (2007) FAZ: “Primeiro ele, fala
sobre o pecado de natureza e transgressão pessoal. Como pecado de natureza, nos
referimos a culpa do pecado inato, mas existe maior culpa quando permitimos que
o pecado de natureza nos leve a cometer atos de transgressão pessoal”. As
palavras de Cristo: “porque dos tais é o reino dos céus” (Mt 19:14), fala da
inocência relativa da infância, enquanto que Suas palavras aos escribas e
fariseus: “Enchei-vos, pois, à medida de vossos pais (Mt. 23:32), se refere a
transgressão pessoal acrescentada à depravação herdada.
Segundo
STRONG (2007), diz: “pecados de ignorância e pecados de conhecimento. Aqui a
culpa é determinada de acordo com a quantidade de informações que o indivíduo
possui. Ou seja, quanto mais conhecimento maior a culpa”. Veja, “Eu lhes digo a
verdade: No dia do juízo haverá menos rigor para Sodoma e Gomorra do que para
aquela cidade”. (Mt. 10:15) “E o servo que soube a vontade do seu senhor, e
não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos
açoites; mas o que não a soube, e fez coisas dignas de açoite, com pouco açoite
será castigado. E, a qualquer que muito foi dado, muito se lhe pedirá, e ao que
muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá”. (Lc 12:47-48).
Terceiro,
Strong (2007) diz: “pecados de fraqueza e pecados de soberba, a quantidade de
força de vontade aqui envolvida indica o grau de culpa. O Salmista orou para
que fosse guardado dos pecados da soberba (Sl 19:13), e Isaías fala daqueles
que “puxam para si iniquidades com cordas de injustiça, e o pecado como
tirantes de carro (Is 5:8) isto é, que conhecimento e determinação cedem ao
pecado”, Por outro lado, Pedro ao negar Cristo demonstrou o pecado da fraqueza.
Ele caiu apesar de sua determinação de ficar em pé.
Quarto,
(Strong, 2007), diz: “pecados de imperfeição e pecados de obstinação final.
O
grau até o qual a alma se endureceu e se tornou não receptiva às ofertas
multiplicadas da Graça de Deus determina aqui o grau de culpa, obstinação final
é o pecado contra o Espírito Santo e é imperdoável porque através dele a alma
cessou de ser receptiva a influência divina”, em Mateus 12:31-32 está escrito:
“Portanto, eu vos digo: todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a
blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada aos homens. E, se qualquer
alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém
falar contra o Espírito Santo, não se lhe será perdoado, nem neste século e nem
no futuro”. Ele acrescenta o texto de Hebreus 10:26 que diz: “Pois se nós,
depois de havermos recebido o conhecimento da verdade, persistirmos pecando por
vontade própria, já não resta mais sacrifício pelos pecados”.
Berkhof,
comentando sobre esse tipo de pecado, o pecado da obstinação final, ele diz:
Esse
pecado consiste na rejeição e na calúnia consciente, maliciosas e deliberadas,
contra toda a advertência e convicção, do testemunho do Espírito Santo a
respeito da Graça de Deus em Cristo, atribuindo-o, por ódio e inimizade, ao
Príncipe das Trevas. Ao Cometer esse pecado, o homem voluntaria, maliciosa e
intencionalmente atribui aquilo que é claramente reconhecido como a obra de
Deus à influência e a ação de Satanás. (Berkhof, 2001, pág, 235).
4.3 A punição
Já
dissemos que o pecado é tanto um ato como um estado. E um ato porque o próprio
homem -, de livre escolha -, preferiu desobedecer à lei de Deus, revelando-se
contra Ele. Porém, o pecado implica um estado pecaminoso porque o homem quebrou a comunhão e a relação com o seu
Criador. Separando-se d’Ele. Inevitavelmente, segue-se a prática do pecado o
juízo, ou seja, o castigo positivo (Gn. 2:17; Rm. 6:23). A partir do capítulo 3
de Gênesis, a Bíblia trata da Queda e dos efeitos imediatos na visa do homem,
assim Adão experimenta de modo imediato, as consequências do seu pecado após
ter desobedecido a Deus. Ele foge da presença de Deus no Jardim do Éden (Gn
3:8) levando consigo o estigma do pecado e tornando-se culpado aos olhos de
Deus.
4.3.1. O pecado desfigurou a
imagem divina do homem
Adão
não perdeu completamente a imagem divina porque em parte permaneceram nele os
elementos de pessoalidade dessa imagem, na sua alma e no seu espírito. Porém,
esses elementos da imagem desfigurados pelo pecado. Em que consistia a imagem
original de Deus no homem? O texto de Gn1:26,27 diz que o homem foi criado às
imagens de Deus.
Bavinck
(2012, pág 173) define a pessoalidade, “como imagem natural de Deus e a
santidade como imagem moral. Em relação à pessoalidade o homem foi criado como
ser pessoal e isto distingue dos seres irracionais”.
Trata-se
da capacidade do homem para pensar, conhecer a si mesmo e relacionar-se com o
mundo ao seu redor e determinar o seu “eu” quanto ao certo e o errado, ao que é
justo e injusto (Gn 9:6; 1Cr. 11:7; Tg 3:9). Em relação a imagem moral, o homem
foi dotado de sentimento. Esse sentido moral da imagem divina no homem
revela-se na finalidade da sua criação que é a retidão. Diz a Bíblia que “Deus
fez o homem reto” (Ec 7:9) e a justiça é essencial à sua imagem (Ef 4:24; Col.
3:10). Mas ele a distorceu por seu pecado afetando toda a criação e sua
descendência (Rm 5:12).
4.3.2 O pecado deu origem a um
estado pecaminoso que afetou toda a raça humana
PEARMAN
(2009) afirmou: “O efeito da queda arraigou-se tão profundamente na natureza
humana, que Adão, como pai da raça humana, transmitiu a seus descentes e
tendência ou inclinação para pecar”. Neste aspecto toda a criatura humana é
pecadora porque adquiriu a imagem degenerada e decaída de seu pai. Ernesto
Naville, escreveu: “Não digo que todos sejamos malfeitores manifestos, sim,
afirmo que em cada um dos homens existe o princípio do egoísmo que é a natureza
do pecado”. Há uma disposição entranhada no interior de cada criatura
humana para praticar o pecado (Ef. 2:2-3) e Paulo ensina e atribui a
universalidade do pecado ao cabeça da raça humana. O apóstolo Paulo tratou
profundamente da doutrina do pecado e ensina que os cristãos autênticos, antes
de serem alcançados pela graça de Deus, mediante a obra expiatória de Cristo,
vivem em ofensas e pecados, fazendo a vontade do diabo, da carne e dos
pensamentos, e por isso eram considerados “filhos d aira divina”
Mais
uma vez PEARLMAN (2009) esclarece esse assunto:
Esta
condição moral da alma é descrita de muitas maneiras: todos pecaram (Rm. 3:9)
todos estão debaixo da maldição (GL. 3:10). O homem natural é estranho às
coisas de Deus 1Cr. 2:15); o coração natural é enganoso e perverso (Jr. 17:9) a
natureza mental e moral é corrupta Gn. 6:5.12; 8:21); o pecador é escravo do
pecado (Rm. 6:17; 7:15); é controlado pelo príncipe das potestades do ar (Ef.
2:2); está morto em ofensas e pecados (Ef. 2:1); é filho da ira (Ef. 2:3).
PEARLMAN (2009, pág. 135).
4.3.3. O pecado acarretou
punições naturais e físicas na vida do homem
BERKHOF
(2001), diz que são “punições naturais e positivas” em que as leis
naturais da vida são violadas. São punições de ordem física que resultam em
doença, dores e sofrimentos ao homem, não se trata de punições imediatas a
qualquer prática de pecado, mas se trata daquelas doenças impregnadas na terra,
na terra no ar e nas águas. Essas punições naturais resultam da maldição do
pecado no planeta. A promessa de cura e de redenção da terra e do homem provém
da pessoa de Jesus, o Filho de Deus, que se fez carne, habitou entre nós, para
expiar a culpa dos homens (Gn. 3:15; Is. 53:4-5; Rom 5:21). Os sofrimentos da
vida tornam-se realidade na vida cotidiana do homem, como resultado da
penalidade do pecado.
Seu
corpo tornou-se presa de doenças e fraquezas provocando mal-estar e
desconforto, sua vida mental e emocional ficou sujeita a angustias, tristezas,
paixões sem domínio e desejos conflitantes. Sua vontade perdeu a capacidade de
escolha, e conforme disse Paulo, toda criação ficou sujeita à vaidade e
escravidão (Rm 8:20). De certo modo, nosso sofrimento físico nos dá, pela morte
física, a esperança de obtermos, um dia, corpos transformados e espirituais.
4.3.4. O pecado gerou um
contínuo conflito moral e espiritual entre corpo e alma de cada criatura
humana.
Tão
logo o homem pecou, entranhou-se em seu ser um conflito entre a sua natureza
superior, expressa por alma e espírito, e sua natureza inferior, e manifesta
através do corpo. O homem encontrou-se dividido em si mesmo, e sua natureza
física e inferior, tornou-se frágil e subjugada aos poderes do pecado (Rm
7:24). O grande pregador Charles H. Spurgeon, falou em uma de suas pregações
que “o mar todo fora do navio não causa danos enquanto a água não penetra
nele e enche-lhe o porão”. Aprendemos que esse ensino de Spurgeon que o
perigo está dentro de nós mesmos, é interno e na linguagem metafórica da Bíblia
esse perigo chama-se coração, que é, de fato o nosso maior inimigo, porque nos
enganan e, a síntese dessa ideia é que devemos ter o coração sob controle para
que ele não nos engane. Neste fato está a questão da tentação, ela em si mesma
não constitui pecado, mas ela pode se tornar em ocasião para o pecado. O Novo
Testamento, especialmente, fala constantemente sobre “carne e espírito” como
oposto um do outro (Gl 5:13-14), esse conflito envolve a totalidade da pessoa,
porque “carne” induz a volta do domínio do pecado, no caso do cristão. Porém, o
cristão fortalece o seu espírito para vencer a carne e estar submisso ao
senhorio de Cristo.
4.3.5. O pecado despertou a
consciência do homem
Diz
o texto literalmente: “Então, foram abertos os olhos de ambos que estavam nus,
e coseram folhas de figueira, e fizeram para si vestimentas” (Gn.3:7) Na
verdade, quando os seus olhos foram abertos, os olhos da alma, o olho interior,
uma forte convicção de que haviam desobedecido a Deus lhes sobreveio. Quando já
era demasiado tarde, compreenderam a loucura de haver comido do fruto proibido
por Deus. A lei moral de suas consciências deu um sinal quando desobedeceram
que estavam nus, esta consciência de nudez os fez perceber que haviam perdido
todas as honras e encantos da vida no paraíso que Deus havia feito para eles.
Outrossim, ficaram envergonhados, porque se viram frentes ao desprezo e à perda
da comunhão com o Criador e aí, ficaram totalmente indefesos, porque, a partir
da queda, estavam sós, sem a presença do Criador.
4.3.6. O pecado trouxe ao
homem a punição da morte física
Paulo,
declarou que: por um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado, a morte” (Rm.
5:12). A palavra morte (do grego, thanatos, gr,) significa separação da morte
física e espiritual do ser humano, indiscutivelmente, a separação de corpo e
alma faz parte da penalidade imediata do pecado, a Bíblia diz que “o salário do
pecado é a morte” (Rm. 6:23). Pelágio e seus discípulos ensinaram que a morte
física fazia parte do primeiro estado do homem antes do pecado de que ele fora
criado como um ser mortal. Naturalmente, esse conceito errôneo foi rejeitado
através da história. A igreja adotou uma posição definida quanto a questão da
morte, a saber, que a morte sempre se constituiu uma penalidade do pecado.
Existem aqueles que os ímpios serão lançados no inferno, mas que insistem que o
castigo é corretivo e não retributivo, com isso, se isto não for esclarecido à
luz das Escrituras, nascerá uma espécie de purgatório protestante cujo o fogo
serve para castigar em vez punir.
PINK
(1978), sobre esse assunto afirma:
Se
os homens que morreram rejeitando o Salvador depois haverão de ser salvos, se o
fogo do inferno tem como objetivo de fazer aquilo que o sangue da cruz não pôde
fazer, então porque foi necessário o divino sacrifício todos poderiam ser
salvos pelos sofrimentos disciplinares do inferno, e assim Deus poderia ter
poupado o Seu Filho. Além do mais, se Deus Se compadecesse tanto de Seus
inimigos e não deseja senão um final feliz de infinita compaixão para aqueles
que desprezam e rejeitam Sei Filho, perguntamos: Por que, então, Ele toma
providências tão terríveis para com eles? Se eles não precisam de outra coisa
senão de disciplina a amorosa, não poderia a sabedoria divina inventar alguma
medida mais gentil do que entregá-los ao “tormento” do lago de fogo pelos
“séculos dos séculos”? Assim percebemos que o lago de fogo é o lugar de
castigo, e não da disciplina e que é a ira de Deus e não o seu amor que lança
ali os réprobos, desaparece toda e qualquer dificuldade sobre o assunto. (A. W.
PINK, 1978, PÁG. 134).
4.3.7. Consideramos também o
castigo disciplinador
Alguns
teólogos procuram fazer distinção entre castigo, punição e pena e, sem dúvida,
há certa distinção que deve merecer a nossa apreciação. Entretanto, preferimos
usar o termo castigo como abrangência ao modo de tratamento de Deus quanto aos
pecados cotidianos dos cristãos e quanto aos pecados que implicam o tratamento
final de Deus. Nesse ponto, especialmente, o castigo disciplinador relaciona-se
com o comportamento do cristão, e objetiva corrigi-lo e repreendê-lo, a fim de
que não se perca. A doutrina no que tange esse tipo de castigo revela que é
possível até mesmo morrer? Prematura do cristão como modo de disciplina divina
e a salvação da alma (1Cor. 22:30-34).
O autor da carta
aos Hebreus faz uma distinção entre filhos bastardos (Hb.12:6-8), neste Deus se
mostra como “Pai, amoroso que corrige os filhos”; por isso, a correção tem
sentido disciplinador. Quando o escritor emprega o termo “bastardo”, faz isso
para distinguir do verdadeiro Deus, aquele que aceita a correção do Pai. (v.
8). CHAFER (2003, pág. 755) escreveu a sua teologia sistemática, que “a
disciplina numa forma ou de outra, é a experiência universal de todos os que
são salvos; o ramo que produz frutos é podado, para que produza mais fruto
ainda (Jo.15:12)”.
4.3.8. O castigo (a pena) final do pecado
Se
a morte física significa separação de corpo e alma e é a parte da pena do
pecado, entendemos que, de modo nenhum, a morte física venha significar a
penalidade final. Nas escrituras a palavra morte é frequentemente usada como
sentido moral e espiritual, isto significa que a verdadeira vida da alma e do
espírito, é a relação com a presença de Deus. Portanto, a pena divina contra o
pecado do homem no Éden foi a separação da comunhão com o Criador. A morte
espiritual tem dois sentidos especiais: um sentido é negativo e o outro é
positivo, em relação à vida cristã, todo verdadeiro crente está morto para o
pecado, porque a pena do pecado foi cancelada e ele está livre do domínio do
pecado (Rm 6:24). Trata-se da separação da vida de pecado depois que se
confessa a Cristo e é expiado por Ele, porém, relação ao futuro, o crente terá
vida eterna, isto é, terá a redenção plena do corpo do pecado (Ap. 21:27;
22:15).
Porém,
o sentido negativo da morte espiritual refere-se à morte no pecado. O crente
está morto para o pecado, mas o ímpio está morto espiritualmente no pecado,
significa que o pecador vive um estado de vida separada de Deus e da comunhão.
Significa estar “debaixo do pecado” e estar sob o seu domínio, o efeito nesses
dois sentidos é presente e temporal. O pecador sem Deus, no presente, está numa
condição temporal de excomunhão em Deus, mas pela graça de Deus poderá sair
desse estado e morrer para o pecado (Ef. 4:18; Gn. 2:17). A punição final do
pecado é a morte eterna, ou seja, o juízo final contra o pecado (He. 9:27). A
morte eterna é a culminância e completamente da morte espiritual, isso diz
respeito à repugnância da santidade divina que requer justiça contra o pecado e
contra o pecador impenitente significando retribuição de um Deus pessoal, tanto
sobre o corpo como sobre a alma.
Existem
algumas teorias que tentam anular a doutrina bíblica da morte eterna, como
castigo final do pecado. O universalismo ensina que Deus é bom demais para
excluir alguém da sua presença no céu, pois Jesus morreu por todos; por isso,
ao final, todos serão salvos. O restauracionismo é outra ideia equivocada e
antibíblica, porque ensina que Deus que vai restaurar todas as coisas ao final
da história da humanidade, quando então todos serão salvos. A ideia do
purgatório, ensinada pela igreja romana, de que o purgatório é período
probatório pelo qual, entre a morte e a ressurreição, os pecadores que morreram
serão perdoados e poderão se recuperar e se livrar da pena final de seus
pecados. Por último, a teoria de aniquilação ensina que, ao final de tudo, no
juízo, todos os ímpios serão aniquilados; isto é, extinguidos, como quem
extingue uma folha de papel no fogo que vira cinza. Interpretam erradamente (II
Ts 1:9), substituem a palavra “aniquilar” por “extinguir”. O sentido bíblico de
“aniquilar” é “banir” da presença de Deus. Portanto, morte eterna é eterna
separação (expulsão) da presença de Deus e a impossibilidade de arrependimento
e salvação.
Outros
textos poderiam ser citados, mas acreditamos serem eles suficientes para
comprovarmos a veracidade da doutrina de “depravação total” e seus efeitos na
humanidade. Encontramos também nos relatos dos textos escritos pelo apóstolo,
essa gloriosa verdade que iremos abordar no próximo capítulo.
5. A
perspectiva paulina da doutrina da depravação total.
Findamos
o capítulo anterior tratando de forma sistemática da doutrina do pecado. Neste
capítulo iremos tratar do mesmo tema numa abordagem paulina, foco das epístolas
de Paulo. Sabendo que não conseguiremos expor todos os textos em só capítulo,
então abordaremos em subtemáticas fundamentais para a nossa pesquisa.
Mostraremos, em linhas objetivas a universalidade do pecado, os efeitos do
pecado no homem e iniciaremos falando da ideia de cosmo.
5.1. O cosmo na visão paulina
Segundo,
ROBINSON (2004, PÁG. 123). O Termo grego cosmo tem vários significados que
precisamos nos debruçar até chegar à definição paulina do termo. Seguindo o
dicionário de Robinson, encontramos múltiplos conceitos sobre o termo.
Primeiro, pode significar “ordem”, “disposição e arranjo regular”, implicando
na ideia de sistema. Uma posição comportamental natural da massa. Segundo
“decoração”, “ornamento”, referente a estética de joias e roupas. Terceiro, “mundo”,
“universo”, “os céus e a terra”, domicílio dos homens. E quarto, o mundo como
soma das pessoas, pessoas de todas as etnias e povos espalhados pelo globo
terrestre.
Para
a hamartiologia paulina (Do
grego αμαρτια + λογία, λόγος transliterado hamartia lógos ou logia, termo ou
vocábulo composto, a significar a ciência (λόγος, λογία) que se ocupa do estudo do
pecado (αμαρτια).
Os conceitos um e dois das definições de Robinson acima são um bom ponto de
partida. A primeira porque trata da ideia do sistema que impulsiona a todos a
agirem e a segunda porque mostra que a somatória da humanidade é produtora de
sistemas. Ou seja, é criado um círculo vicioso entre homem/sistema/homem que
faz com que o sistema seja perpetuado e parte constitutiva da sociedade.
Aprofundando um pouco mais, iremos encontrar as
palavras de RIDDERBOS (2004, pág. 101) o conceito de cosmo na visão paulina:
“Constitui a descrição da totalidade da vida sem redenção dominada pelo pecado
e fora de Cristo”. Cosmo neste conceito, está ligada a ideia de sistema
corrompido e dominado pelo pecado que é, por sua vez, uma forma de vida fora de
Cristo. Em (Gálatas, 1:4), Paulo nos diz: “Cristo nos livra deste mundo
perverso” (grifo meu).
Ainda segundo, (RIDDERBOS 2004) “Este mundo tem
a conotação de um contexto dominado pelo pecado” (idem). Isso nos mostra que
para Paulo o mundo, como sistema, está dominado pelo pecado e deu as costas
para Cristo, sendo assim, “o pecado, como um poder hostil, os domina” (SCHREINER,
1995, pág. 95).
A corrupção é uma característica deste sistema
e Paulo denuncia isto em (Romanos 1:18-32), onde fala da Revelação Geral de
Deus e como essa deixa todos os homens indesculpáveis perante o Senhor. Toda a
depravação humana é resumida neste texto onde o apóstolo fala da ira de Deus
revelada na criação contra a corrupção humana. O sistema corrompido manifesta a
sua doença em comportamento desagradáveis aos olhos de Deus. Tais como:
“injustiça, malícia, avareza, maldade; possuídos de inveja, homicídio,
contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de
Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos
pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia”, (vs 29-31).
O paganismo é caracterizado no texto
supracitado e mostra o quanto o mundo deu as costas ao Criador. Bruce comenta
este texto dizendo que “os perdidos gozam para sempre da horrível liberdade que
sempre pediram, e, portanto, estão escravizados por si mesmo”. (RIDDERBOS,
2004, pág, 70). Como força escravatória o pecado domina o homem em Adão e o
impede de Glorificar a Deus; assim como perverte a verdade, a substituindo pelo
engano, adorando a criatura ao invés do Criador.
WRIGHT (2009, pág. 8), no seu trabalho sobre a
Nova Perspectiva paulina, que a estrutura do pensamento do apóstolo Paulo, o
paganismo ainda era visto como inimizade com Deus e oposição ao povo de Deus.
Ele diz que “Paulo permanecia com um típico Judeu, entendendo o paganismo com
idolatria, como imoralidade, e, consequentemente, como corrupção da boa criação
de Deus e do homem como portador da imagem divina”. (RIDDERBOS, 2004, PÁG,
111), por isso pervertem tudo o que vem de Deus para os seus próprios deleites,
para continuarem sendo consumidos por suas próprias corrupções e para viverem a
escravatura da sua própria liberdade.
Sendo, assim, o que é dito em Romanos fica cada
fez mais incontestável, que tais homes são indesculpáveis diante de Deus. A
natureza pecaminosa se manifesta ao construir um sistema viciante, que garante
a manutenção do vício do homem caído em desagradar a Deus.
RIDDERBOS (2004, PÁG. 101), diz que esse
sistema contaminado pelo pecado “e aqueles que seguem o curso deste mundo está
seguindo o seu príncipe, o diabo”. Em Colossense (1:13) diz que “Ele (Jesus)
nos libertou do império das trevas”; Efésios (2:2) é dito que antes de sermos
vivificados pelo Senhor Jesus andávamos, outrora, segundo o curso desse mundo,
segundo o príncipe de potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da
desobediência”. Podemos ver as expressões “libertou do império das trevas” (Cl
1:13) e “segundo o príncipe de potestade do ar”. (Ef. 2:2) que existe um
príncipe sobre esse sistema pagão chamado cosmo. O diabo é mencionado como o
líder deste sistema que desagrada a Deus e todos que andam no curso deste
sistema, andam sob a liderança do inimigo.
No entanto, é necessário frisar, que mesmo o
diabo sendo o príncipe do cosmo pervertido, que chamamos de mundo, não
significa que exista dualidades (duas forças competindo). Porque todos os
poderes malévolos que influenciam o cosmo “pertencem a criação de Deus (Rm
8:39) e mesmo em sua atividade como adversários de Deus e de tiranizarão dos
homens, estão sujeitas a Deus, (2Co. 12:7)”. (RIDDEBOS, 2004, pág. 102), diz
que todas as forças malévolas estão sujeitas a Deus, porque o próprio Deus as
sujeitou, fazendo com que o sofrimento, a opressão e a ansiedade sejam ações de
controle e punição.
Rebelar-se contra Deus é característica
fundamental deste sistema nervoso. O cosmo é o mundo que deu as costas para
Deus, é rebelde e hostil para com Ele (Rm. 3:16;19; 2Co. 5:19). Na perspectiva
paulina a humanidade é depravada e ruma para o julgamento (Rm. 3:6; 1Co.
11:32).
O Cosmo na visão de Paulo, é um sistema
opositor a Deus, a sua criação original e adâmica, é de caráter gentílico, ou
seja, com apelo ao engano e ao erro; e dominado pelo diabo. Paulo entendia
muito bem que aqueles que estão neste cosmo para voltar-se para Deus precisam
ser redimidos pela Cruz de Cristo. Aqueles que pela cruz passam precisam deixar
de viver no curso deste mundo (Rm 12.1-2) e precisam crucificar o cosmo (Gl.
6:14), para viver com um único objetivo que é ode agradar a Deus.
Neste próximo tópico, veremos sobre a
universalidade do pecado na visão paulina e tudo o que possa significar para a
relação do homem com Deus e com o mundo que o cerca.
5.2.
A universalidade do pecado na ótica paulina
Vimos no capítulo primeiro a universalidade do
pecado dentro da doutrina reformada histórica. Desta forma, vimos na
apresentação dos textos bíblicos uma abordagem geral, onde não se deteve, onde
não se deteve a nenhum autor específico ou trecho, mas a toda a Bíblia. A
proposta, por outro lado, deste tópico é mais específica. É falar pontualmente
da ótica paulina da universalidade do pecado.
Para o apóstolo Paulo é evidente que todo o ser
humano é pecador, sem distinção de cor, etnia, línguas, épocas. Ele deixa isso
bem claro na epístola aos (Rm. 3.22:23). “Porque não há distinção, pois todos
pecaram e carecem da glória de Deus, então naturalmente neste mundo não pode
haver justiça natural. Os seres caídos são, na sua totalidade, extraviados e
inúteis no que se refere a justiça (Rm. 3:10-20). REDDERBOS (2004) diz que para
Paulo provar a universalidade do pecado, ele:
“Lança mãos tanto da experiência (em seu esboço
do paganismo depravado (Rm. 1:18) como da sanção do próprio judaísmo que é
acusado por ele (Rm 2:1, 21:24) e conclui sua acusação reveladora com o extenso
uso das Escrituras: ‘não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há
quem busque a Deus; todos se extraviam, à uma se fizeram inúteis...’ (Rm
3:10-20; cf.2.24)” (RIDDERBOS, 2004, pág. 103).
O ponto de partida do apóstolo Paulo é a
própria Escritura. No texto aos Romanos ele faz menção de uma passagem do
Antigo Testamento: (O Salmo 14.1-3), onde o Salmista Davi, fala que todos se
extraviaram e são incapazes de fazer o bem. Mas podemos encontrar, o (Salmo
51.1-3), a injustiça natural do homem; e em (Eclesiastes 7:20) diz que todos
pecam e são incapazes de fazer o bem. O embasamento paulino da universalidade
do pecado é, inicialmente a própria Escritura. Paulo, empreende seu vasto
conhecimento das Escrituras para provar ao seu leitor que judeus, gregos, da
circuncisão ou da incircuncisão, estão justamente na escravidão do pecado.
Em (Rm. 1:18), Paulo, mostra na experiência
social a comprovação da universalidade do pecado. Que toda sociedade demonstra
a influência da queda em suas atitudes, desígnios e culturas. O retrato da
sociedade é uma figura borrada pelo mal, onde para a sua própria comodidade a
verdade é por esta pervertida e convertida em mentira. É a inversão de valores
vista por Paulo em seus dias e que pode ser vista por nós hoje, porque é fruto
do mal que traspassa as eras, que é a nossa depravação. A reflexão paulina é um
olhar para a Bíblia e outro para a sociedade, para comprovar que tudo o que a
Bíblia diz pode ser visto nitidamente entre nós. Os sinais da depravação são
latentes.
Uma forte característica da explanação paulina
da universalidade do pecado é a explicação detalhada que é feita pelo apóstolo
sobre a natureza do pecado. Paulo não diz que a sociedade é caída por causa da
somatória de pecados de cada indivíduo, como uma soma de atos ilícitos a Lei de
Deus. Mas que a origem de toda e qualquer tipo de transgressão se dá pelo
simples fato de termos em comum uma mesma natureza. É o que RIDDERBOS (2004,
pág. 104) chama de solidariedade no pecado. Em (Rm. 3:9), é dito: “Que se
conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois, já temos
demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado”. A
solidariedade no pecado nos torna igualmente necessitados da graça.
A igualdade entre judeus e gentios no pecado e
na necessidade da Graça de Deus, também é tema de (Gálatas 3:22) é dito que: “A
Escritura encerrou tudo sob o pecado”. Fica para Judeu ou gentio a mensagem de
que aos olhos de Deus não existe um único justo, que todos estão sobre o poder
supremo do pecado e são carentes da intervenção divina. A universalidade do
pecado também é, deste modo, explicada por nossos laços genéticos, pois judeus
ou não judeus, todos tem o mesmo pai, Adão. E por isso são solidários na morte
e no fardo herdado no Éden.
Para chegar a vias concretas da universalidade,
Paulo exemplifica a propagação desse mal. Sobre isso, afirma RIDDERBOS:
“Por certo, não se pode dizer dessa visão que
sua intenção é explicar, quer a universidade do pecado, quer à sua maneira de
propagação. No entanto, recebemos uma visão mais profunda da natureza da
solidariedade no pecado de acordo com a concepção do apóstolo. Isso porque a
intenção de (Romanos 5:12-21) é de mostrar que a ligação que existe entre a
retidão de Cristo e a vida de seu povo tem sua prefiguração ou tipo na ligação
entre o pecado de Adão e a morte de seus descendentes” (RIDDERBOS, 2004, pág.
105).
A solidariedade do pecado fica provada na
sentença de morte paga para todos os descendentes de Adão. Paulo deixa alguns
pontos claros: Primeiro que o homem deu ao pecado acesso ao mundo. Quando o
apóstolo usa a expressão “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo”
(Rm 5:12), ele nos mostra que o homem é o introdutor do pecado no mundo.
Segundo que este pecado é herança para todos, sendo provado na sentença
recebida, a morte. E terceiro, que a nossa conceituação social é a de
pecadores. Paulo resume nossa relação com o Éden pelo termo: “porque todos
pecaram” (Rm 2:12). Para mostrar que somos e o que fizemos no Éden. Afugentando
qualquer possibilidade de vitimização por parte do homem, seja em qual for a
época ou a nação.
Esse conceito “pecadores” é exemplificado por
Paulo em todos os exemplos que ele narra do declínio moral do ser humano. Adão
transmite para todos os descendentes uma “deficiência moral”, como diz
(RIDDERBOS, 2004, pág 106). Ao escrever a Tito (3.3) é nos dado um pequeno
vislumbre desse declínio moral: “pois, nós também, outrora, éramos néscios,
desobedientes, desgarrados, escravos de todas as sortes de paixões e prazeres,
vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros”. Desta
forma, se abre um canal de calamidade, porque o homem como pecador passou a
estar sob o domínio do pecado e da morte. A universalidade do pecado
apresentada por Paulo (em harmonia com toda a escritura, é claro) revela que o
homem é culpado no primeiro homem, é agente ativo desse mal (pois o homem é
executor dos frutos do seu declínio moral) e é agente passivo na relação com
esse mal (pois somente a Graça pode coibir o poder do pecado, o homem não tem
forças em sai mesmo para isso).
As provas da experiência observatória paulina
tem como utilidade como comprovar aquilo que as escrituras ensinam. Paulo tinha
plena convicção de que o pecado é um mal comum a todo o ser humano e todos são
igualmente culpados pela introdução, existência e exercício do pecado no mundo.
Vamos ver as consequências da queda do homem.
Falar dos pontos específicos que constitui o ser e como cada elemento foi
corrompido por este mal. Observando os elementos no homem apontados por Paulo
como corrompidos pelo pecado e as consequências que tais elementos corrompidos
trazem para a vivência.
5.3.
As consequências da queda para o homem
Começamos este capítulo falando da visão de
Paulo sobre o cosmo, como este entendia, em harmonia com as demais Escrituras,
que este é um mundo gentílico, corrompido pelo pecado e inimigo de Deus. No
segundo ponto falamos da universalidade do pecado e como este atingiu a toda
humanidade sem restrição nenhuma, tomando como ponto de convergência a carta de
Paulo aos Romanos. Agora, neste terceiro ponto, iremos mostrar as consequências
do pecado, na visão paulina, no sujeito. Vamos tratar nos dois pontos básicos.
Primeiro sobre o “homem interior”, o nous (mente), o coração com parte no
proceder pecaminoso; e o “homem exterior”, com corpo e membros afetados pelo
pecado.
A princípio precisamos distinguir entre o que é
o “homem interior”, e o que é o “homem exterior”. Podemos usar objetivamente as
palavras de (RIDDERBOS, 2004, pág 122) que resume esses dois conceitos dizendo
que: “a distinção em si é de um significado bastante geral e formal,
descrevendo o lado exterior, visível e físico e o lado interior, invisível e
espiritual da existência humana”. O apóstolo Paulo fala do homem interior e do
homem exterior em suas epístolas, podemos apontar três passagens (Rm 7:22)
“Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus”. Em (Co 4:16)
diz: “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se
corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” Assim como diz em
(Efésios 4:16) “para que segundo as riquezas de sua glória, vos conceda que
sejais robustecidos com poder pelo seu Espírito no homem interior.” Fica
evidente nestes três textos que a distinção entre esses dois aspectos da vida
do homem é algo claro na teologia paulina.
Podemos nos aprofundar um pouco mais no
conceito do homem interior citando (BAVINCK, 2012, pág. 102) que elucida
dizendo que “o homem interior é pessoa real, a entidade espiritual que é
fortalecida pelo poder, por meio do Espírito Santo. Nesta referência está
também incluída a mente, o intelecto (...) O homem interior é também o homem
moral essencial, ou seja, a natureza moral que precisa ser transformada pelo
poder do Espírito”. Já o homem exterior é bem simples de entender já que
corresponde a parte do ser humano, seu corpo, o organismo tangível e visível.
Deixar claro o conceito e diferenciação entre
homem interior e homem exterior é fundamental na compreensão da doutrina do
pecado na visão paulina. Pois com essa definição e distinção podemos ver alguns
pontos onde o homem é afetado diariamente. Primeiro podemos falar do homem
exterior e especificamente do corpo. Paulo parte de uma simples conceituação,
que podemos dizer que seria a parte tangível, organismo visível que podem ser
distinguidos os demais membros.
“Nesse sentido, Paulo fala, por exemplo, de
levar no corpo as marcas de Jesus (Ga. 6:16; cf.2Co. 4:10), entregar o corpo
para ser queimado (1Co. 13:3), do corpo como lugar onde encontra-se a
sexualidade (Rm 14:19; 1Co. 7:4; Rm. 1:24), sobre o corpo como presença pessoal
e física (2Co 10.10). Nesse sentido, o “corpo” muitas vezes é sinônimo de
“carne” na medida em que a carne, algumas vezes, denota apenas a corporalidade
material do homem (cf. por exemplo, Rm 2:28 – circuncisão “na carne”; Cl 2.1,5
– estar presente ou ausente “quanto ao corpo)” RIDDERBOS, 2004, pág. 122).
RIDDERBOS (2004) completa a sua ideia dizendo
que o tempo carne também diz respeito a existência do homem. Fica claro essa
afirmativa quando lemos (Rm 12:1) na expressão “apresenteis os vossos corpos
por sacrifício vivo”, de além de se referir ao que é tangível, o termo carne
também se refere a existência de cada indivíduo em sua subjetividade. Pegando
como o texto citado de (Romanos 12:1) afirmamos que o sacrifício do
corpo, é na verdade uma oferta da nossa existência a Deus.
Então, temos em primeiro lugar a ideia de corpo
como referência a parte tangível do homem, em segundo lugar como sua existência
subjetiva, e em terceiro lugar como a vida humana na terra. Como é dito em
(2Co. 4.10) que ele (Paulo) leva sobre si (no corpo) o morrer de Jesus. Que a
vida de Paulo, sendo assim é caracterizada pela morte de Cristo. Onde fica
evidenciado que o corpo também é o meio pelo qual se age, obedece ou
desobedece, honra ou desonra, se peca e se santifica. A existência caótica e
necessitada da misericórdia de Deus, pode ser resumida no termo corpo, na
teologia paulina, sem a menor dificuldade.
O “Somato” é em quarto lugar, a transitoriedade
da carne. Quando (1Co. 15) que o corpo perece e se danifica com o passar do
tempo, como evidência do pecado residente em nós. Fica elucidado pela
ressurreição de que o homem não tem apenas um corpo, mas ele também é o corpo.
É uma afirmação importante, para que no que diz respeito aos atos, o homem não
se isente de culpa, responsabilizar o “somato” pelos feitos pecaminosos.
O homem interior é descrito, por sua vez, por
uma série de elementos que podem mostrar detalhadamente pelo apóstolo Paulo a
parte material e intangível do homem. O primeiro elemento que podemos destacar,
por uma questão de ordem e não de hierarquia, é a mente. A “nous”, entendimento
diz respeito a capacidade de compreender, “num sentido parecido, nous pode
significar bom senso ou juízo (2 Ts. 2:2)” RIDDERBOS, (2004, PÁG. 125). A capacidade
de compreensão, de ter bom senso ou juízo sobre o mundo que nos cerca, é
apresentado no texto de (Filipenses 4:7) quando Paulo diz que a paz de Deus é
além da nossa capacidade de compreendê-la. Evidenciando assim, que no homem
interior existe algo que é importante que sua capacidade de compreender, julgar
e mensurar a existência de todas as coisas, inclusive a sua própria. Mas, no
entanto, essa existência é limitada.
A mente tem um papel tão importante da antropologia paulina
que este recomenda aos irmãos em (Rm 12.1) que transformem as suas mentes. E
que a renovação do mundo tem como ponto de partida a transformação do
entendimento de cada um que segue a Cristo, com o propósito de discernir qual é
a vontade de Deus. Aqui não é simplesmente onde se encontra o conhecimento
natural de Deus, mas sim a capacidade, ou como diz RIDDERBOS a
“susceptibilidade do homem assimilar a revelação de Deus” (Ridderbos, 2004,
pág. 126). O homem compreende a existência de Deus e a forma de relacionar-se
com ele, com a criação e consigo mesmo. Por isso que, na teologia paulina, o
ponto de partida para a transformação de um modo de vida é pela mudança da
mente.
Significado de Somo
elemento de composição O mesmo que soma e sômato. Etimologia
(origem da palavra somo). Do grego sôma, atos.
A mente precisa ser transformada, pois é nela
que reside toda a autodeterminação do homem, que modela e guia a sua forma de
vida e determina a sua forma de relacionar-se com Deus e todos os demais
elementos da vida que o cerca. Tendo em vista que aqui não só reside a postura
moral, mas também as decisões individuais que norteiam os passos de cada um.
“Para o nosso propósito é suficiente afirmar
que a partir do ponto de vista de uma antropologia teológica, o conceito de “nous”
tem grande importância em Paulo, no sentido d que “o nous” denota por um lado,
o órgão, a possibilidade na qual a revelação de Deus dirige-se ao homem como
ser que pensa e é responsável e, por outro lado, constitui também a descrição
daquilo que o determina mais profundamente em seu pensar e agir, (RIDDERBOS,
2004, pág. 127).
noûs
/nɔws/
substantivo masculino de dois números
FILOSOFIA
1.
para o filósofo grego Anaxágoras (499 a.C.-428
a.C.), princípio cósmico inteligente, eterno e ilimitado, capaz de ordenar os
elementos materiais que compõem o universo.
2.
no platonismo e aristotelismo,
faculdade humana capaz de captar verdades fundamentais por uma via intuitiva,
em oposição aos limites apresentados pelo pensamento meramente calcado na
ciência e na discursividade; intelecto.
Nous (em grego antigo, νοῦς: 'intelecto',
'mente', 'razão'), termo filosófico grego que não possui uma tradução direta
para a língua portuguesa, ...
O segundo elemento que podemos falar da
teologia paulina sobre o homem, é o coração. Do grego Kardia, que tem o
conceito muito próximo ao conceito de “nous” Na teologia paulina, assim como em
todo o Novo Testamento. Kardia (coração) tem basicamente a denotação do ego
humano “em seu pensamento, afeições, aspirações, decisões, tanto no
relacionamento do home com Deus como com ao mundo ao seu redor”. (RIDDERBOS 2002,
pág. 127). Podemos resumir dizendo que o coração seria o homem em sua forma
religiosa e moral.
Temos que compreender até onde existe
aproximação entre “nous” e “kardia” (mente e coração). A conversão que é a
mudança de mente (nous) é a questão que começa no coração (Rm 2:5). Numa
abordagem bem objetiva, podemos dizer que a mente é o ego humano no que diz
respeito ao intelecto e a razão, enquanto que o coração é o ego humano no que
diz respeito as emoções, aspirações e desejos.
O coração está extremamente ligado a Deus, como
diz (Rm 2:12), pois, nela está declarada a Revelação de Deus para o homem. E
mesmo aqueles que não tendo a Lei dão testemunho da Lei por esta estar cravada
em seu coração. Mesmo assim, não podemos dizer que sem a iluminação de Deus, o
homem possui em si tudo que é necessário para agradar e amar a Deus, sem a
revelação. Isso apenas mostra que o homem é indesculpável de suas volições
pecaminosas e que estão distantes da vontade do criador. Paulo fala sobre Israel,
que existe um véu (2 Co 3:15), sobre o coração que afasta o verdadeiro
conhecimento de Deus, impedindo a compreensão da glória de Deus.
Um ponto importante sobre o coração é merecedor
de fechamento desse tópico, é o fato deste ser demonstrado na teologia paulina
como o centro do próprio homem. Segundo RIDDERBOS, o coração é o ponto de
partida do governo de Deus.
Assim, como Deus, por sua revelação declara-se
ao coração do homem como verdadeiro centro do seu ser, assim também esse
coração é o sujeito da resposta do homem a essa revelação, quer seja positiva
ou negativa; sendo que o coração é então sondado, provado e manifesto por Deus
(Rm 8:27; 1 Ts 2:4; 1 Co 4:5) (RIDDERBOS, 2004, pág. 128)
O terceiro elemento que queremos destacar é
compreensão de Alma/Espírito na teologia paulina. Nos antecipamos que nesse
trecho do trabalho não queremos entrar na discussão sistemática entre dicotomia
e tricotomia, mas apenas apresentar na perspectiva paulina o conceito desses
dois termos. Onde Psycke e pneuma (Alma e Espírito) não tem o sentido helenista
de homem imortal, distinguido da soma. Na teologia paulina significa a vida
natural do homem (Rm 11:3; 16,4; Ts 2:8). Nessa perspectiva, quando Paulo se refere
a Alma/Espírito está denotando o homem em sua existência, como em passagens
onde é dito que a graça de Cristo seja o “vosso espírito” (Gl 6:18; Fp. 4:23)
que seria o mesmo que dizer simplesmente “seja convosco”. “Não significa nada
além do homem em sua existência natural interior”. (RIDDERBOS, 2004, pág. 129).
Baseando no que afirmamos, podemos dizer que o
pecado opera na existência humana, que a vida em sua abrangência está
contaminada pelo mal do pecado e compromete a relação do homem com o seu
Criador.
6. Considerações finais
Tendo em vista os aspectos observados,
conclui-se, portanto, que a natureza humana é totalmente corrompida pelo
pecado. Pois, a tendência humana para fazer aquilo que contraria a vontade de
Deus só corrobora sua essência decaída e depravada. Desse modo, como já disse
(WATSON, 2009, pág. 151): “Deus não incute a maldade no homem. Ele retira a
influência de sua graça e, então, o coração se endurece por si só”. Portanto,
uma vida de desobediência, depravação moral, inclinada para fazer o mal e
disposta a todo tipo de rebelião contra Deus só reforça a existência do abismo
estabelecido entre perdição e vida eterna.
Outro aspecto interessante é que, embora criado
a imagem e semelhança de Deus, ainda assim, - como consequência da queda -, não
podemos negar o fato de que o homem seja predisposto ao pecado (Rm 7:19). Nossa
vontade pecaminosa só pende para os desejos de nossa carne, demonstrando assim,
a total inaptidão do homem para buscar a Deus sem a influência da graça
redentora. Ademais, a salvação pela graça de Deus só reforça a verdade quanto à
incapacidade humana de alcançar o favor divino mediante os seus próprios
méritos (Ef. 2:8). Em razão disso, sou inclinado a concordar com (BAXTER, 2007,
pág103), que ao falar sobre o assunto disse o seguinte: “...que merecido seja
escrito no chão do inverno, mas na porta do céu: dom gratuito”.
Não se pode esquecer também que, ao dizer que
estamos mortos em nossos delitos e pecados (Ef. 2:1), o apóstolo Paulo, mais
uma vez, está revelando a verdade referente à Depravação Total do homem. Pois,
em linhas gerais a Bíblia afirma que todos os homens nascem em pecado (Sl.
51:5), que não temos justiça em nós mesmos (Rm. 3:10), que não buscamos Deus
mediante nossa própria vontade (Rm 3:11), e que o coração humano, isto é, a
origem de suas vontades, é totalmente entregue a idolatria e enganoso por
natureza (Jr. 17:9).
Por fim, ao fazermos um contraste entre
depravação e salvação, concluímos que, a salvação pela graça indica que o
fundamento de nossa salvação está em Deus, e não no homem. A Bíblia diz que
Deus nos deu a vida estando nós mortos nos nossos delitos e pecados (Ef. 2:1).
Portanto, de acordo com (PINK, 1977, pág. 112 e 113), da mesma forma que a
gravidade, de acordo com a sua lei, só leva um objeto para baixo, assim também,
para que o homem se levante do lamaçal do pecado, é preciso que uma força
externa o faça subir. E, essa é a relação de Deus com o homem. Pois, enquanto o
poder divino o sustenta, ele é impedido de afundar cada vez mais no pecado;
todavia, retirado esse poder, o homem cai. Ou seja -, o seu próprio pecado o
afunda.
Reconhecemos que o pecado corrompeu toda a
criação, dentre os quais, também o homem que fora feito à imagem e semelhança
de Deus (Gn. 1:26). No entanto, a salvação pela graça transforma o ser humano
em uma nossa criatura. Em decorrência disso, um ser outrora depravado e morto
nos delitos e pecados, passa então a ter prazer em cumprir a Lei de Deus,
tendo-a como orientação. Um pecador condenado tem a Lei de Deus como regra de
condenação, mas, um pecador regenerado encontra na Lei de Deus ensinos de
gratidão.
SOLI
DEO GLÓRIA!
Soli Deo gloria (do Latim: Glória somente a
Deus) é o princípio segundo o qual toda a glória é devida a Deus por si
só, uma vez que salvação é efetuada exclusivamente através de sua vontade e
ação.
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Realmente um artigo de Mestre, uma grande obra à dispsição dos amantes da Bíblia e da Teologia. Parabéns
ResponderExcluirminha ratidão pela palavras incentivadoras. Deus o abençoe.
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